O Open Finance vem consolidando uma nova era no sistema financeiro brasileiro, movendo bancos, fintechs e cooperativas para um modelo de negócios centrado em dados, interoperabilidade e experiência do cliente. O que começou, lá em fevereiro de 2021, como uma exigência regulatória do Banco Central rapidamente se transformou em uma agenda estratégica de transformação digital. Para as cooperativas de crédito, esse movimento representa tanto uma oportunidade de crescimento quanto um enorme desafio técnico e cultural.
A integração com o ecossistema do Open Finance exige das cooperativas um salto tecnológico significativo. É preciso adequar sistemas legados, adotar APIs padronizadas e garantir segurança e disponibilidade de dados em escala, em um ambiente onde o volume de requisições cresce exponencialmente. Segundo dados da FEBRABAN, o Brasil superou a marca de 62 milhões de consentimentos ativos em 2025, segundo levantamento divulgado no começo do ano, um aumento de 44% em 12 meses.
As chamadas de API, por sua vez, ultrapassavam 11 bilhões por mês em outubro de 2024, o que naquela época já evidenciava a maturidade e a velocidade de expansão desse ecossistema. Para as cooperativas, isso significa operar em um novo patamar de complexidade, com prazos regulatórios apertados e exigências técnicas detalhadas definidas pelo Banco Central.
A grande diferença entre bancos tradicionais e cooperativas de crédito está na estrutura e na capacidade de investimento. Além disso, sua estrutura descentralizada torna o processo de padronização mais desafiador: cada cooperativa possui um nível diferente de maturidade tecnológica, o que exige soluções escaláveis e adaptáveis à realidade de cada uma. Mas o maior desafio talvez não seja técnico, mas sim cultural. O cooperativismo sempre se apoiou em valores de proximidade e propósito social. Agora, precisa incorporar à sua essência a mentalidade ágil e a inovação contínua, sem perder aquilo que o diferencia: o relacionamento humano.
Por outro lado, o Open Finance abre espaço para que as cooperativas reforcem justamente esse diferencial. Ao oferecer ao associado uma jornada digital fluida e integrada, é possível aumentar a confiança, a transparência e a fidelização. A consolidação de dados financeiros de diferentes instituições permite decisões mais assertivas, e o uso inteligente dessas informações possibilita personalizar produtos e serviços com base nas reais necessidades de cada cooperado. Com uma visão 360 graus do cliente, as cooperativas podem oferecer crédito mais justo, investimentos sob medida e até prever demandas financeiras antes que o associado manifeste interesse. Trata-se de unir propósito e tecnologia para fortalecer o vínculo com o cooperado.
Nesse processo de modernização, o papel de parceiros tecnológicos se torna decisivo. Com a minha expertise de mais de 15 anos na DB1 Global Software, unidade do DB1 Group, temos apoiado cooperativas de todo o país na implementação das fases do Open Finance, com soluções que aceleram a adequação regulatória e reduzem custos operacionais. Nosso motor de autorização e consentimento, por exemplo, simplifica a gestão de tokens e autorizações, enquanto o conjunto de APIs regulatórias prontas encurta o tempo de desenvolvimento e integração. Além disso, nossas soluções de produtos financeiros para Open Finance permitem às cooperativas explorar casos de uso como portabilidade de crédito, transferências inteligentes e jornadas digitais sem redirecionamento, oferecendo ao cooperado experiências equivalentes às das grandes instituições financeiras.
O diferencial tem sido entender o ecossistema cooperativo por dentro, isso em cooperativas de todos os tamanhos, como Sicoob, Sisprime, Uniprime e Cecred. Essa experiência nos permite entregar implementações completas do regulatório em até um terço do tempo em comparação a projetos desenvolvidos do zero, impactando diretamente o custo e o tempo de resposta das cooperativas. Ao assumir a complexidade tecnológica e regulatória, deixamos que as cooperativas mantenham o foco em seu verdadeiro core business: o relacionamento com o cooperado e o fortalecimento do propósito coletivo.
Os resultados já começam a aparecer. O setor cooperativo, que hoje soma ativos de R$ 885 bilhões e mais de 19 milhões de cooperados, segundo dados divulgados pelo Banco Central em 2024, se tornando cada vez mais relevante no sistema financeiro nacional. Com o Open Finance, esse protagonismo tende a se ampliar. Nos próximos anos, veremos cooperativas mais competitivas, oferecendo produtos personalizados e experiências digitais modernas. A integração de dados e a automação de processos também devem reduzir custos operacionais e acelerar a tomada de decisões, criando um ciclo virtuoso de eficiência e inovação.
Olhando para o futuro, tecnologias como inteligência artificial, APIs avançadas, blockchain e analytics têm potencial de ampliar ainda mais o impacto do Open Finance, trazendo segurança, personalização e agilidade inéditas. Mas, mais do que tecnologia, o que o Open Finance exige é uma nova forma de pensar: a capacidade de transformar desafios regulatórios em diferenciais competitivos. E é justamente essa visão que guia nosso trabalho: conectar estratégia e tecnologia para que as cooperativas prosperem, mantendo vivo o propósito que as trouxe até aqui.
David Santos é CEO da DB1 Global Software, unidade do DB1 Group, e possui mais de 15 anos de experiência em tecnologia, transformação digital e gestão ágil












