Imagine a cooperativa como uma ponte que conecta sonhos a realidades. Nela trafegam esperanças, histórias de superação e projetos que transformam comunidades inteiras. Mas essa ponte, por mais sólida que pareça, pode desmoronar silenciosamente quando atingida por algo que não se vê a olho nu: a perda através da fraude.
O cooperativismo de crédito no Brasil vive um momento de ascensão incrível. São mais de 17 milhões de pessoas físicas e jurídicas cooperadas, em uma rede que já alcança mais de 60% dos municípios brasileiros, com agências espalhadas e atuantes. Esses números, embora motivo de orgulho, trazem consigo uma responsabilidade ainda maior: proteger esse ecossistema daquilo que ameaça sua essência mais valiosa: a confiança.
Sim, as fraudes estão crescendo. E elas são mais sofisticadas, mais rápidas e mais impactantes do que há poucos anos. Quando uma cooperativa é vítima de uma fraude, o que se perde não é apenas dinheiro. Perde-se reputação. Perde-se comercialmente o vínculo com o cooperado. Perde-se, muitas vezes, a chance de continuar crescendo com saúde e sustentabilidade.
O que torna esse cenário ainda mais preocupante é a forma como muitas cooperativas tratam o tema: como se fosse algo distante, improvável, reservado apenas às grandes instituições financeiras ou aos jornais de domingo. A realidade é outra. As fraudes operacionais, de crédito, documentais, digitais e até internas, estão cada vez mais presentes – e em muitos casos, operam dentro da rotina da cooperativa, sem levantar suspeitas por longos períodos.
Combater essa realidade exige mais do que tecnologia. Exige uma forte mudança de mentalidade. Prevenção de fraudes não é apenas implementar sistemas – é criar cultura. Uma cultura de integridade, de governança inteligente, de processos robustos e de liderança comprometida e consciente.
Durante anos, auditei cooperativas de crédito e sei onde estão as oportunidades e as vulnerabilidades, mesmo em um ambiente fortemente regulado pelo Banco Central do Brasil. Pessoas capacitadas, processos claros, auditorias atuantes, tecnologia bem aplicada e indicadores eficientes, formam um ecossistema de prevenção. Um ambiente onde fraudes não têm espaço para florescer.
Mas é preciso mais. É necessário coragem para expor vulnerabilidades, investir em governança, encarar a prevenção como uma prioridade estratégica – e não como um custo a ser evitado. O retorno desse investimento, posso afirmar, é certo: redução de perdas, aumento da eficiência operacional e, sobretudo, fortalecimento da confiança entre cooperativa e cooperado.
Porque, no fim das contas, uma cooperativa é tão forte quanto sua capacidade de inspirar e manter a confiança dos cooperados e todos os demais. E essa confiança não se conquista apenas com taxas atrativas ou campanhas bonitas na televisão com cantores, atletas e atores. Ela se sustenta na governança. E governança se constrói com inteligência, estrutura e ação.
Prevenir fraudes não é sobre desconfiar das pessoas. É sobre confiar nos processos, que são soberanos. E sobre entender que proteger a cooperativa é proteger o futuro de milhares de famílias, negócios e comunidades, um impacto em todos os stakeholders.
Esse é o momento. O risco está aí. Mas a resposta também está. Ela começa com uma decisão: colocar a prevenção de perdas no centro da estratégia.
Anderson Osawa é CEO da AOsawa Consultoria