O título ecoa a composição de Dorival Caymmi, “O que é que a baiana tem”, que, na voz Carmen Miranda teve importante participação numa leva de produções que contribuíram para o Brasil ser conhecido como um paraíso tropical, do samba, do futebol e do estilo praiano. Para o bem ou para o mal, contribuiu fortemente para o marketing internacional do país. Mas o Brasil é muito mais que isso, e a Amazônia é um grande exemplo da diversidade aqui existente.
É importante mencionar que não sou nativo da Amazônia nem especialista na região, o que me aproxima mais de você, leitora ou leitor. Contudo tive oportunidades de conhecer um pouco da região desenvolvendo atividades para a internacionalização de empresas e organizações locais. Assim, falo da Amazônia com cautela e respeito, pois não se trata de uma região qualquer. É um local que pode ser entendido como “sagrado”, tanto ambientalmente como mercadologicamente.
A Amazônia, como região, tem 7 milhões de quilômetros quadrados (o Brasil tem 8,5) e se estende por vários países da América do Sul. Estima-se que representa metade das florestas tropicais do mundo e, como bioma, constitui quase metade do território brasileiro. Além disso, produções audiovisuais pelo mundo afora costumam abordar a Amazônia como um local em contextos de aventura e descobertas. Sua importância também foi frisada na Cúpula Amazônica recentemente realizada e deve ser enfatizada na COP 30. Não é por acaso que a região preenche o imaginário do público estrangeiro e desperta seu interesse, o que pode ser muito bom para a internacionalização de negócios locais.
Minha primeira experiência na região foi em 2015 para construção das bases do Story Telling do segmento do projeto Brasil Sweets and Snacks, uma parceria entre a ABICAB e a ApexBrasil. Um dos objetivos foi mostrar que o cacau que tem origem na Amazônia segundo o Museu do Chocolate localizado em Colônia, Alemanha. Quem me conduziu e apresentou as oportunidades na região foi Cassandra Lobato responsável por toda a área técnica e estratégica do CIN no Estado do Pará.
Ela me apresentou grandes oportunidades existentes não somente no Estado, mas em toda região amazônica. Contou um pouco da história e das lendas dos povos amazônicos que podem fornecer bases para construção de marcas e descritivos de empreendimentos em sintonia com o interesse internacional. O açaí é um dos exemplos que dá concretude a isso, tendo se tornado um elemento global fazendo parte de produtos de vários segmentos, de alimentícios a cosméticos.
Mas os exemplos não param por aí. A assídua continuidade de atividades focando internacionalização apresentaram-me diversos empreendimentos que se mostraram exemplares. Empresas, sobretudo pequenas e médias, demonstram que produtos genuinamente amazônicos e brasileiros podem ter sucesso nos mercados internacionais.
Exemplo disso, é a empresa Manawara, situada nas cercanias de Manaus. Com ela realizei mentorias para internacionalização através do projeto Brasil Sweets and Snacks. As mentorias resultaram na primeira participação da empresa na feira ANUGA. Segundo o empreendedor Mércio Sena, os produtos despertaram grande interesse internacional tanto pela qualidade quanto pela construção da marca que se alicerça em elementos locais, E.S.G. e interação com os povos originários.
A empresa produz balas de goma de várias frutas amazônicas, guaraná de maués, óleo de castanha do Brasil, tapioca entre outros itens típicos. Outras empresas com o mesmo foco participaram do processo com a mesma preocupação. Também na Amazônia, na região de Altamira, a fazenda Panorama, representada por Eunice Gutzeit produz cacau diferenciado e foca na produção de chocolate diferenciado.
O ciclo de contatos e visitas à região teve sua última atividade no Acre, através de um treinamento para comunicação internacional da Think Global para a ANAC – Agência de Negócios do Estado do Acre. Além das oportunidades únicas que a Amazônia oferece, praticamente todas as pessoas com quem interagi, desde o governo até os empresários, demonstraram uma capacidade natural de receber bem os visitantes, o que constitui as bases do que chamamos de inteligência cultural.
A presidente da organização, Waleska Bezerra, demonstrou forte interesse na internacionalização das empresas locais, e me presenteou com um pacote contendo diversos produtos locais como chocolate, biscoitos (ou bolachas para paulistanos) até a farinha de mandioca típica da região, produtos que certamente lembrarei nas oportunidades de divulgação internacional. Senti que não apenas prestei um serviço, mas iniciei um relacionamento, o que foi reforçado pelo acompanhamento e apresentação dos potenciais do Estado pela gestora Glenda Menezes.
Os diferenciais deste enorme território podem seguir o caminho do açaí e conquistar o mundo. É o que acredita o Diretor da ABIMAPI Internacional, Rodrigo Iglesias que menciona o cumaru como a baunilha brasileira, já trabalhado por cooperativas brasileiras. Segundo ele, o fruto amazônico pode ser aplicado em bolachas, bolos, balas e diversos produtos tanto como ingrediente como elemento simbólico a compor marcas que remetam à região. Contudo, lembra que infraestrutura e atenção às práticas E.S.G. devem ser consideradas.
Mesmo tendo me estendido, não é possível responder “O que é que a Amazônia tem?” em sua plenitude. Desde o século XVI, em busca do chamado “El Dorado”, os europeus já buscavam uma resposta para essa pergunta. Se aventuraram na região e lhe deram o nome por associar guerreiras locais às amazonas gregas. Seu nome original passaria longe da Grécia e o “El Dorado” talvez esteja materializado numa infinitude de possibilidades, quiçá, mais valiosas que ouro.
*Rodrigo Solano é Especialista em Internacionalização
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