Enquanto o mercado financeiro tradicional, como os grandes bancos, se lança em uma corrida frenética pela implementação da Inteligência Artificial, as cooperativas também estão navegando na mesma onda de inovação. Todavia, a chegada da IA para o setor cooperativista não significa o fim da interação humana, pilar fundamental que as sustenta, mas sim uma oportunidade de humanizá-lo na era digital.
No cooperativismo, a essência reside na união de pessoas em torno de um objetivo comum, em que os membros são donos ao mesmo tempo que usuários. Essa estrutura própria exige um nível de confiança, transparência e relacionamento que é construído e nutrido, em grande parte, por meio do contato direto. E é nas agências físicas, nas reuniões de conselho, nas assembleias e nos eventos comunitários que a verdadeira força do cooperativismo se manifesta.
Com isso, vem à tona o termo “Phygital”, um conceito em que o físico e o digital se conectam para transformar a experiência do usuário. Enquanto a IA fica responsável por cuidar da eficiência e da automação, os colaboradores podem se dedicar ao que realmente importa: o relacionamento próximo e confiável com o cooperado.
Em um mundo cada vez mais digitalizado, a capacidade de olhar nos olhos, de apertar uma mão e de ter uma conversa genuína se torna um diferencial inestimável. E o uso da tecnologia pode ser um verdadeiro aliado nesse processo. A capacidade de oferecer um atendimento personalizado, construir relacionamentos duradouros e fomentar um senso de comunidade por meio do digital é capaz de diferenciar as cooperativas no mercado cada vez mais virtual.
Um exemplo disso é um gerente de conta, que conhece a história do cooperado, entende suas necessidades e aspirações, que pode oferecer um conselho financeiro personalizado e empático, e constrói um vínculo muito mais forte do que qualquer algoritmo. Essa proximidade permite que as cooperativas entendam profundamente as realidades locais e as demandas específicas de seus membros, adaptando seus produtos e serviços de forma mais eficaz.
A IA tem se mostrado capaz de agilizar o “como” e o “porquê”, ainda que o “quem” continue a ser definido e fortalecido no contato humano. Especialmente para aqueles que vivem em comunidades menores ou que não têm plena familiaridade com as tecnologias digitais, a presença física da cooperativa e de seus colaboradores ainda é um porto seguro. Porém, a ascensão do uso de IA para otimizar processos internos e oferecer conveniência digital, somada à interação física, complementa e enriquece a experiência do cooperado.
Sim, o jogo começou – mas, no cooperativismo, a vitória está em apostar no equilíbrio entre a inovação tecnológica e a força da conexão humana.
Wagner Martin é VP de Relações Institucionais da Veritran no Brasil e possui mais de 20 anos de experiência no setor de tecnologia financeira, com amplo conhecimento de meios de pagamentos e moedas digitais, como Pix e Drex, Open Finance, cibersegurança, operações de vendas e pós-venda, entre outros.












