A instabilidade deixou de ser exceção e passou a fazer parte da rotina dos negócios. Crises econômicas, transformações tecnológicas abruptas e mudanças de comportamento têm redesenhado, a cada ano, o papel da liderança nas organizações. Se antes esperava-se do líder previsibilidade e controle, hoje ele é chamado a inspirar segurança mesmo quando o caminho é incerto.
O World Economic Forum aponta que 80% dos executivos consideram os últimos três anos os mais desafiadores de suas carreiras — e sete em cada dez acreditam que a imprevisibilidade tende a aumentar até o final da década. Nesse contexto, liderar deixou de ser um exercício de autoridade e passou a ser um ato de coerência: o líder que não tem todas as respostas precisa, ainda assim, transmitir clareza e propósito.
A Deloitte, em seu relatório Global Human Capital Trends 2024, mostra que 94% das empresas estão revendo seus modelos de liderança para priorizar habilidades humanas, como empatia, escuta ativa e colaboração. É uma mudança de paradigma: as organizações que se sustentam diante da incerteza não são as que centralizam o controle, mas as que constroem confiança.
O desafio está em liderar com base em dados sem perder o senso de humanidade. A Harvard Business Review aponta que, em períodos de crise, colaboradores tendem a buscar seus líderes diretos — e não apenas a alta gestão — para entender prioridades e encontrar estabilidade emocional. Ou seja, a confiança se tornou o ativo mais valioso de uma empresa em tempos voláteis.
Essa confiança, porém, não se constrói com discursos prontos. Ela nasce da coerência entre o que o líder comunica e o que ele pratica. Admitir que não há todas as respostas é um gesto de maturidade, não de fraqueza. Quando o líder é transparente sobre os riscos e compartilha o raciocínio por trás de suas decisões, ele fortalece o vínculo com o time e amplia o senso de pertencimento.
A Spencer Stuart mostra que 78% dos CEOs e diretores globais consideram cultura organizacional e engajamento mais determinantes para a resiliência empresarial do que fatores externos, como economia ou política. Isso revela que, mesmo em contextos imprevisíveis, há elementos controláveis — e o principal deles é a cultura que o líder ajuda a construir.
A agilidade também ganha papel central. O relatório Business Agility Report 2024 mostra que empresas que aprimoraram sua capacidade de adaptação tiveram crescimento médio de 31% na produtividade por colaborador. Mas agilidade não é velocidade. É a habilidade de ajustar o rumo sem perder o propósito. Organizações que cultivam aprendizado contínuo, descentralizam decisões e permitem que seus times experimentem e errem com responsabilidade, tornam-se mais preparadas para o imprevisível.
A liderança contemporânea exige, portanto, uma nova combinação de competências. É preciso unir o raciocínio analítico à sensibilidade humana, a firmeza estratégica à flexibilidade emocional. Em um cenário de incerteza, as respostas rápidas importam menos do que as perguntas certas. E o verdadeiro papel do líder é criar o ambiente onde essas perguntas possam surgir com segurança e propósito.
Liderar em tempos incertos é aceitar que o controle é ilusório, mas a coerência é real. É compreender que a clareza de valores e a confiança construída no dia a dia são os únicos mapas possíveis em um terreno que muda constantemente. As empresas que entenderem isso não apenas sobreviverão às transformações — elas serão as que as conduzirão.
Carolina Cabral iniciou sua trajetória na Nimbi como estagiária e, com dedicação e visão estratégica, percorreu diferentes áreas até se tornar CEO, cargo que ocupa há quase quatro anos. Nesse período, liderou movimentos estratégicos como M&As com Deloitte e BDO, fortaleceu a cultura organizacional, implantou práticas sólidas de governança e transformou a companhia em referência nacional em tecnologia para Procurement, conquistando reconhecimentos como GPTW e Lugar Incrível para Trabalhar. Hoje, é exemplo de liderança inspiradora e integra o clube Empreendedores, do portal Administradores, que conecta líderes em busca de impacto nos negócios.
Carolina Cabral é CEO da Nimbi