Você já se viu numa situação em que desejaria estar em vários lugares ao mesmo tempo? Ainda não podemos fazer isso, mas hoje há maneiras de construir e gerir equipes remotas que eliminam a barreira geográfica em nossas operações. Neste artigo, compartilho com você a minha experiência com gestão de equipes em diferentes locais de maneira eficaz.
Mas antes é importante refletir sobre o porquê de muitos empreendedores só conseguirem ter sucesso com times que estão ao alcance dos olhos? Ou seja, negócios onde “o olho do dono engorda o boi” e, portanto, todos estão num raio de 50 metros, ao alcance da visão.
Esse tipo de gestão funciona bem com negócios de pequeno porte porque é palpável, mas enfrenta dificuldades quando se trata de construir empresas com mais de uma localização.
Prós do modelo presencial ou híbrido
Controle e comunicação direta: em ambientes presenciais, a proximidade física entre os colaboradores e líderes facilita uma comunicação direta e eficiente. Isso se reflete na rapidez com que os problemas são identificados e resolvidos, além de permitir uma maior sinergia e colaboração entre as equipes.
Motivação e cultura organizacional: uma pesquisa do Gallup sobre o local de trabalho revelou que os colaboradores que têm interações frequentes com seus gestores são mais engajados. Empresas como a Pixar projetaram seus espaços de trabalho para promover encontros casuais entre funcionários de diferentes departamentos, acreditando que isso fomenta a criatividade e a inovação.
Resolução rápida de problemas: um estudo de caso da Toyota ilustra a eficácia da resolução de problemas no local de trabalho presencial. A filosofia “Genchi Genbutsu”, que significa “ir e ver”, enfatiza a importância de observar os problemas de perto para encontrar as melhores soluções. Essa abordagem é facilitada no modelo de trabalho presencial, em que os gestores podem imediatamente avaliar e responder às questões que surgem.
Contras do Modelo Presencial ou Híbrido
Limitação no crescimento e expansão: a história da Blockbuster oferece um contraponto significativo. A empresa, outrora líder de mercado em locação de filmes, falhou em se adaptar à nova realidade digital e expandir além de suas lojas físicas, perdendo espaço para concorrentes como a Netflix, que apostou no streaming e na ausência de limites geográficos para crescer.
Custos operacionais elevados: a manutenção de escritórios físicos representa um custo significativo para as empresas. Um relatório da Deloitte aponta que a redução do espaço físico pode levar a economias substanciais. Por exemplo, a IBM conseguiu economizar cerca de 50 milhões de dólares ao ano ao implementar políticas de trabalho remoto antes da pandemia de COVID-19. Faça as contas você mesmo: quanto economizaria se não precisasse acomodar todos os seus funcionários de escritório? Não só em espaço físico, mobiliário e equipamentos, mas também em energia, insumos (café, material de limpeza) etc.?
Rigidez e menor diversidade de talentos: a exigência de presença física limita a capacidade das empresas de atrair talentos globais. A Zapier, uma empresa que opera totalmente remota, destaca-se por sua capacidade de contratar os melhores talentos independente de sua localização geográfica, ilustrando como o trabalho remoto pode expandir as possibilidades de contratação e, consequentemente, de crescimento.
O modelo de trabalho remoto
O modelo de trabalho remoto trouxe uma revolução na maneira como as empresas estruturam as suas operações, oferecendo uma flexibilidade sem precedentes e a oportunidade de acessar um pool de talentos global.
A seguir, apresento alguns prós e contras deste modelo, ilustrados com exemplos e soluções práticas para os desafios.
Vantagens do Trabalho Remoto
Escalabilidade: além da Nasajon e da Zapier, empresas como a Automattic, criadora do WordPress, operam quase inteiramente de forma remota, com funcionários espalhados em diversos locais, o que permite à empresa adaptar-se rapidamente a novas oportunidades de mercado, sem as limitações geográficas impostas pelo modelo presencial ou híbrido.
Acesso a um pool de talentos mais amplo: a GitLab, com sua equipe distribuída em mais de 65 países, exemplifica como o trabalho remoto pode acessar talentos globais. Isso enriquece a empresa com uma diversidade de perspectivas e habilidades que seriam difíceis de alcançar com uma abordagem de contratação local.
Redução de custos: um dos benefícios mais tangíveis do trabalho remoto é a significativa redução de custos operacionais para as empresas. Sem a necessidade de manter um grande espaço físico de escritório, as organizações podem economizar em aluguel, utilidades (como energia elétrica e água), manutenção, segurança e outros custos associados à gestão de um imóvel comercial.
Além disso, há uma redução nos custos de deslocamento para os funcionários, o que não apenas economiza dinheiro, mas também tempo, contribuindo para um aumento no bem-estar geral e na produtividade.
Esse modelo também oferece a vantagem de potencialmente reduzir as despesas com viagens de negócios, já que reuniões podem ser conduzidas virtualmente.
Portanto, a transição para o trabalho remoto pode representar uma estratégia de redução de custos altamente eficaz, beneficiando tanto a empresa quanto seus colaboradores.
Desafios do trabalho remoto
Menor rastreabilidade: a supervisão direta das atividades diárias dos funcionários é mais desafiadora. Na minha empresa, que opera totalmente de forma remota, utilizamos ferramentas como o Trello e o Slack para manter a organização e a comunicação em tempo real, ajudando a superar esse desafio.
Conexão emocional reduzida e sensação de isolamento: a Basecamp, conhecida por sua cultura de trabalho remoto bem-sucedida, enfatiza a importância de reuniões presenciais regulares e eventos de equipe para construir laços fortes e prevenir o isolamento. A empresa organiza retiros anuais onde a equipe se encontra pessoalmente para fortalecer a conexão emocional.
Dificuldade em criar uma cultura organizacional comum: a empresa de software InVision, totalmente remota, investe significativamente em comunicação interna e ferramentas de colaboração para assegurar que todos estejam alinhados com a missão, os valores e a cultura da empresa. Eventos virtuais e programas de integração ajudam a reforçar a cultura organizacional.
Soluções para os desafios
Promover encontros presenciais: na Nasajon, organizamos encontros regionais um par de vezes ao ano para ajudar a superar a barreira da distância, promovendo um senso de pertencimento e melhorando a conexão entre os membros da equipe.
Investir em ferramentas de comunicação e colaboração: ferramentas como Zoom, Slack, Google chat ou Microsoft Teams são úteis para manter a comunicação fluída e assegurar que todos os membros da equipe estão engajados e informados.
Criação de espaços virtuais para socialização: incentivamos a criação de canais de bate-papo não relacionados ao trabalho, eventos virtuais como happy hours e jogos online podem ajudar a mitigar o sentimento de isolamento.
Desenvolver programas de onboarding virtuais: um dos maiores méritos do nosso RH é garantir que os novos contratados sintam-se bem-vindos e acolhidos como parte da equipe desde o início. Isso inclui mentorias, reuniões regulares de check-in e acesso fácil a recursos e informações da empresa.
O modelo de trabalho remoto, embora desafiador, oferece uma oportunidade única para as empresas crescerem e se adaptarem ao futuro do trabalho.
Com estratégias e ferramentas adequadas, os desafios podem ser mitigados, permitindo que as organizações aproveitem ao máximo os benefícios que o trabalho remoto tem a oferecer.
A jornada para o remoto: controle, delegação e responsabilização.
Nos primeiros 10 anos da minha empresa, meu foco era construir dentro do “raio de 50m” porque eu buscava controle. Ao longo do tempo, contudo, aprendi que estava limitando o meu crescimento e passei a buscar estratégias para gerir equipes remotamente.
Algumas soluções incluíram a contratação de “delegados”, que hoje são gerentes, supervisores e até diretores, a quem eu literalmente delego parte do trabalho e cobro resultados. Nessa etapa, eu também fazia visitas periódicas aos “fronts”, mantinha reuniões mensais para avaliação dos resultados das equipes e pedia relatórios periódicos para acompanhar o andamento dos trabalhos.
Com a pandemia, veio o home-office e tive que aprender a gerir times 100% remotos, uma espécie de “próximo nível” na gestão a distância.
No início foi bem difícil. Primeiro porque a turma não estava treinada para trabalhar nessa modalidade. Segundo porque não tínhamos a estrutura necessária. Muitos funcionários faziam reuniões no banheiro, porque era o único ambiente mais ou menos silencioso e com fundo mais ou menos liso (dava para ver a cortina do chuveiro, mas era melhor do que o varal ou a cozinha).
Com o tempo fomos evoluindo, os problemas foram corrigidos e as pessoas foram se adaptando à nova situação. Construímos juntos uma “nova cultura” que prevalece até hoje.
A eficácia da liderança remota depende muito da capacidade de comunicação, da rastreabilidade das tarefas e do uso de ferramentas adequadas, seja para gestão, seja para comunicação e treinamento.
Passados alguns meses, havíamos resolvido a questão da comunicação providenciando internet de boa qualidade para todos, filtros que permitiam participar de reuniões, mesmo sem um fundo adequado (hoje substituídos pelos “fundos virtuais” que praticamente qualquer plataforma de videoconferência oferece) e, ao perceberem que a migração para o remoto era definitiva, a maioria ajustou seus ambientes ou mudou-se para onde poderiam ter um “home office” decente.
Também criamos boletins informativos e agendamos reuniões de acompanhamento diárias para as equipes, setores e gestão de resultados.
O resultado tangível é que, nos últimos 4 anos, adotando de forma definitiva o modelo de trabalho remoto, a Nasajon bateu todos os recordes de produtividade, rentabilidade e satisfação (interna e externa) dos nossos mais de 41 anos de história.
Então, para aqueles que ainda não conseguem se duplicar em vários lugares, passar de um líder “50 metros” para um líder remoto pode significar ter um negócio nacional ou até internacional, pela capacidade de responsabilizar as pessoas pelos resultados, em vez de pelas horas trabalhadas.
*Claudio Nasajon é Fundador da Nasajon
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