Tenho a sensação, e às vezes a certeza, de que estamos vivendo um daqueles momentos que marcam gerações, em que a tecnologia, especialmente a inteligência artificial, deixa de ser uma promessa distante e passa a fazer parte do nosso cotidiano, influenciando desde as decisões de consumo até a forma como nos relacionamos. Trazendo para a minha realidade, no dia a dia do cooperativismo, essa revolução não é uma ameaça, mas um convite para repensar como inovar sem perder o sentido de comunidade, tão essencial para o ato de cooperar.
Ainda mais neste Ano Internacional do Cooperativismo, celebrado em 2025, essa realidade se torna um ponto de interrogação acompanhado de uma oportunidade: refletir sobre o equilíbrio entre avanço tecnológico e essência humana. Não se trata de escolher entre tradição e inovação, mas de descobrir como uma pode potencializar a outra. Afinal, de que forma podemos garantir que a tecnologia continue servindo às pessoas e não o contrário?
Tive a honra de estar presente no World Coop Management (WCM 2025) e constatar que a tecnologia não só pode, como é nossa grande aliada também para o cooperativismo. Ferramentas de IA já ajudam a otimizar processos, melhorar a governança e ampliar o alcance das cooperativas. Mas acredito que o uso responsável da IA deve estar sempre aliado à consciência e ao cuidado humano.
Um ponto que me inspira é observar a Geração Z, que traz novos olhares sobre trabalho, propósito e tecnologia. Eles buscam sentido no que fazem, valorizam a colaboração e enxergam a inovação como ponte para o impacto positivo. Em muitos aspectos, eles pensam e agem de forma cooperativa. Mesmo que, às vezes, sem usar esse nome.
Essa convergência entre gerações, propósito e tecnologia reforça o papel do cooperativismo como modelo de futuro. Temos o conhecimento coletivo e a base de confiança necessários para construir um novo tipo de desenvolvimento, cada vez mais participativo, sustentável e conectado com as demandas da sociedade digital.
O evento deste ano deixou uma mensagem clara: valores e essência não se negociam. Para nós, isso significa fortalecer ainda mais a cultura cooperativista, baseada em confiança, colaboração e propósito comum. A tecnologia pode mudar tudo, menos quem somos.
Posso afirmar que estamos vivendo um tempo de reencontro entre o humano e o digital. Quando a inteligência artificial se une à inteligência emocional, surge um novo tipo de progresso: aquele que não apenas transforma o mercado, mas também transforma pessoas. E é justamente isso que o cooperativismo sempre soube fazer melhor.
Lenine Marangoni é Diretor de Operações Estratégicas da Coopercompany












