À medida que nos aproximamos de 2026, o setor de cibersegurança avança para um momento com menos euforia e mais maturidade tecnológica, já que este foi um ano em que algumas promessas grandiosas não se cumpriram, e isso, longe de ser um fracasso, abriu espaço para uma compreensão mais realista sobre o que de fato protege uma organização em um cenário onde ameaças crescem mais rápido que modismos.
Um dos maiores equívocos de 2025 foi a crença de que a simples adoção massiva de automações e soluções “autônomas” resolveria, por si só, os grandes problemas de segurança. Muitas empresas apostaram que ferramentas com IA conseguiriam detectar e responder a ataques sem esforço humano. Mas a realidade foi outra, já que o aumento de ataques sofisticados mostrou que modelos de IA exigem ajustes constantes, dados de qualidade e supervisão humana experiente. O que vimos foram automações que sem governança, geraram ruídos, alertas falsos e pontos cegos perigosos. A ausência de equipes preparadas para interpretar e calibrar essas tecnologias impediu que boa parte das expectativas se concretizasse.
Também houve a expectativa que focar apenas na migração para infraestruturas híbridas e distribuídas seria suficiente para entregar resiliência. As organizações, de fato, tiveram sucesso, mas a complexidade cresceu mais rápido que a capacidade de administrá-la. Houve um aumento significativo de ataques explorando configurações incoerentes entre ambientes, zonas mal definidas e identidades replicadas sem governança adequada. Ou seja, o movimento para a nuvem não falhou, o que falhou foi a suposição de que o simples fato de “estar na nuvem” seria igual a “estar seguro”.
Já a surpresa de 2025 foi o fator humano voltando ao centro do debate, em um cenário onde todo mundo falava em IA, foi justamente o comportamento dos colaboradores, parceiros e usuários, que determinou grande parte dos riscos.
2026 exigirá inteligência, integração e identidade
Para o próximo ano, o setor deve caminhar com foco em três eixos fundamentais:
– Uma segurança mais inteligente, não apenas mais automatizada: A IA deixará de ser tratada como “ferramenta mágica” e passará a ocupar seu lugar como força multiplicadora da capacidade humana. O próximo ano será marcado por modelos mais contextualizados, que entendem não apenas o comportamento da rede, mas o propósito do negócio. Empresas maduras irão combinar automação com processos de avaliação contínua, revisões periódicas de risco e profissionais capazes de interpretar sinais fracos antes que se transformem em incidentes críticos.
– Aproximação real entre redes, aplicações, identidades e governança: Para 2026, a tendência inevitável é a consolidação de políticas unificadas, plataformas integradas e visibilidade ponta a ponta. Não basta monitorar acessos, será necessário correlacionar identidades com contexto, postura de dispositivos, criticidade dos ativos e comportamento histórico. A segurança deixará de ser apenas reativa e se tornará preditiva.
– Menos foco em perímetro, mais foco em confiança adaptativa: A identidade será o elemento central, analisando quem acessa, de onde, com que intenção e com que risco naquele momento específico. A validação contínua deixará de ser vista como burocracia e passará a ser percebida como ferramenta para proteger operações em tempo real.
2026 será o ano da maturidade e da honestidade técnica
Se este ano foi marcado por grandes expectativas, 2026 será lembrado como o ano em que o setor entendeu que segurança não é um produto, é uma prática contínua. Não existe solução única, modelo universal ou proteção instantânea. Há, sim, combinações inteligentes entre tecnologia, processos bem definidos e pessoas que entendem o impacto real de cada decisão.
A cibersegurança do próximo ano será mais humana, técnica e consciente de suas próprias limitações, exatamente o que precisamos para enfrentar um ambiente de ameaças que não perdoa improviso.
Se 2026 trouxer menos promessas milagrosas e mais responsabilidade compartilhada, teremos dado um passo significativo rumo a organizações realmente resilientes.
Sylvio Herbst é formado em engenharia de telecomunicações e pós-graduado em marketing, co-fundador e diretor comercial de marketing na 5F Soluções em TI.












