Em sua segunda visita ao Brasil, com um intervalo de 20 anos, a diretora-adjunta da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a norte-americana Beth Bechdol, disse que se surpreendeu com o avanço enorme da proteção dos recursos produtivos pelo agro brasileiro e com o nível de tecnologia e inovação empregado no setor.
A diretora da FAO está no país desde terça-feira (24/6) para participar da 35ª Conferência do Ifama (International Food and Agribusiness Management Association ou Associação Internacional de Gestão de Alimentos e Agronegócios), que acontece em Ribeirão Preto, no interior paulista. O evento promovido pela Harven Agribusiness School em parceria com o FB Group se realiza pela primeira vez no Brasil.
Nascida em uma fazenda no centro-oeste dos EUA onde sua família planta soja, milho e trigo, Bechdol disse em entrevista exclusiva à Globo Rural que conhece bem a agricultura de larga escala e viu de perto as economias agrícolas de países desenvolvidos como os Estados Unidos nos períodos em que o produtor sacrificava a terra, água, saúde e qualidade do solo para simplesmente plantar o máximo de hectares.
“Obviamente, isso faz parte da história recente do Brasil, com o aumento da produção de soja que derrubou áreas florestais, com uma produção agrícola muito intensiva. Mas agora, vejo uma percepção clara de que precisamos ser melhores administradores do nosso meio ambiente. Há apenas uma quantidade limitada de terra, há apenas uma quantidade limitada de água.”

Ela diz que essa percepção de que existem maneiras de produzir mais, mas de forma menos intensiva, com menos insumos e menos destruição, está se alastrando também no mundo entre os próprios agricultores, a comunidade do agronegócio e entre os formuladores de políticas nacionais, os cidadãos e a sociedade.
“Podemos produzir culturas de forma mais eficiente e podemos proteger nossas florestas, nossos recursos hídricos e de solo. Mas todos nós, juntos, temos que priorizar exatamente esses aspectos.”
Bechdol diz que testemunhou nesta viagem como o Brasil assumiu um papel de liderança em dados agrícolas realmente avançados, robótica, automação e inteligência artificial. Segundo ela, é muito encorajador para os próximos anos ver que essas ferramentas que visam ajudar os agricultores a serem melhores administradores da terra, minimizar seus insumos e aprimorar suas práticas de produção estão sendo adotadas largamente no Brasil.
A diretora da FAO também destacou que o país atua como parceiro da FAO e mantém o compromisso político de combate à fome e à pobreza, mesmo quando as lideranças políticas ou os governos mudam, o que nem sempre acontece em muitos outros países.
“Esse tipo de compromisso sustentado de realmente cuidar das pessoas mais vulneráveis e daquelas que passam fome é algo que eu acho que se destaca na liderança do Brasil. Acreditamos que isso pode ser levado a um cenário mais global, a fim de mostrar aos políticos, ministérios da agricultura, ministérios da economia, ministérios do meio ambiente que é possível tomar medidas nacionais, medidas domésticas para combater a fome e a pobreza.”
A diretora diz que o desafio da FAO é expandir isso, mas infelizmente, a missão esbarra nos orçamentos nacionais porque não há dinheiro suficiente para atender todas as prioridades.
“Neste momento específico, enquanto temos os países ocidentais reunidos na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), se fala muito em aumentos nos gastos militares e de defesa em oposição à proteção social ou aos gastos com programas domésticos nacionais. É desafiador para uma organização como as Nações Unidas ou a FAO chamar a atenção do mundo para a insegurança alimentar e a pobreza com tantas prioridades concorrentes.”
A executiva destaca que uma das grandes preocupações atuais da FAO é garantir que os agricultores estejam sendo alimentados, porque grande parte das pessoas que estão em regiões onde há guerra e destruição são ligadas à agricultura de alguma forma.
“As pessoas que passam mais fome, as pessoas que são mais vulneráveis em 60 países ao redor do mundo estão ligadas à agricultura, à pecuária e à pesca. Eles dependem de algum tipo de subsistência agrícola para sustentar suas famílias e temos que garantir que eles sejam incluídos à medida que continuamos a trazer avanços tecnológicos.”
Nesta quinta-feira (26/6), a diretora-adjunta da FAO abre o segundo e último dia de conferências do Ifama falando sobre como os sistemas alimentares em todo o mundo enfrentam uma pressão sem precedentes devido a perturbações climáticas, vulnerabilidades na cadeia de suprimentos e volatilidade econômica.
Fonte: Globo Rural