A catástrofe ambiental causada pelas cheias e deslizamentos de terra no Rio Grande do Sul deixou um rastro de destruição: as pessoas perderam familiares, milhares estão desabrigados, residências, propriedades rurais, instalações de diversos portes foram destruídas. Diante dessa realidade, a solidariedade tem sido fundamental para a reconstrução do Estado e recuperação da esperança por dias melhores.
Na produção agropecuária, as perdas ainda são incalculáveis, mas já passam de bilhões de Reais. O campo foi severamente atingido em diversas regiões, especialmente nos Vales do Taquari, Rio Pardo, Caí e Serra. Lavouras inteiras foram destruídas, maquinário, infraestrutura e o solo foram danificados, a produção de aves e suínos foi duramente atingida e a cadeia leiteira agoniza, com perda de animais e a dificuldade de acesso para a coleta da produção que ainda se mantém, mesmo que em queda livre diante das dificuldades para nutrição dos rebanhos.
Dados preliminares da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), com levantamento que teve apoio do SOS Agro RS, dão conta de que o agronegócio gaúcho já tenha perdido em torno de R$ 3 bilhões e deve levar, pelo menos, uma década para normalização do cenário, seja nas próximas safras ou no volume produtivo da proteína animal no campo.
“QG” para nutrição animal
A mobilização da sociedade em auxílio às famílias também necessita adentrar as porteiras no campo. Em Teutônia, um “QG” para recebimento e organização da logística de distribuição de doações para a nutrição animal tem mobilizado produtores rurais e empresas de diversas regiões do Brasil, concentrando donativos arrecadados por diferentes campanhas em prol dos produtores gaúchos. A união de esforços tem garantido a alimentação dos animais, especialmente do rebanho leiteiro, possibilitando minimamente a continuidade da produção.
Em Linha Wink, o produtor rural Jonas Joel Müller coordena esse trabalho voluntário. A sua propriedade tem servido de base para receber e organizar a logística de distribuição das doações voltadas à alimentação animal, aproveitando sua localização estratégica e a facilidade de acesso para veículos de grande porte.
Diariamente chegam caminhões e carretas com volumosos como silagem, pré-secado, feno, rações e outros concentrados, que estão sendo destinados aos produtores rurais afetados no Vale do Taquari e regiões vizinhas, onde também há pontos de distribuição. Essas doações vêm de produtores locais e de diversos estados brasileiros, com Santa Catarina, Paraná, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais. “Esse trabalho facilita que os donativos cheguem às propriedades dos produtores rurais. A doação de todos é muito importante. As primeiras duas semanas foram de trabalho árduo, sem hora para começar ou para terminar, um grande desafio, mas por trás de tudo isso há uma motivação maior, que é o auxílio aos produtores rurais”, defende Müller.
Solidariedade e voluntariado
O trabalho conta com o envolvimento de voluntários e tem o apoio de empresas e entidades. Além disso, profissionais da área técnica contribuem com os controles e identificação das necessidades do campo. “O trabalho tem repercutido positivamente, o que amplia os volumes de doações recebidas. A partir disso também foram criados novos ‘braços’, como em Arroio do Meio e Lajeado, que são pontos alternativos, facilitando a logística, já que temos muitos problemas nas rodovias da região, com muitos bloqueios”, explica.
O Sicoob São Miguel, que conta com agências nas regiões atingidas pelas cheias, se soma aos parceiros que acreditam na iniciativa. “A solidariedade e o voluntariado em prol dos gaúchos é emocionante. Toda essa situação de calamidade pública passa por diferentes estágios, e nisso é preciso um olhar especial também para a produção agropecuária. O campo foi duramente castigado e necessita de apoio, em diversas frentes, para garantir a manutenção da produção de alimentos”, valoriza o gerente da agência Sicoob de Teutônia, Evair Volnei Brune.
A cooperativa de crédito tem desenvolvido e participado de uma série de ações de solidariedade em prol das comunidades mais atingidas, além de adotar medidas emergenciais de apoio aos cooperados. Recursos provenientes do Instituto Sicoob estão sendo investidos na compra de donativos e, pontualmente para esta ação voltada à nutrição animal, foram destinados recursos para auxiliar no pagamento de despesas com logística, como frete e combustível, além da aquisição de bolas de feno de cooperado para doação a produtores rurais com dificuldade.
Na tarde desta terça-feira (28), carreta carregada com bolas de feno saiu de Linha Glória, no município de Estrela, com destino ao município de Feliz, que também sofreu com as cheias do Rio Caí. “Estamos todos unidos, com muita força, para reconstruir o Rio Grande do Sul”, conclui Brune, frisando que os protagonistas de tudo isso são as pessoas que estão doando e se doando pelo próximo.
A Gadolando é outra parceira da iniciativa e recebe os contatos para as doações, apoiada por técnicos da Emater, prefeituras e sindicatos para organizar esses donativos e encaminhar aos produtores, evitando que os animais fiquem sem alimento. Caminhões de diversas regiões do pais estão se deslocando ao Rio Grande do Sul com essas doações direcionadas aos pontos centrais, que depois redistribuem aos produtores nos municípios atingidos, de forma a garantir que cheguem a quem realmente necessite.
“É um trabalho que precisa ter continuidade, pensando no longo prazo, sabendo que a necessidade do campo se estenderá por um longo período. Todo auxílio é muito bem-vindo, inclusive quem tiver áreas de terra disponíveis para o plantio das culturas de inverno para atender as necessidades dos produtores em dificuldade”, conclui Müller, agradecendo todo apoio recebido e disponibilizando seu contato de fone/WhatsApp para mais informações sobre o projeto: (51) 99926-7117.
Fonte: Leandro Augusto Hamester / Jornalista Correspondente Sicoob
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