O uso de novas tecnologias abre portas para um outro processo importante para a ampliação de mercados e o desenvolvimento da produção rural com maior valor agregado: a industrialização. “Temos promovido capacitações e visitas técnicas a outros estados para mostrar que é possível e necessário”, afirma Pedro Scarpi Melhorim, da OCB/ES, citando como exemplos o Paraná e Santa Catarina.
No Espírito Santo, algumas cooperativas já atuam em todo o processo produtivo, como Selita e Veneza, que transformam derivados do leite em produtos finais prontos para o consumidor. Outras estão iniciando esse movimento, como a Cooabriel com o Café Guardião — produzido em sua fábrica instalada em São Domingos do Norte, com capacidade de 14 toneladas/mês e investimento de R$ 3 milhões. A maior cooperativa de café conilon do Brasil decidiu levar às gôndolas dos supermercados o seu próprio pó de café.
Esse processo da agroindústria da Cooabriel começou há quatro anos, de forma terceirizada, mas há dois anos está funcionando diretamente na fábrica de São Domingos do Norte.
A força do cooperativismo no agro capixaba
Em 2023, das 112 cooperativas presentes no estado, 23 atuavam no setor do agro, gerando emprego e renda no campo. No ano, o cooperativismo do segmento agropecuário capixaba movimentou R$ 5,8 bi – 39% do total faturado pelo setor
Tópico | Nº Total no ES (2022) | Nº Total no ES (2023) | Nº no agro do ES (2022) | Nº no agro do ES (2023) |
Cooperativas | 115 | 112.00 | 22.00 | 23.00 |
Cooperados | 747.000 | 832.00 | 38.36 | 40.78 |
Empregos diretos | 11,5 mil | 118.00 | 2.45 | 2.77 |
Hoje a produção mensal é de seis toneladas de pó de café. “A nossa agroindústria ainda é bem modesta, mas não deixa de ser uma indústria. Nós temos uma linha de produção automática e uma linha de produção manual. Hoje, a Cooabriel tem um único produto processado, que é o Café Guardião em diferentes tipos, do tradicional aos especiais”, explica Alexandre Ferreira, gerente de Novos Negócios da Cooabriel.
A dificuldade, de acordo com o gerente, é penetrar nesse mercado, que tem uma concorrência muito forte.
Os próximos passos são justamente sair da região noroeste do Estado e conquistar a Grande Vitória e também a preferência dos 8.200 cooperados.
A Coopram é outro exemplo de inovação, tendo a tilápia como carro-chefe. Além de comercializar os filés, a organização se prepara para lançar em breve no mercado seu novo portifólio de produtos, que inclui hambúrgueres, almôndegas, bolinhos e kibe – todos à base de tilápia.
Com produção mensal de 30 toneladas de produtos do pescado e duas unidades de beneficiamento, uma em São Bento do Chapéu, Domingos Martins, e outra em Piaçu, Muniz Freire, a cooperativa prepara a construção de uma terceira fábrica. A nova unidade será em Ponto Alto, Domingos Martins, e representa um investimento de R$ 7 milhões que dará à Coopram a capacidade de processar diariamente 10 toneladas de peixe in natura.
Na produção do filé de tilápia, após a retirada da parte central do peixe com espinhas ainda resta uma quantidade significativa de carne com excelente qualidade. A ideia dos novos produtos surgiu como estratégia para aproveitar essas partes nobres, antes descartadas.
“Vender o filé de tilápia já processado para o consumo é essencial, pois agrega valor ao produto da agricultura familiar, garantindo maior retorno financeiro aos cooperados. Além de facilitar o preparo e atender à demanda de consumidores que buscam praticidade, o produto pronto fortalece a presença da cooperativa no mercado e gera empregos locais — especialmente para mulheres”, finaliza Darli José Schaefer, diretor-presidente da Coopram.
Com inovação, industrialização, apoio técnico e espírito coletivo, as cooperativas agropecuárias capixabas mostram que é possível gerar valor, autonomia e inclusão no campo.
Mais do que modelos de produção, são motores de transformação que fortalecem a agricultura familiar e ampliam horizontes no Espírito Santo.
Fonte: ES Brasil com adaptações da MundoCoop