O Brasil ocupa posição de liderança no novo cenário global da exportação de café, e esse protagonismo está diretamente ligado à força das cooperativas. A análise é de Marco Valério Brito, presidente do Conselho Administrativo da Coccamig (Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais), que destaca o papel do cooperativismo na profissionalização do setor e na adoção de práticas de sustentabilidade, ESG, compliance, rastreabilidade e carbono zero.
A relevância do tema ganha ainda mais força neste ano, já que a ONU declarou 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas, reconhecendo o impacto do cooperativismo na economia e na sociedade. No Brasil, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), são mais de 4,5 mil cooperativas, sendo 97 ligadas ao café.
Cooperativismo e cafeicultura: uma relação inseparável
Nascido em Três Pontas (MG), cidade conhecida como “Capital do Café com Leite”, Marco Valério cresceu cercado pela cultura cafeeira. Após atuar no mercado financeiro e em órgãos ligados ao comércio internacional do café, retornou às origens em 2015, quando se tornou produtor. Desde então, ocupou cargos de liderança no setor, incluindo a presidência da Cocatrel, antes de assumir a Coccamig, que completa 40 anos em 2025.
Para ele, é impossível dissociar a cafeicultura do cooperativismo. “O café é produzido, em grande parte, por pequenos produtores, e as cooperativas cumprem um papel fundamental de intermediação, logística e profissionalização. Essa união garante competitividade e fortalece toda a cadeia”, afirmou.
Profissionalização e sustentabilidade
Segundo Marco Valério, as cooperativas têm se modernizado para atender às exigências do mercado internacional, como a Lei Antidesmatamento da União Europeia (EUDR), que entrará em vigor no fim de 2025. A Coccamig tem promovido seminários sobre rastreabilidade, carbono zero e governança para preparar seus cooperados.
“Nos últimos anos, vivemos uma inversão no mercado, com crises logísticas, guerras e a pandemia. Agora, o Brasil lidera um novo rearranjo na exportação do café, e isso está nas mãos das cooperativas. Mas para isso, é preciso trabalhar em sintonia e manter a profissionalização”, reforçou.
Apoio às pequenas cooperativas
Um dos objetivos da Coccamig é evitar que as cooperativas menores desapareçam diante da concentração de mercado. A central tem promovido feiras, missões internacionais e exportações conjuntas para garantir escala e visibilidade às organizações de menor porte.
Esse esforço, segundo Marco Valério, tem ajudado a preservar a diversidade e singularidade dos cafés brasileiros, valorizando regiões específicas como a Mantiqueira e a Canastra.
Desafios e oportunidades
Apesar dos avanços, o dirigente aponta que a infraestrutura logística ainda é o maior desafio do setor. “O café brasileiro é reconhecido pela qualidade e pela governança, mas os gargalos logísticos ainda nos penalizam. Precisamos de investimentos em portos e transporte para manter a competitividade”, destacou.
Mesmo diante das dificuldades, ele vê oportunidades de expansão, sobretudo no mercado asiático, com destaque para a China, que tem aumentado a demanda por café. Além disso, a mudança no comportamento do consumidor, impulsionada por novas formas de preparo e pelo crescimento do mercado de cafés especiais, abre espaço para inovação no consumo interno.
Futuro do cooperativismo
A Coccamig também tem buscado atrair jovens produtores e reposicionar sua imagem, investindo em comunicação digital e participação em feiras. Para Marco Valério, o cooperativismo não é apenas uma tradição, mas uma ferramenta para desenvolver as cidades, melhorar a qualidade de vida dos produtores e fortalecer a economia regional.
“Quando a cooperativa vai bem, a cidade melhora, o IDH cresce, o turismo se fortalece. O cooperativismo perpetua a cultura do café e posiciona o Brasil em outro patamar no mercado mundial”, concluiu.
Fonte: Gazeta de Varginha