Na quinta geração de uma família de avicultores de Sales Oliveira (SP), além de criar três milhões de frangos por ano, Luciana Abeid Ribeiro Dalmagro produz flores comestíveis usadas na finalização de pratos na alta gastronomia em um modelo de negócios que tem se mostrado próspero. Para gerenciar e expandir suas atividades, ela aderiu a uma cooperativa de crédito e está satisfeita.
“Entender que eu faço parte, como cooperada, como sócia, faz muito sentido para mim. É uma mudança muito grande do modelo tradicional bancário, em que a gente é só cliente, e o banco é fornecedor de serviços financeiros. É completamente diferente nas cooperativas. Nós somos parte desse negócio, inclusive com poder de voto, com poder de decisão e mais que isso, com poder de participação”, diz.
Luciana faz parte das cerca de 15,5 milhões de pessoas e empresas de todo o país que já aderiram ao cooperativismo de crédito, segundo dados do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito e do Banco Central (FGCoop/BCB) divulgados em 2023, como alternativa de gestão financeira, em um movimento que tem se mostrado em ascensão nos últimos anos, sobretudo no agro, em parte devido a benefícios oferecidos com relação aos bancos tradicionais.
“Existem semelhanças com os bancos já consolidados, como regulação das taxas pelo mercado, regulação e fiscalização pelo Banco Central, mas enquanto os bancos são sociedades anônimas, as cooperativas de crédito são sociedades de pessoas”, explica o economista Jair Casquel.
A ascensão do cooperativismo e o crédito rural
De acordo com dados do Sistema Nacional de Cooperativismo de Crédito (SNCC), em dezembro de 2023, existiam 847 cooperativas singulares de crédito no Brasil. Dessas, 222 eram independentes, enquanto as demais estavam vinculadas a cooperativas centrais ou confederações.
Cresol, Sicredi e Sicoob concentram quase 90% do valor movimentado por cooperativas de crédito.
Nos últimos anos, o SNCC apresentou um crescimento acima da média do Sistema Financeiro Nacional (SFN). O ativo total ajustado (ATA) aumentou de R$ 174,3 bilhões em dezembro de 2016 para R$ 371,8 bilhões em dezembro de 2023.
Grande parte desse crescimento se deve ao setor agrícola brasileiro. Na safra 2023/24, o Sicredi planeja emprestar aproximadamente R$ 60 bilhões ao setor, um aumento de 17% em relação à temporada anterior.
Apesar disso, a combinação de preços das commodities agrícolas em queda, taxas de juros elevadas e a quebra da safra de soja tem levado os produtores rurais a ponderar seus investimentos e o valor deve ficar abaixo do esperado. Mesmo assim, o índice de inadimplência, de 0,5%, é considerado baixo.
“A relação com o cooperado, um sócio, é crucial para esse índice”, aponta Gustavo Freitas, diretor-executivo de crédito do Sicredi.
O Sicoob também mantém um plano otimista, apesar da quebra da safra. A instituição projeta aumentar a oferta de crédito em 33% para R$ 52 bilhões neste ciclo. Para a Agrishow, o objetivo é superar os R$ 2 bilhões de crédito oferecidos no ano passado, segundo a instituição.
A Cresol não especifica valores financeiros, mas espera chegar a 1 milhão de cooperados ainda em 2024. Cerca de 60% do valor movimentado pela instituição vem do campo.
“O crédito rural é único para cada produtor cooperado. A ampliação da rede de agências, com equipes de apoio para assessorar os clientes na tomada de decisão, ajuda a fomentar nossa expansão”, acredita Adriano Michelon, vice-presidente da Cresol.
Setor promete vantagens
Em seu melhor momento, as cooperativas de crédito investem em publicidade e prometem aos cooperados algumas vantagens com relação aos bancos tradicionais. Entre elas:
- Participação Democrática: Cada associado tem direito a um voto, independentemente de sua participação no capital social.
- Reversão das Sobras: O resultado positivo das cooperativas, chamado de “sobras”, é distribuído aos associados com base na utilização dos serviços, não na proporção do capital investido.
- Limitação: As cooperativas não visam gerar lucros, e a remuneração ao capital social é limitada.
Enquanto um banco tem clientes, as cooperativas têm sócios ou cooperados. Para abrir uma conta em um banco, nem sempre é necessário investimento. Em uma cooperativa, por sua vez, é preciso comprar uma cota. Por outro lado, o lucro pode ser parcialmente revertido para os cooperados.
“Como cooperado, o participante pode contribuir para o aumento do capital da empresa, fazendo integralizações. Ele empresta capital próprio ou captado no mercado, resgata com juros ou em outros serviços”, explica o economista Jair Casquel.
A produtora rural Luciana, de Sales Oliveira, ficou tão convencida que, além de conduzir suas finanças com uma cooperativa de crédito abriu uma conta para o filho de 7 anos. Ela encara o modo como os investimentos são usados como uma inspiração para os próprios negócios da família.
“O recurso que gira no ecossistema de uma cooperativa volta para a sociedade impactando pessoas, volta apoiando projetos. Isso é sustentabilidade e isso conta muito para mim e para minha família”, conta.
Fonte: G1
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