Os novos rumos do setor agropecuário brasileiro estiveram em pauta durante o 24º Congresso do Agro Brasileiro, realizado na última segunda-feira (11), em São Paulo. O evento, que discutiu o impacto do segmento na economia nacional, também abordou sua relevância no cenário mundial e destacou a capilaridade do setor em temas como logística, transição energética e promoção da segurança alimentar. A Mundocoop esteve presente na cobertura do congresso para acompanhar os principais debates e tendências para o agronegócio.
Em sintonia com o tema “AgroAlianças” desta edição, a mesa de abertura reuniu representantes governamentais, políticos e autoridades setoriais para reforçar a importância do congresso como espaço de diálogo e alinhamento estratégico.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), ressaltou a relevância de iniciativas que estimulem a troca de experiências e a integração das cadeias produtivas. Segundo ele, o agro brasileiro é protagonista na construção de um modelo de sustentabilidade que concilia expansão produtiva e preservação ambiental.
Luís também destacou o papel das cooperativas na democratização do acesso à alimentação de qualidade e na geração de renda, inclusão social e promoção de práticas agrícolas mais eficientes e sustentáveis.
O deputado Arnaldo Jardim lembrou destacou a relação do agronegócio brasileiro com a segurança alimentar e as iniciativas de transição energética, defendendo a necessidades de ambas serem tratadas de forma integrada nas políticas públicas.
Jardim ainda citou os debates da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) na reforma tributária, as negociações com o governo federal para reduzir o LCA e o ICA, e a importância da ampliação da divulgação da produção de bioinsumos e biocombustíveis como alternativas estratégicas para o futuro do agro.
Os governadores Romeu Zema (MG) e Tarcísio de Freitas (SP) também integraram a abertura e apresentaram as estratégias estaduais para impulsionar os segmentos nas respectivas gestões.
O discurso de Zema destacou o Plano de Estímulo à Sucessão Rural e programas de liberação de crédito para produtores, com foco em fortalecer a competitividade e responder às taxações norte-americanas. Ele ressaltou que a renovação geracional no campo é essencial para garantir a continuidade da produção e para manter a inovação como aliada do crescimento.
Já Tarcísio valorizou a resiliência e o espírito empreendedor do produtor rural paulista. “Sobretudo, o agro é feito de pessoas muito corajosas”, afirmou, ao destacar os avanços liderados pelos agricultores e agropecuaristas paulistas no desenvolviemnto da cidade de São Paulo.
Por fim, o governador projetou que, até o fim do ano, 100% dos assentamentos do estado estarão titulados, em compromisso com a segurança jurídica no campo e novas oportunidades de produção.
Alimentos, Energia e Inovação
Moderado pelo jornalista William Waack, o primeiro painel do evento contou com a presença de Alfredo Miguel, Diretor de Assuntos Corporativos, Comunicações e Cidadania para América Latina da John Deere, Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, Larissa Wachholz, Senior Fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e Márcio Santos, CEO da Bayer Brasil e Presidente da Divisão Crop Science Brasil.
A mesa debateu como a produção de alimentos, a geração de energia e a inovação tecnológica são correlacionadas e atuam juntas para atender às demandas crescentes da população mundial.
No decorrer das discussões, os representantes abordaram a importância da agricultura de baixo carbono, o uso de biotecnologia para otimizar cultivos e a digitalização do campo como estratégia para elevar a produtividade sem expandir a área de plantio. Também, destacaram a relevância da diversificação de fontes energéticas para tornar o setor mais sustentável e competitivo.
O diálogo, por fim, trouxe perspectivas sobre políticas comerciais, investimentos em pesquisa e a necessidade do alinhamento da produção brasileira às exigências de mercados internacionais, cada vez mais atentos à rastreabilidade e à responsabilidade socioambiental.
Financiamento e Mercado de Capitais
A segunda seção do encontro discutiu modelos inovadores de financiamento da produção agropecuária e, neste assunto, o papel das cooperativas como ferramentas estratégicas para pequenos e médios produtores acessarem crédito ganhou destaque.
Bruno Gomes, Superintendente de Securitização e Agronegócio da Comissão de Valores Mobiliários – CVM,destacou que as cooperativas têm democratizado o acesso a recursos e permitido que agricultores estejam próximos de alternativas para investir em tecnologia no campo.
Em sequência, Raphael Silva de Santana, gerente nacional de agronegócio do Sicoob, definiu o crédito tradicional como “cada vez mais esgotado” e que, a partir desse panorama de escassez, as cooperativas têm cumprido o papelo de ferramentas viáveis para o desenvolvimento socioeconômico de diversas regiões do país.
Raphael afirmou ainda que o crescimento das cooperativas de crédito no Brasil está diretamente ligado ao relacionamento próximo com o produtor e concluiu reforçando a visão de que o protagonismo do agronegócio deve ser sempre do produtor brasileiro. “Mesmo com toda digitalização, o produto ainda exige e demanda a presença física do seu gerente e do seu consultor. Ele gosta de ser visitado e escutado. Precisamos utilizar o digital para agilizar e fazer que crédito chegue mais rápido”
Agro e o Caminho para a Transição Energética
A mesa redonda sobre transição energética reuniu Alexandre Parola, Embaixador, Anelcindo Souza Vice-presidente de Marketing de Sementes da Corteva, o deputado Arnaldo Jardim, Luís Roberto Pogetti, Presidente do Conselho de Administração da Copersucar e William Vella Nozaki, Conselheiro de Administração da Transpetro e Gerente Executivo de Gestão Integrada da Transição Energética na Petrobrás.
O debate destacou a importância da integração da cadeia produtiva agropecuária à matriz de energias renováveis, a fim de explorar o potencial dos biocombustíveis e intensificar a diversificação energética.
Também foram apontadas oportunidades para fortalecer a cooperação internacional em pesquisa e tecnologia voltada à energia limpa.
Reconhecimentos
Durante o evento, a ABAG prestou homenagens a dois importantes veículos de comunicação. Paulo Marinho, CEO da Globo, recebeu a honraria pelos 100 anos da emissora, e Francisco Mesquita Neto, presidente do Conselho de Administração do Estadão, foi homenageado pelos 150 anos do jornal.
As saudações ficaram a cargo de Roberto Rodrigues, professor emérito da FGV e conselheiro da ABAG, que ressaltou a contribuição da imprensa na difusão de informações qualificadas sobre o agro brasileiro.
Por João Victor, Redação MundoCoop