De maneira geral, o cooperativismo pode ser definido como um movimento de colaboração entre indivíduos que possuem interesses em comum. No entanto, muito mais do que um modelo de negócio, o cooperativismo também permite o desenvolvimento de outro modelo de sociabilidade, mais democrático, justo e solidário e que abranja diferentes estruturas organizacionais. Foi buscando entender esse pluralismo que surgiu o projeto de pesquisa “Mapeamento do cooperativismo no Brasil: evolução, modelos e perspectivas”, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (Cesa).
Coordenado pelo professor Luis Miguel Luzio dos Santos, do Departamento de Administração, o estudo origina-se de uma sequência de outras pesquisas no campo da economia solidária realizadas pelo docente. O projeto investiga as iniciativas do cooperativismo no Brasil, analisando suas estruturas organizacionais na contemporaneidade. “Começamos a verificar que o que a gente chama de ‘cooperativismo’, na realidade, são ‘cooperativismos’, um modelo organizacional com expressivas distinções em seu interior, um grande agrupamento de organizações com semelhanças, mas também divergências”, afirma.
Inicialmente, a pesquisa se aprofundou nos estudos sobre o contexto histórico da evolução do cooperativismo no Brasil e no mundo. A partir disso, o projeto passou a mapear e a distinguir os modelos de atuação do cooperativismo que existem no país. O levantamento foi feito a partir de dados secundários disponíveis em portais online e entrevistas diretas com cooperativas, que durante a pandemia foram realizadas no formato remoto. Segundo o professor, não há nenhum estudo parecido com esse no Brasil.
Mapeando o cooperativismo
Desde a sua origem, no século XIX, o cooperativismo apresenta-se como uma alternativa ao modelo de empresa de corte capitalista, propondo a aliança entre elementos econômicos e sociais. Assim, tende a gerar benefícios como o fortalecimento de comunidades, resgate da dignidade humana, espírito cívico, desenvolvimento de uma cultura solidária e empoderamento dos trabalhadores. No decorrer dos anos, porém, boa parte das cooperativas se afastaram de seus princípios originais e passaram a incorporar condutas próprias das empresas privadas. Com isso, surgiram inúmeras expressões do cooperativismo.
De acordo com Miguel Luzio, os estudos do projeto levaram a quatro configurações distintas do cooperativismo: cooperativismo de cabresto ou “cooperfraude”, cooperativismo concêntrico, cooperativismo isonômico e cooperativismo solidário. A pesquisa deu origem a vários artigos, que ajudaram a isolar as experiências mais expressivas do cooperativismo solidário em atividade no Brasil. “A gente chegou a seis que realmente se destacam, não só em termos quantitativos, mas que têm alguma particularidade que chama a atenção e que merece ser registrada”, explica o professor.
A intenção é consolidar as análises das cooperativas em um livro, que deve ser publicado no segundo semestre de 2023. Miguel Luzio afirma que as cinco experiências mais representativas de cooperativismo solidário no país, identificadas no projeto como modelos de democracia econômica, são a Copavi-Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (Paranacity-PR), a Cooperativa de Alimentos e Agropecuária Terra Viva (Santa Catarina), a Rede de Cooperativas Central Justa Trama (percorre as regiões Nordeste, Sudeste e Sul), o Instituto Banco Palmas (Fortaleza-CE) e o Sistem UNIFORJA – Cooperativa Central de Produção Industrial de Trabalhadores em Metalurgia (Diadema-SP).
Democracia econômica
Segundo o docente, a dinâmica observada nas cooperativas pode trazer maior equilíbrio econômico e enriquecimento nos padrões de sociabilidade, pois propaga a coparticipação. Entre as propostas apresentadas pelo projeto com o objetivo de difundir essa ideia, está a criação de mais modelos organizacionais progressistas. Para Miguel Luzio, esses modelos partem de uma lógica fundamentada no bem-comum, na inclusão irrestrita e na solidariedade.
A existência de modelos alternativos de produção incentiva as organizações tradicionais a se tornarem mais participativas, socialmente responsáveis e humanizadas. Ainda assim, o professor destaca que não há solução mágica para essa questão. O próprio cooperativismo solidário é uma boa alternativa, porém não deve ser vista como a única possível. “O cooperativismo solidário é muito importante, mas não devemos vê-lo como uma articulação miraculosa”, afirma.
Fonte: O Perobal
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