Um grupo de pessoas com diferentes histórias ligadas à trajetória de rua está protagonizando um capítulo inédito de empreendedorismo cooperativista em Belo Horizonte. Vindas de experiências diversas de vulnerabilidade social, elas se uniram para criar uma cooperativa de produção de lanches que é a primeira com essas características no Brasil – a Cooperativa de Trabalho Solidária Sabor do Canto (Cotrassb). Com o apoio da Pastoral de Rua e a parceria do Sistema Ocemg, por meio do Programa +Coop Desenvolvimento Sustentável, o negócio acaba de ser formalmente constituído, e já funciona a pleno vapor.
Tudo começou a partir de uma ação empreendida pela Pastoral para atender pessoas em situação de rua na capital mineira, durante a pandemia de Covid-19. A iniciativa gerou a criação de um grupo de trabalho e renda, que produzia lanche para assistidos dos Centros de Referência da População de Rua (Centro Pop) da cidade. Com o fim da pandemia, essa equipe, que hoje é composta por oito cooperados, decidiu constituir um negócio, com autonomia para continuar fornecendo alimentos para as instituições. A Prefeitura buscou o apoio do Sistema Ocemg, que atuou na elaboração do estatuto, da ata de constituição e promoveu a capacitação dos cooperados para atuar como cooperativa. Nasceu, assim, a Sabor do Canto. “Decidimos montar uma cooperativa porque era o modelo que mais se encaixava no trabalho social que desenvolvíamos e dava oportunidade para a entrada de outras pessoas. O Sistema Ocemg foi um padrinho, e desde o início tem dado capacitação e apoio na formalização e em todas as questões que envolvem o funcionamento de uma cooperativa”, explica Roger Henrique da Costa Alexandre, um dos cooperados e conselheiro fiscal da Sabor do Canto.
A cooperativa tem funcionado na sede da Pastoral, no bairro Floresta, em uma cozinha equipada para a produção dos lanches. O trabalho tem sido intenso, como conta a própria presidente e cooperada, Fabiana Cristina Fernandes. “Começamos a trabalhar às 5h e vamos até tarde. Estamos produzindo cerca de mil lanches por dia”, afirma ela. Em média, a produção mensal da cooperativa tem chegado a 30 mil unidades, e com perspectivas de aumentar.
Entrar para o cooperativismo foi, para Fabiana, uma verdadeira virada de vida. “Fui pra rua aos 16 anos, e criei meus 7 filhos assim. Graças a Deus, conheci a Pastoral e fui morar numa ocupação, há uns seis anos. Lá eu conheci o projeto de economia solidária e comecei a trabalhar na produção de lanches para assistidos, durante a pandemia. Depois, a Ocemg nos apresentou o que era uma cooperativa”, conta ela. “Antes de entrar para a cooperativa, minha fonte de renda era puxar carrinho, na reciclagem”, completa.
De mãos dadas com o social
Entre 2018 e julho de 2023, o número de pessoas em situação de rua no Brasil quase dobrou, e vem crescendo ano após ano, segundo o último levantamento do Observatório Nacional dos Direitos Humanos, plataforma do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. Belo Horizonte figura como terceira cidade com maior números de habitantes vivendo nessas condições, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro.
O Sistema Ocemg tem buscado contribuir para mudar essa realidade em Minas, por meio do cooperativismo. A entidade criou, em 2018, o Programa +Coop Desenvolvimento Sustentável, que incentiva mudanças positivas e o crescimento social em comunidades ou cidades mineiras. Por meio dele, são identificados grupos que atuam de forma conjunta e oportunidades de expandir atividades pelo cooperativismo, gerando emprego e renda e incentivando a prosperidade socioeconômica local.
O programa se baseia nos princípios e valores do cooperativismo e nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. A implementação ocorre em cinco etapas: adesão; harmonização de grupo e contextualização; planejamento; implantação e consolidação; e monitoramento. “O cooperativismo é um modelo de negócios que, além de gerar trabalho e renda, tem compromisso com as pessoas e com o planeta. Não nos preocupamos apenas em gerar resultados para os cooperados. Queremos retornar parte dos ganhos para a sociedade e fomentar a prosperidade social. Por isso, investimos em ações que fortalecem as cooperativas e todo o seu entorno”, ressalta o presidente do Sistema Ocemg, Ronaldo Scucato.
Além da constituição da Sabor do Canto, o Sistema Ocemg já contribuiu também, com o +Coop, para o fortalecimento da cadeia produtiva do queijo cabacinha, no Vale do Jequitinhonha, e da cadeia produtiva de tilápia, em Morada Nova, entre outros projetos que buscam, acima de tudo, desenvolvimento com responsabilidade social.
Fonte: Sistema Ocemg
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