Os caminhos do cooperativismo agro brasileiro foram destacados durante a Global Agrobusiness Festival (GAFFFF 2025), o maior evento de cultura agro do mundo. A convenção, realizada na última sexta-feira (6), atraiu milhares de participantes para promover novas métricas para garantir o crescimento saudável do setor e discutir a importância das produções brasileiras para o desenvolvimento socioeconômico mundial. E a MundoCoop esteve presente para acompanhar todas as novidades e diretrizes.
O evento, realizado desde 2012, promove debates sobre inovações no agronegócio e busca ampliar ideias alinhadas à evolução produtiva e de gestão do setor. Além disso, nesta última edição, o GAFFFF apoiou a criação de novas ferramentas para melhorar a relação entre os mercados agro e os desafios enfrentados pela população mundial.
Eduardo Leão, diretor-presidente da CropLife Brasil, empresa parceira do GAFFFF 2025, acredita que fortalecer conexões estratégicas entre agentes do agronegócio é vital para impulsionar soluções diante das urgências atuais. “Discutir processos produtivos em um momento crucial para a humanidade, com mudanças climáticas, necessidade de conservação da biodiversidade, busca por segurança alimentar e conflitos em andamento, é fundamental. Os diferentes setores do agronegócio são interdependentes. Essas discussões, reflexões e alinhamentos entre os setores produtivos são extremamente importantes para mitigar os impactos dos dilemas da sociedade global atual e tornar o Brasil protagonista neste cenário”, afirmou em entrevista exclusiva à MundoCoop.
Participação socioeconômica do cooperativismo agro
Evidenciando o cooperativismo brasileiro e sua importância para pequenos e médios produtores, o evento contou com o painel “Representação do Produtor: Desafios e Oportunidades para Cooperativas no Agro Moderno”, que discutiu as demandas na gestão das cooperativas agro e os desafios para fortalecer a relação com os produtores cooperados.

Na ocasião, o Presidente do Conselho de Administração da Coopercitrus e também moderador do painel, Matheus Kfouri Marinho, iniciou as reflexões destacando os desafios do dia a dia das cooperativas. Em sua fala, o representante ressaltou como o modelo de negócio potencializa a criação de soluções inovadoras para as atividades no campo.
Matheus também citou os impactos da abertura de novos mercados para os produtores brasileiros. Para ele, é essencial que as cooperativas brasileiras fomentem parcerias internacionais e estejam atentas às pautas da Aliança Internacional das Cooperativas (ACI). “São exemplos que mostram a importância do cooperativismo brasileiro. Precisamos demonstrar isso cada vez mais para melhorar toda a sociedade e, principalmente, o produtor que está no nosso dia a dia”, disse.
Desafios de gestão e compromisso ambiental
No mesmo painel, José Rossato Júnior, membro do Conselho da Coplacana, falou sobre a preservação de negócios e os desafios para adotar ações voltadas ao meio ambiente. A seção discutiu a sustentabilidade das cooperativas, incluindo a adoção de tecnologias limpas e políticas de ESG.
Rossato destacou a importância da representação jurídica do cooperativismo e os resultados da participação de representantes políticos favoráveis ao agro e, especialmente, ao agro cooperativista. Segundo ele, a presença do setor na política garante a inclusão de suas demandas no debate sobre políticas públicas e financiamento para a agricultura sustentável.
Além disso, o painel abordou o papel da transformação digital nas cooperativas. Fernando Degobbi, Presidente da Coopercitrus, afirmou que o sucesso da gestão cooperativista depende da integração de ferramentas tecnológicas. “O grande desafio estratégico do agro brasileiro é integrar de forma inteligente todos os elos da cadeia produtiva. A tecnologia não vem para substituir, mas para potencializar o trabalho no campo, trazendo eficiência operacional e transparência em processos de rastreabilidade, cada vez mais demandados pelo mercado internacional e pelo consumidor final”, explicou.
Cladis Jorge, Vice-presidente da CooperAlfa, ressaltou que, apesar dos avanços em gestão e tecnologia, ainda há desafios operacionais, como falta de infraestrutura, burocracia regulatória e escassez de mão de obra qualificada. “Nossa solidez institucional depende da superação desses gargalos, especialmente os desafios logísticos que afetam os produtores da região Sul”, disse. Ele também destacou a necessidade de soluções personalizadas que considerem as particularidades regionais e o perfil dos produtores.
VOCÊ SABIA?
Com 4.509 cooperativas ativas, 23 milhões de cooperados associados e a geração de 550 mil empregos, o setor consolida-se como um pilar fundamental da economia nacional. Esses dados ganham ainda mais relevância quando analisados sob a ótica da produção agrícola: 50% dos grãos e 90% da cana-de-açúcar comercializados no país passam por cooperativas, mostrando como esse modelo está ligado à segurança alimentar e à competitividade do agronegócio brasileiro.
Brasil como protagonista sustentável

Durante o evento, a sustentabilidade emergiu como um consenso: deixou de ser apenas uma pauta ambiental e tornou-se um pilar estratégico para o futuro do agronegócio.
Gro Brundtland, líder mundial em desenvolvimento sustentável, destacou a urgência de ações concretas e o papel central do governo e do agronegócio brasileiro nesse cenário. Ela criticou iniciativas superficiais e pediu maior investimento em soluções sustentáveis nos setores de energia, transporte e agricultura. “Sustentabilidade não é apenas fazer o certo para as pessoas e o planeta. É garantir a sustentabilidade nos negócios e inspirar mais empresas a seguirem esse caminho”, defendeu.
Helder Barbalho, governador do Pará, estado que sediará a COP30, falou sobre o compromisso do estado em combater ações prejudiciais ao meio ambiente e destacar o Brasil como um país de produções sustentáveis. “Devemos aproveitar a oportunidade de sediar a COP30. O Brasil precisa mostrar que a produção de alimentos também é um ativo econômico e ambiental”, afirmou.
Participação feminina no agro
Nos últimos anos, o agronegócio brasileiro tem visto um crescimento no protagonismo feminino, quebrando barreiras estruturais e promovendo gestões mais diversas e colaborativas.
Esse foi um dos pilares reforçados no evento, com o painel “Mulheres na Gestão: Estratégias de Sucesso na Administração e Operação dos Negócios”, que teve a participação de Camila Mourad, Simoni Tessaro Niehues, Lúcia Bortolozzo e Marisa Contreras, e mostrou como a presença feminina está transformando os modelos de gestão do setor.
Simoni Tessaro, do Conselho Administrativo da Lar Cooperativa, destacou que a diversidade de perspectivas contribui para decisões mais equilibradas. “Quando mulheres ocupam espaços de decisão, elas criam ambientes mais acolhedores para outras mulheres”, disse. Ela também reforçou a importância da qualificação contínua: “Se capacitem, dentro e fora dos seus espaços. Não precisam saber tudo desde o início”.
Por João VIctor, Redação MundoCoop