Sustentabilidade, economia e responsabilidade social são conceitos que guiam 95 modelos de negócios na capital do país para os adeptos do cooperativismo. Os termos ocupam o mesmo grau de importância no arranjo de trabalhadores e garantem a busca por desenvolvimento e benefícios para seus associados. Ao todo, o Distrito Federal conta com 236.608 cooperados e quase três mil empregados diretos, (leia raio-x), profissionais que apostaram numa estrutura coletiva de apoio como forma de obter trabalho e renda.
A técnica de enfermagem Adélia Neri, de 50 anos, é uma das cooperadas da capital e confessa que a adesão mudou a maneira de conduzir a própria carreira e gestão dos negócios. Adélia conheceu o cooperativismo em 2007, por intermédio de uma colega de profissão. O modelo econômico abriu portas para a mulher ingressar no mercado de trabalho com mais autonomia, melhores condições de renda e mais capacitação. Hoje, de cooperada, a profissional se tornou presidente da Cooperativa de Trabalho e Saúde (Coopcare). “É um processo demorado conseguir vaga nos hospitais, mas no cooperativismo eu consegui isso de forma facilitada. No modelo, cada um é dono do seu negócio. O técnico decide como vai fazer o seu plantão, quais dias, por quanto tempo”, detalha.
Adélia conta que a Coopcare presta serviços para planos de saúde e empresas de homecare. “Sempre temos cursos para a educação continuada dos cooperados”, salienta. Eleita pela primeira vez à presidência da cooperativa em 2018, atualmente a profissional está no primeiro ano do segundo mandato. “O cooperativismo é grandioso. Na segunda-feira (amanhã) mulheres cooperativistas de vários estados do Brasil vão estar na capital falando sobre o tema. Na Coopcare, por exemplo, temos em torno de 500 profissionais trabalhando, todos registrados no Coren (Conselho Regional de Enfermagem-DF), que é um requisito prévio para fazer parte da Cooperativa”, destaca.
A presidente da Coopcare afirma que o grupo organiza cursos com enfermeiros mais experientes e outros profissionais para qualificação dos membros. “Quando temos pessoas com uma segunda formação, por exemplo em psicologia, ele oferece capacitação para as pessoas. Inclusive, temos atendimento para nossos cooperados poderem lidar com as finanças”, pontua.
Mais longe
Presidente da Organização das Cooperativas do Distrito Federal (OCDF) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop-DF), Remy Gorga Neto destaca que o foco do modelo é o desenvolvimento conjunto. “A máxima é que sozinho a gente pode ir mais rápido, mas em conjunto vamos mais longe. O cooperativismo é isso, a união de pessoas para atingir objetivos comuns”, afirma.
Atualmente, o modelo apresenta uma importante contribuição para o crescimento de profissionais. “Socialmente justo, o cooperativismo trabalha com a distribuição de renda. Depois da pandemia as pessoas estão procurando fazer parte de algo mais sustentável que tenha uma responsabilidade social maior. É um modelo das pessoas para as pessoas”, aponta.
Remy salienta que quem deseja fazer parte de uma cooperativa precisa entender o que a gestão nesse formato representa. “Participar efetivamente do processo econômico, dessa geração de renda, é um processo importante. A gente tem, hoje, no DF várias cooperativas, de reciclagem, de saúde, de idiomas, de tecnologia, por exemplo, mas quem se interessar pode nos procurar, para entender melhor o que é e entender como participar”, orienta.
Alessandra Alves, de 43 anos, começou na associação de catadores de reciclagem e, aos poucos, conheceu o cooperativismo. “A Cooperativa Trabalho Especial Liberdade Para Sonhar foi criada depois de 2014, quando eu conheci de verdade o que era o modelo, antes eu não me aprofundava no assunto. Agora, me sinto mais forte com o cooperativismo, porque os catadores conseguiram mais espaço, mais benefícios e conhecimento sobre o nosso trabalho. Juntos temos mais força para lutar, isso é o que representa a cooperativa”, afirma.
Produtor da agricultura familiar no Núcleo Rural Rio Preto, em Planaltina DF, Ivan Engler, de 47 anos, aprendeu sobre o cooperativismo ainda com o pai, quando estava no sul do país, antes de chegar na capital. “Desde os oito anos eu acompanho meu pai nas reuniões das cooperativas. Depois viemos para o DF, e aos poucos fui participando também”, narra. Para os produtores, um dos benefícios é o momento da comercialização. “A Coopermista (Cooperativa da Agricultura Familiar Mista do DF) é o meu departamento de vendas da minha propriedade. Ela que vai atrás dos contratos, eu posso me preocupar apenas com o custo de produção e produzir. Ela vende o produto e me passa um valor fixo no ano todo, sem a oscilação que o mercado sofre”, destaca.
Ivan também pontua que a compra dos insumos é mais em conta com a Coopermista. “Conseguimos trabalhar com volumes grandes, comprar grandes quantidades de adubo, por exemplo, e conseguir desconto, depois é só dividir isso para todos os produtores. E pagamos isso com as mercadorias, com o que produzimos para a cooperativa. O modelo traz muitos benefícios para o produtor”, finaliza.
Fonte: Correio Braziliense
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