Cada vez mais, cooperados têm buscado decisões financeiras que combinem organização tributária, planejamento de longo prazo e impacto positivo sobre o patrimônio. Nesse cenário, os aportes em planos de previdência complementar ganham protagonismo por permitir a dedução de até 12% da renda bruta tributável no Imposto de Renda, um benefício relevante, mas ainda pouco explorado por grande parte dos contribuintes.
Mais do que uma vantagem fiscal, a previdência cooperativista tem sido vista como uma ferramenta de educação financeira e construção de futuro. Para Valter Macena, especialista de investimentos da Quanta Previdência, o desafio não está no cálculo, mas no comportamento.
“Existe um conflito entre o presente e o futuro. Como a previdência é uma decisão de longo prazo, muitas vezes ela perde espaço para escolhas imediatas. Mas aportar com dedução fiscal é uma decisão que gera retorno duplo: menos imposto agora e mais tranquilidade no futuro. É uma escolha que envolve inteligência emocional e consciência financeira”, explica.
Esse comportamento está relacionado ao chamado desconto hiperbólico, a tendência de priorizar ganhos imediatos, mesmo quando isso significa abrir mão de benefícios maiores no longo prazo. O resultado é que muitos contribuintes acabam pagando mais imposto do que precisam.
Quando o imposto vira planejamento
Na prática, o impacto financeiro pode ser relevante. Um cooperado com renda anual de R$ 100 mil que já contribui regularmente com R$ 6 mil para um plano de previdência ainda pode aportar outros R$ 6 mil dentro do limite de dedução. Ao fazer esse aporte adicional antes do fim do ano, reduz a base tributável para R$ 88 mil. Considerando a alíquota marginal de 27,5%, a economia chega a R$ 1.650 — valor que, em vez de ser destinado ao imposto, permanece investido no próprio futuro.
Segundo Daniel Machado, planejador financeiro CFP® e gerente de agência da Unicred Coomarca, esse entendimento é mais comum entre cooperados justamente pelo modelo de atuação das cooperativas.
“O cooperado é estimulado a compreender o planejamento como um todo, não apenas o benefício fiscal isolado. Apresentamos estudos com o valor ideal de aporte e o impacto gerado ao longo do tempo. Essa clareza fortalece a disciplina financeira ano após ano”, afirma.
Ele destaca que, quando a pessoa entende que pode transformar parte do imposto devido em patrimônio, a decisão deixa de ser apenas tributária. “Passa a ser estratégica. A previdência complementar tem características regulatórias que nenhum outro investimento oferece nesse sentido”, complementa.
Dentro desse planejamento mais amplo, a proteção familiar também passa a ocupar um papel relevante. E ao contrário dos seguros tradicionais, estas coberturas (morte e invalidez total e permanente) que podem ser contratadas dentro dos planos de previdência, possuem dedução fiscal. Ou seja, contribuem para que você reduza a tributação na declaração de Imposto de Renda. Ao cobrir riscos e imprevistos que podem comprometer a renda e a produtividade, esse tipo de proteção garante um capital adicional capaz de amparar o cooperado e sua família, preservando o planejamento financeiro mesmo diante de eventos inesperados.
Enquanto a previdência atua sobre o chamado risco de sobrevivência, a necessidade de renda na longevidade, a proteção familiar cumpre a função de resguardar o presente enquanto o futuro ainda está em construção. Juntas, essas soluções ajudam a organizar o patrimônio, reduzir riscos e estruturar a vida financeira com mais previsibilidade, inclusive com vantagens tributárias no caso da previdência complementar.
Outra prática cada vez mais comum no ambiente cooperativista é o aporte em planos de previdência de dependentes. Quando cônjuge ou filhos fazem parte da declaração, essas contribuições também entram no limite de dedução, ampliando o benefício para toda a família.
Cooperação que gera impacto coletivo
Além do planejamento individual, o cooperativismo reforça que decisões financeiras conscientes também podem gerar impacto social. Para Silvana Parisotto Agostini, diretora de sustentabilidade e supervisão da Unicred, direcionar recursos de forma estratégica, seja via previdência, seja por meio de iniciativas institucionais, é uma expressão prática dos valores cooperativistas.
“Destinar parte do imposto de renda a iniciativas ligadas ao cooperativismo é uma forma concreta de ser agente de transformação. Esse recurso já seria pago de qualquer maneira, mas quando direcionado, fortalece projetos de educação, desenvolvimento e impacto social nas comunidades onde atuamos. ESG não é tendência, é responsabilidade. Cooperar é construir juntos, inclusive quando pensamos no futuro”, destaca Silvana.
Planejamento contínuo, não decisão de última hora
Entre os cooperados, é comum encontrar quem já incorporou o aporte adicional como parte do planejamento anual. O oficial de justiça Leandro Ambros é um exemplo. Há mais de cinco anos, ele revisa sua receita bruta no mês de novembro para calcular quanto ainda pode aportar dentro do limite dedutível.
“Assim fica mais fácil, porque sei exatamente quanto posso utilizar para reduzir minha base de cálculo do IR”, relata. Ao longo do tempo, além do ganho tributário, ele passou a valorizar o efeito psicológico da segurança financeira. “A tranquilidade de saber que terei uma renda complementar no futuro faz toda a diferença”, afirma.
Conservador no perfil de investimentos, Leandro vê a previdência como parte central do planejamento. “Saber que esse recurso não entra em inventário e não sofre incidência de ITCMD me permite diversificar e reduzir riscos. É uma escolha que pensa no longo prazo”, completa.
Para especialistas, a principal recomendação é não deixar esse planejamento para os meses de entrega da declaração. O ideal é acompanhar, ao longo do ano, o espaço disponível para aportes e ajustar a estratégia com antecedência.












