A consolidação de uma cultura organizacional saudável tem exigido um novo perfil de liderança dentro das empresas brasileiras. Para Carla Martins, vice-presidente do SERAC, hub de soluções corporativas com atuação nacional, o papel do gestor deixou de ser apenas o de executor de decisões e passou a incluir a responsabilidade de transformar o próprio conhecimento em base estruturante da operação e referência para o desenvolvimento dos times.
“Uma equipe que aprende com o líder cresce junto com o negócio. A que depende do líder para tudo fica travada.” Afirma.
A percepção acompanha tendências apontadas em relatórios internacionais de consultorias como Gallup, McKinsey e Deloitte, que identificam a orientação contínua como um dos principais fatores associados ao engajamento, à retenção e ao desempenho das equipes. Em síntese, empresas que estimulam a aprendizagem prática e o compartilhamento de experiências entre gestores e colaboradores tendem a responder melhor a mudanças, reduzir ruídos internos e acelerar o amadurecimento organizacional.
A urgência por um novo modelo de liderança – Nos últimos anos, muitos negócios enfrentaram o mesmo obstáculo: estruturas dependentes de poucos líderes, processos centralizados e colaboradores inseguros para tomar decisões. Para Carla, boa parte desses problemas decorre da falta de clareza, especialmente em empresas em expansão.
As pessoas não precisam apenas de tarefas. Elas precisam entender por que fazem o que fazem e de que forma isso afeta o resultado coletivo, afirma.
A executiva observa que a mentoria incorporada ao cotidiano, e não tratada como ação pontual, funciona como mecanismo de estabilização cultural. Ela reduz a dependência da figura centralizadora, melhora a previsibilidade da operação e cria um ambiente em que colaboradores se sentem parte da estratégia, e não apenas executores.
Como transformar conhecimento em cultura organizacional – Especialistas em gestão apontam que o conhecimento só se transforma em cultura quando se torna rotina. Parte das práticas mais adotadas por empresas que buscam amadurecimento interno envolve:
- Rituais estruturados de troca – Reuniões semanais de alinhamento, revisões de projetos e debates sobre decisões tomadas ao longo da semana ajudam a reduzir dúvidas e alinhar critérios. Esses rituais reforçam padrões de pensamento e ampliam a compreensão coletiva sobre prioridades.
- Processos claros que diminuem dependências – Carla Martins destaca que a independência profissional nasce de clareza operacional.
Quando papéis, metas e processos são transparentes, a autonomia deixa de ser um risco e passa a ser um motor de crescimento, diz.
- Feedback contínuo e objetivo – A troca recorrente de percepções corrige distorções, acelera a aprendizagem e diminui inseguranças. Estudos de clima realizados por consultorias brasileiras mostram que colaboradores valorizam mais a previsibilidade e a orientação do que elogios esporádicos.
- Preparação intencional de sucessores – Arquivos fornecidos pelo SERAC mostram que o desenvolvimento estruturado de novas lideranças, com vivência dentro e fora da operação, é considerado essencial para garantir continuidade e evitar rupturas culturais em momentos de transição.
- Ambiente seguro para a troca – Empresas que conseguem consolidar a mentoria como prática cultural são, em geral, aquelas que criam espaços onde dúvidas podem ser expostas sem receio de julgamento. Sem esse ambiente, a transferência de conhecimento perde profundidade.
O impacto direto no desempenho – A adoção de líderes mentores tem apresentado efeitos concretos no desempenho organizacional. Ambientes que praticam orientação contínua registram maior alinhamento entre áreas, menos retrabalho e ciclos de decisão mais rápidos. A cultura se torna menos dependente de figuras específicas e mais baseada em critérios objetivamente compartilhados.
Carla ressalta que o papel do líder não é o de se tornar indispensável, mas o de garantir que a empresa funcione com fluidez, independentemente de sua presença. O maior sinal de maturidade de uma liderança é ver a operação andar sozinha. A cultura é o que assegura que isso aconteça, afirma.
Fonte: Jornal Empresas e Negócios












