O cooperativismo brasileiro atravessa um ciclo de transformação e fortalecimento. Segundo o Anuário do Cooperativismo 2025, o país reúne mais de 4,3 mil cooperativas, 25 milhões de cooperados e quase 580 mil empregos diretos. O movimento, presente em 64% do território nacional, tem se consolidado como peça estratégica para o desenvolvimento econômico, social e territorial — embora o número de cooperativas tenha caído levemente nos últimos anos, de 4,6 mil em 2022 para o patamar atual.
Ainda assim, o setor mantém índices de longevidade que superam a média nacional: mais de 2 mil cooperativas já ultrapassaram duas décadas de atividade, enquanto dados do IBGE mostram que apenas 37% das empresas sobrevivem cinco anos após sua abertura. Para especialistas, essa resiliência está diretamente relacionada ao modelo de gestão participativa e ao compromisso com o impacto social.
Segundo Igor Sigiani, diretor-presidente da Coopercompany, primeira cooperativa brasileira do ramo de infraestrutura com foco em telecomunicações, tecnologia e energia, a renovação de liderança se tornou um dos pilares da sustentabilidade. “As cooperativas têm uma lógica diferente das empresas. Sem fins lucrativos, o foco é o resultado coletivo. Por isso, preparar novas lideranças significa formar pessoas comprometidas com o propósito do cooperativismo, que é gerar desenvolvimento sustentável e compartilhável”, afirma.
Digitalização e inovação no cooperativismo
A partir dessa visão sobre a importância da formação de lideranças, o cooperativismo tem ampliado sua capacidade de inovação com a incorporação de novos perfis e competências. E, neste contexto, a entrada da geração Z e de jovens empreendedores no sistema vem modernizando práticas de gestão e ampliando o alcance do modelo por meio de novas soluções digitais e maior abertura para experimentação.
O segmento de infraestrutura e tecnologia, por exemplo, exemplifica esse avanço com projetos de conectividade, que integram aplicações de inteligência de dados, e fortalecem operações de pequeno e médio porte com o uso de ferramentas digitais.
No Sul do país, a inovação guiada pela juventude apareceu no 4º encontro do IA Jovem, da Coopermil, que discutiu manejo de solo, qualidade agrícola e análises de mercado. A ação conectou conhecimento técnico para viabilizar estratégias que apoiam os produtores locais a acelerar o desenvolvimento de suas propriedades e aprimorar a eficiência das atividades no campo.
Agências e o novo significado para a geração digital
Esse movimento de modernização também alcança a forma como as cooperativas se relacionam com seus públicos e reorganizam seus espaços físicos. Com esse entendimento, a renovação promovida pelos jovens também tem se manifestado no modelo de relacionamento das cooperativas de crédito.
Com a redução de estruturas físicas por parte dos bancos tradicionais, o cooperativismo segue o caminho oposto e reforça a importância do atendimento humano. Essa expansão se conecta diretamente à busca das novas gerações por propósito, pertencimento e relacionamento. Segundo Roberta Porto, integrante do Comitê Jovem do Cooperativismo do Sistema Ocemg, o movimento reflete uma mudança de mentalidade. “Os jovens cresceram na era digital, mas buscam propósito e pertencimento nas relações. Quando encontram um espaço físico que representa isso, voltam a se conectar com a experiência de estar junto”, afirma.
A adoção de coworkings, auditórios e salas de formação reforçam a ideia de que a agência não é mais um local de transações, mas de troca e construção de identidade.
Intercooperação e protagonismo jovem
A combinação entre participação das novas gerações e novas tecnologias impulsiona também um ambiente mais colaborativo no cooperativismo brasileiro como um todo. O interesse crescente das novas gerações pela inovação e pela intercooperação aparece em iniciativas que unem tecnologia e integração entre cooperativas, como a parceria realizada entre o Comitê Jovem da Aliança Cooperativa internacional (ACI) e algumas cooperativas goianas.
A visita do Presidente Harsh Sanghani a cooperativas goianas apresentou projetos de nanotecnologia desenvolvidos em parceria entre cooperativas brasileiras e indianas e reforçou o método de troca de experiencias como ferramenta para desenvolvimento mútuo.
O gerente-geral da OCB/GO, Victor Rios, avaliou que a intercooperação se torna ainda mais estratégica quando mobiliza jovens líderes. “Quando cooperativas se unem, o potencial de crescimento se multiplica. A união amplia mercado, fortalece posições e cria oportunidades que, isoladamente, seriam difíceis de alcançar”, afirmou.
Fonte: Coopercompany com adaptações da MundoCoop












