As startups com serviços de inteligência climática estão dando um passo além. Até pouco tempo atrás, o acesso a dados meteorológicos, de riscos de incêndio e de umidade do solo eram restritos a institutos de pesquisa, seguradoras e agroindústrias. Mas há um interesse crescente do mercado por agtechs que baseiam seu modelo de negócio em previsão do tempo e tomadas de decisão a partir da análise de dados climáticos.
Recentemente, a Cyan Analytics, empresa de inteligência climática, captou R$ 2 milhões de investidores em uma rodada estruturada pela Arara Seed, plataforma de investimentos coletivos em agtechs.
“Estamos vivendo a primeira geração de agtechs climáticas realmente maduras no Brasil. Startups como a Cyan estão democratizando o acesso a dados meteorológicos com plataformas simples e aplicáveis diretamente no dia a dia do campo”, diz Henrique Galvani, CEO da Arara Seed.
O principal serviço da Cyan é fazer interpretações climáticas, análise de balanço hídrico e monitoramento de fogo, explica Igor Amarolli, principal executivo da empresa. A empresa já acompanha 8 milhões de hectares, grande parte de cana-de-açúcar em São Paulo.
A startup utiliza dados de satélites, radar, informações públicas e dados próprios como fontes para fornecer informações aos seus cerca de 80 clientes. “São grandes usinas, empresas de reflorestamento, de seguro agrícola e crédito agrícola”, diz Amarolli.
Em sete anos, a Cyan cresceu com recursos próprios, mas decidiu recorrer a uma captação para acelerar o lançamento de produtos e contratar mais pessoas. “O sucesso foi tão grande que resolvemos fazer extensão para R$ 4 milhões. Nos próximos 30 dias, fecharemos mais R$ 2 milhões em captação”, conta o executivo.
A startup chamou atenção da Arara Seed por atuar em uma “dor latente do agro”, que é o risco climático. “Muita gente ainda avalia crédito rural e seguros agrícolas apenas olhando score, CPF ou imposto de renda”, diz Galvani.
A startup faturou R$ 8,5 milhões em 2024 e prevê atingir R$ 12 milhões em 2025. A projeção é crescer sete vezes até 2029, o que significa faturar R$ 60 milhões até lá.
Outra startup que decidiu apostar em dados públicos de satélites e tecnologia própria para avaliações climáticas é a Guarda. Luiz Fernando Guerreiro e Paula Mendes Caldeira, que a criaram há um ano, notaram uma “bomba-relógio”. “Um país superdependente do agro, mas com cobertura de seguro muito baixa”, diz Guerreiro.
A partir de inteligência artificial própria, as imagens de satélite são analisadas talhão por talhão. Segundo os empreendedores, a ideia é criar seguros paramétricos personalizados para cada cliente. “O clima representa cerca de 70% do risco do produtor”, acrescenta.
O plano é que o produtor fique com uma porcentagem do valor segurado. “Se ficar 20 dias sem chover, ele recebe ‘X’ sacas de soja; se ficar 30 dias, recebe mais.”
A Guarda já recebeu um investimento-anjo de R$ 2 milhões em 2024, e prepara para uma nova rodada nas próximas semanas, sem valor estimado revelado. “Estamos no início de uma transformação inevitável. A inteligência climática vai deixar de ser um diferencial competitivo para se tornar infraestrutura básica no agro”, diz.
Fonte: Globo Rural com adaptações da MundoCoop












