A preservação do solo e o uso responsável da biodiversidade são hoje pilares centrais para qualquer projeto de desenvolvimento sustentável. O equilíbrio entre produtividade e conservação se tornou, além de uma exigência ambiental, uma necessidade econômica tendo em vista um mundo cada vez mais atento às mudanças climáticas e à escassez de recursos naturais.
Nesse cenário, o Brasil, ocupa uma posição estratégica para provar que crescimento e sustentabilidade podem caminhar em conjunto.
Entre os atores que têm liderado esse movimento de preservação, as cooperativas se destacam, tanto pelo compromisso socioambiental quanto pelo engajamento comunitário. Seja no campo ou na floresta, organizações vêm mostrando que é possível aliar inovação, geração de renda e preservação ambiental por meio de sistemas de produção integrados.
O setor tem fortalecido sido ferramenta importante para o desenvolvimento de comunidades locais, mas também cria soluções que têm inspirado outros setores da economia.
Biodiversidade que gera renda
O potencial produtivo da biodiversidade é visível em várias frentes. Em Minas Gerais, agricultores familiares ligados à Sicredi Conexão investiram na instalação de colmeias sem ferrão em cafezais. A experiência resultou em maior produtividade, melhor qualidade dos grãos e ainda abriu uma nova frente de negócios com a comercialização de mel e derivados. Além dos ganhos econômicos, a iniciativa impulsionou o reflorestamento de nascentes e a recuperação da flora nativa.
A apicultura também transformou a realidade de agricultores na Mata Sul pernambucana. A Cooates, com a marca Vale do Una, conquistou espaço no mercado interno com mel e própolis vermelho e já mira o cenário internacional com o apoio da OCB e da ApexBrasil. Assim como em Minas, a estratégia combina geração de renda, preservação ambiental e inserção competitiva em cadeias globais de valor.
Esses exemplos dialogam com a experiência da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), no Pará, que aposta em sistemas agroflorestais capazes de integrar até 15 culturas em um mesmo espaço. A diversidade de espécies, como cacau, açaí e pupunha, garante resiliência frente a secas severas e mantém fluxo contínuo de renda.
Saiba mais sobre o trabalho da Camta, o segundo episódio da série especial COOP É COOP.
Floresta em pé e bioeconomia amazônica
Na Amazônia, o extrativismo sustentável é a chave para unir conservação e desenvolvimento. A Cooperar, localizada na Floresta Nacional do Purus (AM), reúne 161 cooperados que produzem cacau nativo, castanha, óleos e frutos desidratados. Mais do que renda, a iniciativa consolida cadeias produtivas baseadas nos saberes tradicionais e garante que a floresta permaneça em pé.
O mesmo espírito move a Coopercintra, no Acre, responsável por estruturar a cadeia do óleo de murumuru. A produção anual de 20 toneladas abastece grandes marcas de cosméticos no Brasil e no exterior e valoriza a floresta acreana, ampliando oportunidades para mais de 50 comunidades envolvidas.
Comparados, os dois casos revelam a amplitude da bioeconomia amazônica, de pequenas comunidades extrativistas a polos de insumos reconhecidos internacionalmente. Ambos demonstram que é possível transformar biodiversidade em motor de desenvolvimento sem renunciar à preservação da floresta.
Energia e inovação tecnológica
O cooperativismo também tem se destacado em frentes ligadas à inovação energética e tecnológica. Em Alagoas, a capial resgatou o cultivo da mamona como matéria-prima para biodiesel. O plantio consorciado com feijão, gergelim e amendoim garante diversificação produtiva, fortalece a segurança alimentar e contribui para as metas de transição energética do país.
Enquanto isso, em Minas Gerais, a Coopercam decidiu investir em alta tecnologia para o café. A aquisição de uma máquina suíça equipada com inteligência artificial para classificação de grãos, uma das cinco existentes no mundo, posiciona os cooperados na vanguarda da produção global. A inovação garante análises mais precisas, melhora a qualidade do produto e reforça a competitividade internacional.
Esses dois exemplos ilustram a flexibilidade do cooperativismo para atender às demandas locais. No Alagoas, a busca por alternativas energéticas, no Sul de Minas, a aposta em tecnologia de ponta. Em comum, está a visão de futuro que une sustentabilidade e inserção em mercados cada vez mais exigentes.
Saberes tradicionais e protagonismo social
Além dos ganhos econômicos e ambientais, o cooperativismo fortalece a identidade cultural e a inclusão social. No município de Buíque, em Pernambuco, a Cooperativa de Mulheres do Catimbau aposta no uso sustentável do licuri, palmeira nativa da Caatinga. O projeto alia ciência, saberes tradicionais e inovação produtiva, promovendo geração de renda e fortalecendo o protagonismo feminino em uma região marcada por desafios socioeconômicos.
Assim como no caso da Coopercintra, que valoriza comunidades amazônicas, a cooperativa de Buíque mostra que inclusão social e preservação ambiental não são caminhos paralelos, mas complementares.
Essas experiências reforçam que, além de agentes econômicos, as cooperativas são também espaços de transformação social, com atuações atendem tanto as demandas das comunidades quanto do meio ambiente.
Um caminho coletivo para o futuro
um movimento ganha força nos biomas brasileiros e aponta uma direção comum: o cooperativismo surge como peça-chave para converter a vasta biodiversidade nacional em desenvolvimento sustentável. Seja por meio da polinização em cafezais, do extrativismo na floresta ou do manejo de palmeiras nativas.
A integração de produção, conservação e inovação cria oportunidades econômicas e fortalecem um novo modelo de crescimento, no qual os ganhos financeiros convivem, também, com a manutenção dos ecossistemas.
Por João Victor – Redação MundoCoop