A desigualdade social é um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento sustentável dos países pobres. Governos, muitas vezes, encontram limitações para responder de forma eficaz às necessidades de suas populações, seja pela escassez de recursos, seja pela dependência de modelos econômicos que concentram renda e marginalizam milhões. Nesse cenário, o cooperativismo surge como alternativa concreta e transformadora, capaz de reorganizar a economia e dar base prática àquilo que chamamos de Democracia da Cooperação
O que é a Democracia da Cooperação
A Democracia da Cooperação é uma proposta socioeconômica que organiza a vida coletiva da base ao topo, valorizando a participação ativa dos cooperadores e o uso equilibrado dos recursos. Diferente da lógica capitalista, em que poucos concentram muito, esse modelo busca garantir que necessidades individuais e coletivas sejam atendidas com justiça e transparência. O cooperativismo é o mecanismo ideal para aplicar essa visão, pois já nasce do princípio de que cada associado é dono e, ao mesmo tempo, beneficiário.
Por que os países pobres precisam desse modelo
Nos países pobres, grande parte da população vive à margem do sistema financeiro tradicional e do mercado formal de trabalho. A Democracia da Cooperação oferece:
Autonomia financeira: cooperativas de crédito, de produção ou de consumo permitem acesso a recursos antes negados.
Sustentabilidade econômica: a riqueza gerada permanece na comunidade, evitando a fuga de capitais.
Educação contínua: a prática cooperativista fortalece a consciência cidadã e o exercício democrático.
Segurança social: ao unir forças, comunidades pobres conseguem garantir saúde, alimentação e trabalho de forma estável.
O cooperativismo como organizador do processo
A aplicação prática da Democracia da Cooperação depende da organização em rede. O cooperativismo oferece estruturas para isso:
Na base, cooperativas singulares resolvem necessidades imediatas de grupos locais.
No nível nacional, o que chamamos de Superfederalismo cooperativo organiza e integra diferentes ramos (saúde, crédito, produção, consumo), garantindo escala e eficiência.
No plano internacional, as redes de intercooperação e propostas como o Contifederalismo conectam países, dando força global às comunidades antes isolado.
A Democracia da Cooperação não é apenas uma teoria: é um caminho viável para transformar pobreza em autonomia e vulnerabilidade em participação. Mais do que um projeto econômico, é um projeto civilizatório, que coloca a solidariedade e a justiça social como fundamentos de uma nova organização mundial. Para os países pobres, pode significar a passagem da dependência para a dignidade.
Rosalvi Monteagudo é contista, pesquisadora, professora, bibliotecária, assistente agropecuária, funcionária pública aposentada e articulista na internet.