O cooperativismo, modelo que une desenvolvimento econômico e impacto social, vive um processo de renovação em escala global. Nos últimos anos, a participação dos jovens cresceu de forma consistente, tanto no Brasil quanto no mundo, sinalizando uma nova fase para o movimento.
Em diferentes países, eles têm assumido cargos de liderança, estruturado comitês temáticos e impulsionado transformações ligadas à inovação, à sustentabilidade e à inclusão. No cenário brasileiro, essa tendência também se fortalece, com cada vez mais jovens buscando espaço em conselhos, diretorias e projetos estratégicos, trazendo um olhar contemporâneo para a gestão das cooperativas.
Em Minas Gerais, esse processo se traduz de forma concreta. O crescimento da participação juvenil ganhou fôlego a partir de iniciativas do Sistema Ocemg, que, em 2022, criou o Comitê Estadual de Jovens Cooperativistas de Minas Gerais. Desde então, o grupo vem se consolidando como espaço de escuta, formação e liderança, para conectar diferentes ramos e viabilizar o desenvolvimento da juventude de maneira efetiva para a renovação do movimento cooperativo no estado.
Nos últimos três anos, o Comitê vem acumulando resultados expressivos. Foram 16 comitês locais constituídos entre 2022 e 2024, 35 reuniões pontuais com cooperativas e cinco workshops regionais que reuniram lideranças em cidades estratégicas, como Montes Claros, Uberlândia e Governador Valadares.
Além disso, o grupo esteve presente em fóruns estratégicos nacionais e internacionais, como o World Coop Management (WCM), no qual liderou o debate sobre sucessão, colaboração intergeracional e inovação.
De espaço consultivo a agente de transformação
Para Gabriel Camargos, membro do ramo Agro, os avanços já são palpáveis e mostram como os jovens têm conquistado espaço de forma estruturada dentro do Sistema Ocemg. “O Comitê de Jovens tem como objetivos estratégicos estimular a participação da juventude, fomentar a formação de lideranças, incentivar a inovação e contribuir para a renovação do cooperativismo mineiro. Esses objetivos vêm sendo traduzidos em diversas ações práticas junto às cooperativas. Passamos de três reuniões ordinárias em 2022 para cinco em 2025, além de promover 35 encontros pontuais com cooperativas. Também tivemos a publicação de 12 matérias no Jornal Cooperação e sete edições do programa Portas Abertas abordando a juventude.”, afirmou.

Essas iniciativas refletem a busca por consolidar um espaço de protagonismo juvenil. Segundo ele, a presença em eventos estratégicos tem sido essencial para a para colocar Minas Gerais como referência no debate sobre juventude cooperativista. “Participamos do World Coop Management em 2022, 2023 e 2024, inserindo Minas Gerais no debate nacional e internacional sobre o futuro do cooperativismo. Além disso, os insumos das rodas de ação e do Encontro de Jovens são sistematizados e transformados em propostas concretas para o Sistema Ocemg.”
Juventude no centro da gestão
Essa trajetória evidencia como o Comitê tem ampliado sua relevância, passando de um espaço consultivo para um ambiente de construção prática, em que os jovens influenciam diretamente na tomada de decisão. A presença em espaços decisórios é um dos maiores avanços recentes e reflete o reconhecimento da capacidade da juventude em contribuir de forma estratégica para o futuro do setor.
Para Gabriela Oliveira, membro do Comitê no ramo Agro, isso responde a uma demanda crescente. “Cada vez mais o jovem se torna peça fundamental para a sustentabilidade das cooperativas e para o cooperativismo do futuro. O Comitê foi criado para fortalecer esse elo, incentivando a formação de comitês internos e oferecendo trilhas de aprendizado em governança, finanças cooperativas e ética. Munimos os jovens de conhecimento e os encorajamos a ocupar cargos estratégicos, tornando-se protagonistas engajados e grandes cases de sucesso.”, comentou.
Já Hendrik Laviola, do ramo Crédito e representante mineiro no Comitê Nacional da OCB, destaca a importância de preparar a nova geração para os desafios do setor e defende que o protagonismo juvenil deve ser visto como parte essencial da governança cooperativista. “Desde sua criação, o Comitê tem trabalhado junto à Ocemg em projetos que inserem a juventude no debate sobre tecnologia, transformação digital e novas formas de gestão. Um eixo central é a formação de jovens para espaços estratégicos. A Jornada de Formação Jovem Liderança, via CapacitaCoop, prepara essa juventude para conselhos, diretorias e gestão, garantindo a continuidade e renovação do movimento.”
Segundo ele, os encontros estaduais também têm servido como laboratórios de inovação. “Em 2024 e 2025, jovens desenvolveram soluções para diversidade, equidade, inclusão e práticas sustentáveis. Isso garante que o Comitê seja espaço de representatividade e coloca os jovens como agentes de mudança, trazendo ideias para desafios históricos.”
Inovação, sucessão e impacto social
A transição para uma nova geração de líderes exige inovação, e esse é justamente o diferencial apontado pelos membros do Comitê, como João Paulo Silva, do ramo Crédito. Para ele, o diferencial dos jovens está em sua capacidade de modernizar a operação e difundir o cooperativismo. De acordo com o membro, essa contribuição vai desde a digitalização de processos até a ampliação da visibilidade do modelo entre o público jovem. “Eles trazem facilidade com tecnologia, podem ajudar na digitalização com plataformas, aplicativos e inteligência artificial. Também podem ser multiplicadores da cultura cooperativista em escolas, universidades e redes sociais, conectando a juventude a temas como sustentabilidade, inclusão financeira e economia colaborativa.”

Joice Nunes, também do ramo Crédito, amplia a perspectiva e aponta quatro pilares essenciais na estratégia do comitê. “Nossas prioridades estão em formação e protagonismo jovem; inclusão e diversidade; sustentabilidade e inovação; e conexão com a sociedade. Queremos um movimento mais inclusivo, conectado à realidade da juventude, às causas sociais e ao desenvolvimento local. O jovem não é apenas o futuro, mas o presente do cooperativismo.”
Esses pilares reforçam que a juventude não se limita a dar continuidade ao movimento, mas busca redesenhá-lo para que seja mais inclusivo, inovador e alinhado às demandas da sociedade contemporânea. Cada frente de atuação consolida um novo papel para os jovens, transformando-os em protagonistas ativos da governança cooperativista.
ESG e os novos caminhos para o futuro
E a consolidação desses pilares encontra força no debate sobre sustentabilidade. O debate sobre ESG reforçou a maturidade da juventude cooperativista. Para Roberta Porto, do ramo Trabalho, os valores do cooperativismo já estão alinhados ao conceito. “Nós cooperativistas sempre fomos ESG. Entre jovens de 18 a 35 anos, incorporar essa perspectiva significa potencializar a força transformadora do movimento, garantir sucessão e retenção de talentos e preparar novas lideranças comprometidas com inclusão e inovação.”
Seguindo a mesma linha, o tema ESG foi incorporado como parte estratégica da pauta da juventude cooperativista, conectando tradição e inovação. Hendrik e Roberta complementam e ressaltam que o olhar dos jovens sobre impacto social amplia o alcance do modelo cooperativista. “Os jovens trazem energia, capacidade de inovação e domínio das tecnologias digitais, atributos fundamentais para acompanhar as mudanças da sociedade. Além disso, possuem visão ampliada de impacto social, que vai além do resultado econômico e impulsiona diversidade e responsabilidade socioambiental.”, apontou.
A reflexão também aparece na fala de Raíssa Michalsky, ex-membra do Comitê Jovem, que destaca a importância de superar barreiras culturais e hierárquicas para consolidar o protagonismo juvenil. “Ainda há desafios, como estruturas hierárquicas rígidas e a necessidade de abrir mais espaço em conselhos e diretorias. Mas vejo o cooperativismo como um espaço fértil para novas lideranças. O diferencial estará em conectar a experiência das lideranças atuais com a energia das novas gerações. Quando tradição e inovação se encontram, o resultado é poderoso.”
Um case de sucesso em Minas Gerais
Os workshops regionais, a sistematização de propostas, a criação de comitês locais e a presença ativa em eventos estratégicos mostram que a iniciativa mineira não se limita à teoria e tem ganhado destaque na transformação das diretrizes em práticas concretas.
O Comitê tem garantido resultados exitosos na garantia da manutenção do setor cooperativo, assim como na estruturação de novas demandas alinhadas aos rumos da sociedade.
Por João Victor, Redação MundoCoop