Dado o grau de complexidade do tema, gostaria de propor um exercício que nos ajude a compreender cada etapa da construção do conhecimento que será desenvolvido ao longo deste artigo.
Recentemente, durante uma interação no mestrado que estou cursando, participei de uma discussão em grupo — éramos nove pessoas — sobre a resposta que apresentaríamos ao professor de ética e humanidades, a partir da seguinte provocação feita por ele: “O que torna uma empresa confiável?”.
Enquanto entrávamos no looping de relatos pessoais em busca de uma resposta, fiz uma pausa mental e me questionei: mas o que seria confiança? Com isso em mente, propus uma reflexão ao grupo — e, a partir daí, reconfiguramos o sentido da nossa resposta
O ponto que quero destacar com essa experiência é a importância de dar competência às palavras. São as palavras que nomeiam nossos sentimentos e ajudam a dar sentido àquilo que estamos fazendo.
Portanto, para tomarmos decisões assertivas e humanizadas — especialmente em uma era marcada pelo afastamento nas relações —, se faz necessário, antes de tudo, compreender profundamente o que esses conceitos significam. Essa compreensão precisa ser construída de forma coletiva, para que possamos aprimorar nossos processos individuais de tomada de decisão, que, inevitavelmente, impactam o coletivo.
Primeiro, o que são decisões?
Para a neurociência, decisão “é um processo onde o cérebro avalia opções diferentes e escolhe um curso de ação ou crença”. Ou seja: processo, avaliação, ação e crença.
Se desconstruirmos cada um desses quatro passos e nos dedicarmos a aperfeiçoar continuamente sua aplicação, criaremos um ambiente mais propício à tomada de decisões assertivas, respeitando as variáveis do ambiente e/ou do objetivo que estamos buscando.
Mas de que forma nos relacionamos com esse processo? A resposta está no circuito de recompensa do cérebro.
Esse sistema é responsável pela regulação e sensação de prazer e satisfação, estimulando comportamentos que levam à sobrevivência e ao bem estar. Ele é composto pela área tegmental ventral (VTA), que é a região chave no circuito de dopamina, pelo núcleo accumbens, conhecido como o “núcleo do prazer”, e o córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões e autorregulação.
As funções principais do mecanismo de recompensa do cérebro são: motivação e aprendizagem, sobrevivência, adaptação, regulação emocional e TOMADA DE DECISÃO.
Agora que já exploramos parte do funcionamento fisiológico do processo decisório, é hora de analisar as variáveis centrais que percorrem esse circuito — e que, para tomarmos decisões mais conscientes, precisamos aperfeiçoar e transformar em cultura dentro do nosso processo de escolha.
Risco e recompensa
A consciência que desenvolvemos sobre essas duas variáveis impacta diretamente todas as decisões que tomamos — e ainda tomaremos — ao longo da vida.
Mas como enxergar com nitidez dentro dessas variáveis? O primeiro passo é o enfrentamento de nossos vieses.
Nossas crenças podem nublar nossas escolhas, e nos conduzir a uma cultura de processos decisórios que abraçam o que acreditamos desconsiderando, muitas vezes, o que realmente precisa ser feito.
Tendemos a decidir pelo que faz sentido para nós, mas nem tudo que faz sentido é, de fato, real. O caminho é estabelecer valores como base para nossas resoluções. E é importante lembrar que crenças não são valores: crenças são ideais sobre o que é verdade. Valores são princípios que guiam a vida de um indivíduo (e existem independentemente de nossas crenças) e, por isso, estão acima daquilo que acreditamos ser verdade.
Valores influenciam comportamentos em detrimento de um objetivo, mas não são nossas atitudes, nem nossas normas, muito menos nossa personalidade. Valores não definem quem somos. Definem o que achamos ser importante.
Ter clareza dessa distinção nos oferece um filtro inicial na hora de julgar os riscos e recompensas envolvidos em uma escolha, permitindo que fujamos do imediatismo comum e passemos a optar por aquilo que é mais sustentável e coerentes.
A aprendizagem é, em grande parte, involuntária. Não podemos simplesmente escolher não aprender com o que vivemos
Mas, afinal, o que isto tem a ver com humanização?
Temos a tendência de optar pelo que nos traz mais recompensas imediatas, mas isso pode se tornar insustentável na construção de relações, tanto dentro, quanto fora do ambiente corporativo.
Aprender a decidir de forma assertiva impacta diretamente nossas relações sociais. Isso porque, embora uma decisão seja tomada de forma individual, seus efeitos reverberam no coletivo mais imediato — que é nossa família e ciclo de amizades —, até nas pessoas que nem conhecemos, mas que podem ser alcançadas por seus desdobramentos.
A aprendizagem é, em grande parte, involuntária. Não podemos simplesmente escolher não aprender com o que vivemos. Tudo o que experimentamos está, de algum modo, sendo armazenado, assimilado e, ainda que inconscientemente, utilizado.
Encerro aqui como sempre costumo fazer em minhas aulas e palestras sobre humanização corporativa: se quisermos ser profissionais melhores, precisamos, primeiro, ser pessoas melhores. E um dos primeiros passos nesse sentido é revisitar, desconstruir e reaprender a forma como tomamos decisões.
Sua decisão nunca será apenas sua.
Wesley Barbosa é Fundador da EduTech Become School, professor da Fundação Dom Cabral em liderança contemporânea e neurociências da performance, ex-executivo do Facebook (Meta) no Vale do Silício e do Baidu em Pequim, ex-sócio da XP Investimentos, e Idealizador da ONG chancelada pela Nações Unidas e acelerada por Stanford “Ajude o Pequeno”.