COLUNA PROPÓSITO EM MOVIMENTO: Raízes, Rumos & Reflexões
As assembleias de cooperativas se convertem na maior expressão de exercício democrático da propriedade coletiva e assim sua relevância é inquestionável.
Certamente temos espaços de evolução para torná-las menos protocolares e mais inclusivas, mais diversas e participativas no sentido numérico e qualitativo. Portanto, esse é um importante tema de casa que temos para evoluir no ambiente de dar vez e voz, de forma cada vez mais assertiva, aos donos.
Em geral o setor vem colhendo frutos de sua atuação cada vez mais profissional e competente, apresentando resultados significativos que, quero acreditar estejam alinhados aos valores e princípios cooperativistas com o propósito de promover a prosperidade do seu quadro social, da cooperativa e de seu entorno.
Muitas vezes acompanho assembleias e vejo o orgulho da liderança em demonstrar os avanços conquistados durante o período, com muito esforço, trabalho e comprometimento com os objetivos da coletividade.
Contudo, por vezes me parece que algumas coisas muito essenciais escorrem entre os dedos da mão.
Em especial fico entusiasmado quando vejo que a cooperativa fez algo relevante, mas na medida em que vou estufando o peito, tomado por um sentimento de completude, porém, ao final, em alguns casos, o ar me foge dos pulmões e fica um gosto menos saboroso daquele que poderia ser.
Por exemplo, vejo que a cooperativa revitalizou toda a mata ciliar do rio das águas, que promoveu a educação financeira para ‘X’ pessoas, que proporcionou economia e distribuiu resultado financeiro entre os cooperados, que investiu ‘X’ valor em um fundo social que atendeu ‘X’ organizações, que abriu novas agências em ‘X’ lugares, etc..
Essa é a parte que me entusiasmo, que estufo o peito!
Mas quando em nenhum momento é dito o porquê a cooperativa está fazendo todas estas coisas, então, é aí que o sentimento de que algo muito importante está faltando, fico com a impressão de que esta história está sendo mal contada, está sendo contada sem a parte principal, ou seja, o motivo, a razão pela qual a cooperativa faz estas coisas, não está sendo dita!
Quer ver como poderia ser mais bem contada?
Por exemplo: “Investimos na revitalização da mata ciliar do rio das águas aqui da nossa cidade, porque, enquanto cooperativa, nós temos um compromisso inegociável com a nossa comunidade! Atuamos fortemente para a preservação e revitalização do meio ambiente, para a melhoria da qualidade de vida e para a sustentabilidade do planeta, em consonância com nosso princípio do interesse pela comunidade…” ou ainda: “O investimento em educação financeira, que alcançou X famílias, aqui na nossa cidade, muito além de estar alinhado com a estratégia nacional de educação financeira, faz parte da nossa essência cooperativista, porque entendemos que uma das ações mais significativas para combater a desigualdade social, criando um futuro mais inclusivo, digno e de oportunidades é promovendo o conhecimento…”
Veja que assim, damos luz ao porquê fazemos o que fazemos, evidenciando o que somos e o porquê somos, enaltecendo os nossos efetivos diferenciais e propósito, enquanto cooperativa.
Então, seguindo a lógica de Simon Sinek, precisamos destacar os porquês, pois é ali que tudo começa, é ali que se encontra a essência de nossa motivação de existir e é ali que as coisas fazem sentido dentro do nosso contexto. Portanto, temos o dever imaculado de contar direito essa história, aculturando nosso público interno nas AGs e contribuindo para disseminar a nossa proposta de valor e nosso propósito diferenciado, a fim de que sejam cada vez mais percebidos e reconhecidos por toda a sociedade, no sentido de que o cooperativismo continue ainda mais forte, alcance mais pessoas e comunidades, em sua jornada em favor da prosperidade coletiva e da vida.
Se sermos reconhecidos como cooperativa é algo imprescindível para a nossa sustentabilidade, então não podemos nos dar ao luxo de nós mesmos não nos reconhecermos!
*Por Silvio Giusti, Consultor sênior, palestrante e articulista em cooperativismo

Reportagem exclusiva publicada na edição 124 da Revista MundoCoop