A necessidade de propósito, colaboração e impacto social fazem parte do rol de características presentes na juventude atual. Hoje, os objetivos profissionais almejados pelas gerações Z e Alpha não se resumem em apenas um emprego bem remunerado, destacando a ambição em contribuir em projetos para o bem coletivo como o essencial para a felicidade no trabalho. E é neste ponto em que cooperativismo pode atuar.
O Painel de Dados do Cooperativismo Financeiro aponta que as instituições financeiras cooperativistas no Brasil contam com mais de 3 milhões de jovens na faixa etária de 18 a 30 anos, o que abrange parte considerável da geração e traduz o interesse da população mais nova com os valores divulgados pelo cooperativismo.
Entretanto, a adesão das gerações Z e Alpha ao cooperativismo cria um novo desafio para as gestões das cooperativas: alinhar a linguagem e a abordagem utilizadas pelas instituições, a fim de estimular o engajamento dos mais novos, mas atentando-se aos hábitos dos cooperados mais velhos.
As iniciativas de interação entre gerações facilitam a troca de conhecimentos e a inovação sustentável, preparando novos líderes e garantindo a sucessão do setor de maneira mais espontânea. Sob este entendimento, o Sistema Sicredi tem apostado no fortalecimento das ações intergeracionais dentro da gestão e na modernização dos conteúdos digitais.
Dentre as iniciativas para estreitar o interesse das gerações mais novas, o Comitê Jovem do Sicredi abre espaço para jovens cooperativistas por meio de treinamentos que apresentam soluções para os desafios enfrentados pela instituição e os benefícios sociais trazidos pela cooperativa para seus associados. As seções lideradas por cooperados voluntários e gestores são direcionadas ao entendimento das demandas atribuídas à cooperativa e promovem um ambiente de debate sobre como as decisões para o gerenciamento da cooperativa são definidas, proporcionado possíveis novas soluções.
Já nas redes sociais, o Sicredi também aposta na produção de conteúdos que se aproximam dos materiais consumidos pelos Zoomers, como a verticalização e encurtamento dos vídeos publicados nas redes.
Essa mudança tem sido comum no mundo corporativo, e outros sistema como Sicoob e Unimed também têm se empenhado em expandir a sua presença nas plataformas digitais, através de reels, posts interativos e podcasts.
Desafios para a interação intergeracional nos meios digitais
A produção de vídeos curtos e dinâmicos no TikTok, Instagram e Facebook tem sido uma ótima solução para atrair o público jovem ao cooperativismo. Contudo, a participação dos meios digitais no cotidiano tomou proporções capazes de também se tornar realidade na rotina de gerações mais antigas
Com isso, os líderes responsáveis pelo planejamento estratégico de comunicação se tornaram responsáveis também pelo alinhamento da linguagem utilizada nessas plataformas, para garantir que o significado do discurso seja mantido enquanto se adapta aos diferentes códigos geracionais.
As cooperativas de saúde, por exemplo, têm investido em séries de podcasts explicativos sobre saúde preventiva, o que tem tido grande apelo pelo formato e pela profundidade dos temas abordados, que agrada tanto jovens, pela praticidade, quanto o público mais experiente, pela profundidade das informações.
Dentre as práticas apresentadas por elas, em diferentes ramos, é possível notar que o plano estratégico de comunicação digital passa por 4 pilares principais, sendo eles:
- Conteúdo em Camadas: O oferecimento das informações em formatos diferentes democratiza o acesso aos conteúdos;
- Transmídia: A atenção sobre o público de cada rede social facilita a adaptação inteligente da mensagem para diferentes plataformas. Um mesmo tema sobre cooperativismo financeiro pode ser trabalhado como reel no Instagram, vídeo no Youtube ou artigo no site da cooperativa;
- Mentoria Cruzada: A junção de times multigeracionais na produção de conteúdos é uma forma de unir inovação e tradição. Os mais jovens trazem tendências digitais, enquanto os veteranos garantem precisão técnica.
- Inteligência de Dados: As análises métricas de engajamento por idade ou gênero são ferramentas importantes para medir a efetividade das ações. Para casos no qual haja a necessidade de mudança, as informações coletadas guia nas decisões para o desenvolvimento de novos métodos de divulgação.
Integração cooperativista brasileira como referência mundial
O modelo brasileiro de integração intergeracional no cooperativismo tem ganhado destaque mundial, como comprovam os reconhecimentos recebidos pelo Sicredi no Fórum WYCUP 2020. Os resultados das iniciativas de integração jovem na gestão cooperativista são notados pela dimensão do Comite Jovem do Sicredi, que está presente em 21 cooperativas dos estados do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro e integra cerca de 600 membros ativos na formação de novas lideranças.
O sucesso dessas ações também pode ser notado pelas conquistas trazidas pelos formados do programa. O case do associado Vinícius Mattia, de 26 anos, com seu projeto “Agricultura Familiar e Alimentos Sustentáveis”, ficou entre os três melhores do mundo no World Council Young Credit Union People (WYCUP), enquanto o polonês e vencedor da WYCUP, Piotr Palka, adaptou em seu país as boas práticas aprendidas durante visita ao Summit Jovem do Sicredi no Brasil, em 2019.
Essa troca de conhecimentos entre gerações tem se mostrado uma estratégia vencedora para o desenvolvimento de um cooperativismo inovador e sustentável. Dos sete projetos finalistas no WYCUP 2020, que abordavam desde educação financeira até geração de oportunidades para mulheres, todos compartilhavam uma característica comum: combinavam a visão de mundo dos jovens com a experiência já presente e aplicada no setor.
Por João Victor – Redação MundoCoop