Na última década, o cooperativismo de crédito alcançou números que o colocaram em um outro patamar, competindo diretamente com grandes instituições bancárias. Presente em todo o país, cada vez mais brasileiros incluem em sua vida financeira uma instituição cooperativa. Para assegurar que os recursos desses associados estivessem seguros, há dez anos nascia o Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito, o FGCoop.
Assim como o Fundo Garantidor de Crédito, que protege recursos nas instituições tradicionais, o FGCoop garante a segurança de até R$250 mil por CPF ou CNPJ, de todas as pessoas que possuem conta em uma cooperativa de crédito, seja ela central, singular ou independente. Em 2023, o Fundo fechou o ano com um significativo aumento de seu patrimônio social, com mais de R$4 bilhões, representando um aumento de 36,6% em relação a 2022.
No contexto de sua criação, o FGCoop nasceu com o propósito de trazer mais confiança em relação às cooperativas de crédito, que no início da década passada, já trilhavam um caminho excepcional. “O FGCoop foi um exemplo de sucesso da intercooperação, agregando os líderes e técnicos do segmento em sua construção, em parceria com os técnicos do Banco Central. Desde dezembro de 2013 já estavam sendo tratadas as questões pré-operacionais do fundo, para abertura de contas nos Bancos Sicoob e Sicredi para recolhimento das contribuições”, contextualiza Lucio Faria, especialista em cooperativismo financeiro.
Foi no dia 10 de abril de 2014 que o primeiro Diretor Executivo assumiu o cargo, divulgando a circular FGCoop 0001 e iniciando, assim, as operações. Em junho, com a já aprovada política para cobertura de depósitos, o fundo tinha o suporte para cumprir sua principal missão. “O FGCoop já nasceu com o mandato de “paybox plus”, segundo definição da IADI – Internacional Association of Deposit Insurers: pagamento de depósitos e assistência financeira como medida de resolução de cooperativas. Porém, a fim de preservar o patrimônio nos primeiros anos para cobertura de depósitos, dando segurança aos associados de que haveria recursos suficientes, havia uma trava estatutária para início de operações de assistência financeira: o alcance de percentual do Patrimônio Social em relação ao volume de contas garantidas, inicialmente fixado em 1,5% e depois reduzido para 1%, em 2016. Com poucas ocorrências de liquidações extrajudiciais que ensejassem o reembolso de depósitos, em julho de 2018 o percentual foi reduzido para 0,6%, com o objetivo de propiciar o início das operações de assistência financeira”, explica Faria.
“O FGCoop desempenha um papel que vai muito além da cobertura de depósitos, aprimoramos as nossas atividades para que hoje pudéssemos fazer um trabalho preventivo” – Dr. Luiz Antônio, Presidente do FGCoop
Consolidação e evolução
A criação do FGCoop em 2014 marcou um avanço significativo no desenvolvimento do cooperativismo de crédito. Para o Dr. Luiz Antônio, Presidente do FGCoop, a instituição evoluiu conforme a necessidade dos associados, e hoje possui um papel bem mais complexo do que na sua fundação. “Hoje, o FGCoop desempenha uma tarefa que vai muito além da cobertura de depósitos, aprimoramos as nossas atividades para que hoje pudéssemos fazer um trabalho preventivo, acompanhando cada associada e monitorando de forma precisa o desenvolvimento de cada uma. Dessa forma, o nosso progresso é visível através do crescimento do cooperativismo de crédito em nosso país”, afirma o Presidente.
O FGCoop passou por inúmeras mudanças na última década. Entre muitos avanços, barreiras crônicas ainda são alvo dos principais debates no setor, trazendo temas essenciais para o avanço não só do Fundo, mas das cooperativas como um todo. “Em nosso país, uma das principais barreiras para o avanço do cooperativismo reside na falta de conhecimento sobre este setor. Muitas pessoas não estão familiarizadas com o funcionamento das cooperativas nem com os benefícios que podem proporcionar. Diante disso, há uma necessidade evidente de investimento contínuo na comunicação e divulgação do cooperativismo. É crucial empreender esforços para esclarecer efetivamente o conceito e as vantagens do cooperativismo para o público em geral”, ressalta Luiz Antônio, ao destacar que o órgão ainda contribui como aliado na busca por disseminar o modelo cooperativista, buscando atrair mais pessoas para esse modo único de se relacionar com os serviços financeiros.
Para Lucio Faria, o atual momento das cooperativas são uma prova do trabalho ímpar das instituições por trás do movimento, que operam de forma contínua para que o setor possa crescer de forma saudável. “O SNCC continua o seu processo de consolidação, reduzindo o número de cooperativas por meio de incorporações, fazendo com que as instituições se solidifiquem. Quando envolvem cooperativas saudáveis, que querem se fortificar, as soluções são internas aos sistemas. Porém, quando há necessidade de aporte, o FGCoop, por meio de assistência financeira, propicia a incorporação, com a proteção de seu patrimônio salvaguardada pelo retorno do montante aportado”, explica.
Ao garantir o reembolso de depósitos até o limite regulamentar no caso de liquidação extrajudicial de uma cooperativa, o Fundo Garantidor dá segurança a que os associados nela aportem os seus recursos, aumentando assim a confiança da própria população em buscar uma cooperativa para iniciar ou recomeçar sua vida financeira. “Porém, antes e mais importante que isso, ao realizar operações de assistência financeira para propiciar a incorporação de cooperativa em risco de descontinuidade, evitando que elas sejam liquidadas extrajudicialmente, o FGCoop contribui para a estabilidade do sistema de crédito cooperativo e mitigação de risco de imagem”, finaliza Faria.
Em um momento de transição, o FGCoop olha para o fortalecimento do digital como uma oportunidade de explorar novos caminhos, principalmente na busca por expandir a participação das cooperativas, em meio a um mercado cada vez mais competitivo. “Nos últimos anos, o setor de serviços financeiros tem se adaptado ao mundo digital, uma vez que os consumidores estão cada vez mais conectados e buscando digitalizar suas atividades financeiras. O FGCoop continuará aprimorando sua equipe e a qualidade do trabalho, alinhado às melhores práticas nacionais e internacionais, para contribuir com o crescimento do cooperativismo da melhor forma possível”, conclui o Presidente.
“O Fundo equalizou a segurança de um cooperado ao aplicar suas economias” – Harold Espínola, Ex-Chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias do Banco Central
Harold Espínola, Ex-Chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias do Banco Central, fala à MundoCoop sobre a trajetória do FGCoop e o que a última década de atuação representa para o fortalecimento das cooperativas de crédito.
O cooperativismo de crédito tem no passado mais recente alguns marcos relevantes que alavancaram ainda mais o seu crescimento. Dentre outros, podemos citar a livre admissão (2003) e a Lei Complementar 130 (2009). Tão importante é a criação do FGCoop (Resolução 4.284, de 2013).
O Fundo equalizou a segurança de um cooperado ao aplicar suas economias, com a condição até então oferecida só aos clientes do sistema bancário. Isso foi mais um passo para a fidúcia no sistema cooperativo – e, confiança, é o bem essencial no ambiente financeiro.
Mas, o Fundo é muito mais do que o “seguro” dos investimentos dos cooperados. Há uma face menos visível ao público, todavia, essencial para a saúde do segmento das cooperativas de crédito: suas operações de assistência e suporte financeiro. Sim, o FGCoop auxilia as cooperativas a resolverem problemas de higidez ou liquidez e, mais além, viabiliza incorporações entre singulares. O apoio a cooperativas e oferecer caminhos para a solução de problemas representam fortalecimento para o SNCC e, de novo, se transformam em mais confiança no cooperativismo pelos cooperados e pelas comunidades.
Enfim, o FGCoop é um bem e uma ferramenta valiosos do cooperativismo de crédito brasileiro.
Parabéns por esses 10 anos de história!
Por Leonardo César – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop, edição 117
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