“Os dados mostram que, nos eventos climáticos extremos, a maior taxa de morte é de idosos, mas parece que ninguém dá importância, o que só indica o grau de etarismo da sociedade. A tragédia está se desenrolando na nossa frente. Idade, renda e raça são os fatores que determinam os principais grupos de risco”, afirma a especialista em planejamento urbano Danielle Arigoni, que acaba de lançar “Climate resilience for an aging nation” (“Resiliência climática para uma nação que está envelhecendo”). Ela diz que os mais velhos deveriam se juntar aos jovens para cobrar ações efetivas dos governos para deter o aquecimento global:
“Até os negacionistas, que insistem que não está havendo uma mudança climática, vêm sendo confrontados com a realidade. Dependendo da área onde moram, seus imóveis têm se desvalorizado, enquanto o valor do seguro residencial vem aumentando significativamente”.
Arigoni se refere ao Canadá, onde as apólices de seguro doméstico não param de subir para fazer frente à fúria da natureza: incêndios, tempestades severas, inundações e por aí vai. Eventos climáticos extremos são aqueles que ocorrem em volume acentuado e fora dos níveis normais – e o noticiário está cheio de tais registros. O desafio para uma pessoa vulnerável enfrentar tal situação é enorme, detalha:
“Normalmente, as agências que lidam com catástrofes naturais não têm um encarregado de ‘velhice’. Nos EUA, as medidas de proteção dos cidadãos incluem os idosos que estão em instituições de longa permanência, mas a maioria não vive nesses locais. Dos 65 anos em diante, temos uma grande diversidade de indivíduos, e uma boa parcela mora só, às vezes com uma demência não diagnosticada. São pessoas que ficam dias sem ver outro ser humano. Dou um exemplo simples: como alguém com problemas de mobilidade vai sair e procurar ajuda durante um longo apagão se seu apartamento é num andar alto? Se é aposentado, será que terá renda para estocar mantimentos e medicamentos para uma emergência?”.
Arigoni lembra que, mesmo sem catástrofes, as mudanças climáticas já provocam impacto, como as ondas de calor cada vez mais frequentes e especialmente perigosas para os velhos. Há uma interseção clara entre aquecimento global e saúde pública, como mostrei em coluna recente: estudantes de medicina vêm se mobilizando para incluir o assunto no currículo das faculdades porque as emergências dos hospitais estão testemunhando um afluxo de casos relacionados ao desequilíbrio ambiental. Para a especialista, a solução passa pela criação de uma rede de apoio eficaz:
“É preciso mapear os idosos de cada comunidade e saber em detalhes como cada um vive. Se a pessoa usar um cilindro de oxigênio e tiver três pets, como será o resgate? Por isso também é necessário ouvi-los sobre suas demandas e entender as deficiências dos sistemas de transporte, comunicação e alarmes para atendê-los”.
A propósito, pesquisa divulgada na semana passada traz o alerta de que as mudanças climáticas vão levar a uma escalada de doenças infecciosas, como explica o autor principal do trabalho, George Thompson, professor da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia, em Sacramento:
“Estamos falando de invernos mais quentes e verões tórridos e de doenças como dengue, zika e até malária, assim como o aumento do número de casos de infecções causadas por fungos”.
Fonte: G1
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