A 14ª edição do Congresso Brasileiro do Cooperativismo de Crédito (Concred) encerrou, nesta sexta-feira (12), no Recife, com a definição de um compromisso desafiador para o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC): ampliar a quantidade de municípios do Nordeste atendidos pelas cooperativas de crédito. A região é a menos expressiva em participação hoje, com apenas 12% dos municípios contemplados com agências no setor.
O compromisso firmado está expresso na Carta de Recife, que foi lançada durante a cerimônia de encerramento do evento, após dois dias de programação. Mais de 4,5 mil pessoas participaram do Concred, que é considerado o maior congresso de cooperativismo financeiro da América Latina. Realizado de forma híbrida, ele reuniu autoridades do sistema financeiro, lideranças cooperativistas, dirigentes, conselheiros, gestores, jovens e estudiosos do setor.
A meta da inclusão financeira dos brasileiros – sobretudo nas áreas mais carentes de recursos e atenção – é uma premissa antiga das cooperativas de crédito. Hoje, o setor representa a única porta de atendimento presencial para serviços financeiros em cerca de 500 cidades. Até o fim deste ano, o número de postos de atendimento do Sistema deve chegar a mais de 7,8 mil no Brasil, consolidando o crescimento exponencial do setor nos últimos anos.
A 14ª edição do Concred é uma realização da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras), em parceria com o Sicoob Central Nordeste e com apoio do Sistema OCB-PE. Este ano, o evento também celebra os 120 anos do cooperativismo de crédito no Brasil.
A próxima edição do evento também já foi confirmada: está prevista para ocorrer em Belo Horizonte (MG), em 2024. O presidente Moacir Krambeck gravou uma mensagem destacando a importância do evento, o maior e mais expressivo de todos os tempos..
Evento teve o selo Resíduo Zero
O congresso foi sustentável e buscou a economia de resíduos. Toda a programação foi organizada com este foco e, por este motivo, recebeu os selos Evento Neutro e Resíduo Zero, concedidos pela Eccaplan, consultoria em sustentabilidade. O resultado foi a geração de cerca de 800 quilos de recicláveis e duas caçambas de lixo rejeito, acumulados em três dias de programação. Durante a realização do evento, toda a emissão de CO² foi quantificada e será neutralizada pela Confebras, organizadora do Concred.
Mas a sustentabilidade não fez parte do evento apenas nos bastidores. No Concred, o tema foi abordado durante toda a programação. No último dia do evento, o assunto esteve, inclusive, presente na palestra do consultor Carlos Piazza, que liderou painel sobre finanças sustentáveis. Para ele, as finanças podem e devem estar atentas às práticas envolvendo esta perspectiva, já que o conceito diz respeito às pessoas e ao planeta em primeiro lugar. “O consumidor está no centro de tudo, é quem comanda o processo. São eles que compram, não mais as empresas que vendem. Por isso, é preciso fazer o que eles demandam”, afirmou.
Esse novo perfil de liderança, mais descentralizado e focado na sustentabilidade, também foi abordado pela diretora de futuro da ArcelorMittal, Paula Harraca. Para ela, os líderes precisam saber conduzir equipes colaborativas e focadas na entrega de resultados eficientes com práticas sustentáveis. A isso ela dá o nome de liderança ambidestra.
A liderança ambidestra é capaz de implantar projetos de gestão de mudanças ao redor do mundo, construindo estratégias focadas nas empresas, mas priorizando o material humano: as pessoas. “A gente não é o cargo, estamos no cargo. O time é que precisa ganhar. E essa é a lógica do cooperativismo. É um olhar eco e não ego. Faz muito sentido promover transformações para fazer um processo de humanização. O cooperativismo participa, cria e trabalha junto. O poder do coletivo dá força para alavancar o ecossistema, principalmente com essa liderança ambidestra”, disse.
No dia anterior, ainda na quinta-feira, a engenheira ambiental e executiva de sustentabilidade, Onara Lima, e pela chief purpose officer, Claudia Leite, abordaram os desafios e as oportunidades da implantação do ESG nas cooperativas financeiras. Para ambas, é imprescindível que o setor consiga alinhar o discurso com a prática.
Onara observou que o cooperativismo deve estar preparado para receber as pessoas, mas que é preciso fazer com que elas se sintam inseridas no contexto em todos os sentidos. “O centro de tudo são as pessoas”, destacou, afirmando que não dá para insistir nos mesmos modelos de negócios que existiam há décadas, com exploração de recursos e consumo desenfreado. A executiva lembrou que para que um negócio seja sustentável é preciso analisar os impactos econômicos e financeiros de médio e longo prazo. “Precisamos extrapolar a consciência com dados porque os nossos negócios se conectam com a governança responsável e ética, com compromisso direto com o social e com o meio ambiente; e é isso que determina o sustentável”, concluiu.
Para Claudia, não tem como pensar em prosperidade e desenvolvimento se há pessoas passando fome. Segundo ela, é preciso refletir sobre o que cada um pode fazer dentro do seu território e do seu setor para que seja um pensamento das pessoas e pelas pessoas, com consciência e atitudes que legitimem a inclusão e o desenvolvimento colaborativo e coletivo. “O cooperativismo leva e quer levar ainda mais recursos e qualidade de vida às pessoas porque entende que esse retorno de prosperidade é o que promove a sustentabilidade, que é um dos pilares do setor”, completa.
“A digitalização não é mais o futuro”
“A digitalização não é mais o futuro. Nem um diferencial no mundo pós-pandemia”. É o que defendeu o futurista Tiago Mattos, na quinta, penúltimo dia do Concred. Para ele, os processos que vêm após a digitalização são fundamentais para o sucesso ou o fracasso empresarial. “A digitalização foi um passo importante e continua sendo para as empresas, mas hoje se tornou a base para um diferencial competitivo”, disse Mattos.
Mattos acredita que a digitalização é apenas o começo do processo de se construir novas coisas. Nesse sentido, ele citou cases relevantes no mercado atual, como o da Amazon Go, que inovou no processo digital ao fazer um supermercado totalmente autônomo, onde o consumidor participa de todas as etapas do processo digital de forma personalizada e automatizada.
Fonte: Confebras
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