Os cuidados e incentivos em relação a preservação do meio ambiente saiu do papel e foram colocados em prática pelos alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Nossa Senhora das Graças, localizada na Vila Suzana, interior do município de Marcelino Ramos/RS.
Com o objetivo de inserir na grade curricular o aprendizado das práticas sustentáveis e a gestão consciente dos recursos naturais, os professores em conjunto com os estudantes desenvolveram o projeto chamado “Cooperativismo: ações cooperadas com o meio ambiente”. A proposta incluí atividades como coleta e separação de lixo, produção de hortaliças e adubo orgânico, captação da água da chuva, reaproveitamento do óleo de cozinha para fabricar sabão e a elaboração de sabonete e desodorante artesanal.
Segundo a diretora, Raquel Costenaro, a implantação do projeto é uma forma de transformar em rotina o compromisso com a natureza. “Nós pensamos em introduzir essas práticas buscando a melhoria da aprendizagem. É nítido quando o estudante ressignifica o conteúdo dentro de sala de aula em práticas fora dela. Assim ele consegue entender o porquê precisa aprender determinadas coisas”, explica Raquel.
A escola Nossa Senhora das Graças tem 20 alunos, do 6º ao 9º ano, que auxiliam na manutenção e cuidados do pomar, de duas estufas e da composteira. Os alimentos produzidos são utilizados na merenda escolar. “Nós temos uma sustentabilidade na alimentação dos estudantes. São produtos naturais, sem defensivos agrícolas, produzidos totalmente por eles”, explica a diretora.
Ciclo ambiental
“Cada ação é uma complementação da outra”. É dessa forma que a Raquel define o trabalho de educação ambiental e do cooperativismo. O ciclo da coleta seletiva do lixo é iniciado diariamente pelos alunos. O resíduo orgânico é colocado na composteira para ser transformado em adubo e posteriormente utilizado na fertilização da horta. Já os resíduos sólidos são separados e recolhidos uma vez por mês pelo caminhão de lixo que passa pela comunidade.
O óleo de cozinha, antes sem lugar adequado para descarte, se tornou útil na fabricação de sabão de limão. “Verificamos que a gente tinha uma questão de saúde em relação a gordura utilizada pelos moradores e famílias dos alunos”, comenta a professora. A solução do problema virou lucrativa, pois o produto fabricado passou a ser vendido na comunidade de Vila Suzana.
Para a aluna Kelli Tomé, 13 anos, do 8º ano, participar das tarefas agrega experiência e melhora a qualidade de vida. “Todas as tarefas são interessantes, pois sempre aprendemos muito, mas a produção de sabão de limão com a utilização da gordura de cozinha foi ótima, porque ao invés de jogar no solo, nós temos um produto bom e até vendemos na comunidade”, contou Kelli.
Sabonetes e desodorantes são itens incluído na sequência de atividades sustentáveis. De acordo com a docente, os artigos de higiene pessoal são compostos por ervas medicinais, banha e glicerina caseira. “Esses produtos que desenvolvemos não utilizam ingredientes químicos, não agride o meio ambiente e colabora com a saúde”, explica Raquel.
O valor recebido pela venda dos produtos artesanais é investido no ensino da escola, que busca melhorar as técnicas de preservação ambiental.
Inovação
A irrigação das plantas frutíferas e das hortaliças é feita com água captada da chuva. As calhas contornam o telhado da escola até um reservatório com capacidade para cinco mil litros. Com a ajuda de mangueiras, a água chega ao pomar e estufas.
“Já estamos montando um processo mecanizado de irrigação. Estamos fazendo testes com sensores que, a partir do nível de umidade do solo, irão acionar automaticamente a distribuição de água”, disse a diretora. O esquema de irrigação automático foi pensado para ser operado durante o período de férias dos adolescentes.
Além de servir para regar as plantas, a água captada da chuva serve para realizar a limpeza das calçadas do colégio. “Não temos uma ideia de valores em economia, porque aqui na comunidade a água que utilizamos para beber vem do poço artesiano e a gente não tem custo, não é cobrado da escola. Imaginamos que seja uma economia grande, porque fazemos a limpeza desses pisos e calçadas duas vezes por semana. A ideia é trocar o encanamento para que a água captada chegue aos banheiros. Assim, utilizar a água do poço artesiano somente para beber e no preparo da alimentação”, afirma a educadora.
Da escola para a comunidade
O conhecimento rompe barreiras e atravessa os limites da Escola Nossa Senhora das Graças e se integra aos morados da comunidade marcelinense. O aprendizado dos alunos serve de exemplo dentro das famílias e o conceito de sustentabilidade e preservação ambiental tem efeito visível e as boas práticas à natureza fazem parte do cotidiano.
“Tudo aquilo que a gente trabalha na escola é levado de certa forma para os moradores, e assim, a gente não atinge só o educando, mas a sociedade inteira. O papel da escola vai muito além de ensinar conteúdos, é visar a melhoria da qualidade de vida dos estudantes e das pessoas inseridas dentro da comunidade”, garante a mestre.
Os quatro pilares
A mudança de hábito começa a ser percebida pelos professores após a implantação do projeto de cooperativismo. As famílias que fazem parte da escola começam a seguir o exemplo dos jovens.
Raquel Costenaro cita o envolvimento e o protagonismo dos estudantes na execução das atividades escolares com responsabilidades buscadas há muito tempo pelo conselho de professores. A diretora demonstra orgulho ao relatar que “nossos estudantes se sentem parte do processo e participam e opinam em todas as decisões da nossa cooperativa”.
A aluna do 8º ano, Emile Cristina Wentz, 13 anos, também acredita na iniciativa sobre sustentabilidade. “É muito bom participar do projeto, pois nos proporciona novas experiências dentro e fora de casa”, revela ela.
Todas as atividades são pensadas a cada trimestre. Os professores se organizam a partir da carga horária de trabalho e do conteúdo previsto no currículo. O planejamento ocorre em escala, uma vez por semana, quando cada docente aplica a formação de sua disciplina fora da sala de aula.
O envolvimento da comunidade, melhoria da aprendizagem e conscientização são pontos expressivos observados no decorrer do projeto iniciado no ano passado. Raquel enfatiza o ensino a campo. “É totalmente diferente quando você fala que devemos cuidar e preservar o meio ambiente do que quando você realiza ações em prol do meio ambiente. No momento que começamos a coletar o lixo da escola, mensalmente, e os alunos observaram a quantidade e para onde vai, eles começaram a separar em casa também”, pondera.
A Kelli não esconde a satisfação de “levar para casa os ensinamentos que a escola passa e ver que a família valoriza o que a gente aprendeu além do conteúdo”.
Fonte: Jornal Bom Dia
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