Mais de 20 mil alunos de 122 escolas da região Norte do país já participaram na campanha de sensibilização dinamizada pela Comissão de Proteção ao Idoso (CPI), cujo objetivo é alertar para a violência contra os mais velhos e aproximar pequenos e graúdos, ao mesmo tempo que se desconstroem preconceitos associados à idade.
“As crianças acabam por veicular as mensagens que ouvem em casa, e na sociedade, em relação a um conjunto de estereótipos que prejudicam gravemente a condição da pessoa idosa. Temos de trabalhar e combater este tipo de estereótipos e ideias pré-concebidas em relação às pessoas mais velhas”, explica ao Expresso o presidente da CPI, Carlos Branco. Entre eles está, por exemplo, a perceção de que são “um fardo para a sociedade” ou “grandes consumidores de recursos sociais”.
E porque os jovens de hoje serão os adultos de amanhã, a associação organizou no ano letivo recentemente terminado a quarta edição de “O Silêncio tem Voz”, campanha que promove nas escolas a partilha de informação e conhecimento sobre o tema – como o conceito de idadismo, por exemplo – e atividades intergeracionais, onde se inclui a troca de correspondência com os mais velhos.
“Os jovens são um ativo fundamental para podermos transformar as mentalidades e conseguir, no futuro, uma sociedade mais inclusiva e mais amiga das pessoas idosas. Tem de partir necessariamente destes grupos etários muito jovens”, justifica Carlos Branco. Até à edição anterior, a iniciativa destinava-se a alunos do ensino secundário, mas este ano foi alargada aos restantes ciclos – incluindo o pré-escolar – através do projeto “Acolhe-me”, de duas alunas da Universidade do Minho, com ações adaptadas aos mais pequenos.
A partir de um balanço “muito positivo”, o responsável acredita que o trabalho desenvolvido “pode transformar a forma de pensar e agir em relação aos mais velhos”, e é para continuar no próximo ano letivo. “Temos de alterar o paradigma em termos das formas de pensar, sentir e agir em relação à questão da idade e do envelhecimento”, sublinha.
TRABALHO DE “EMPODERAMENTO”
Esta foi, aliás, uma das ideias que esteve na origem da criação da associação, em dezembro de 2013. Pessoas de diferentes áreas profissionais, como direito e psicologia, perceberam que os idosos são muitas vezes um “grupo vulnerável” e decidiram criar um movimento “no sentido da proteção e defesa dos direitos” desta população.
A intervenção foca-se sobretudo na formação e sensibilização dos mais velhos, mas também dos profissionais que os acompanham e dos cuidadores. “Há necessidade de empoderamento. Isso passa por esclarecer os direitos que têm, porque sabemos que há uma dificuldade muito grande de os idosos acederem à informação”, aponta Carlos Branco, exemplificando com o caso do regime jurídico do maior acompanhado. A associação tem também apostado, em parceria com autarquias, na implementação da figura do provedor do idoso.
Uma das questões que mais preocupa é a violência enquanto “fenómeno multidimensional” e “transversal à sociedade”. “Ao sabermos que há quatro idosos por dia, em média, que são vítimas de violência, ficamos muito perplexos. Mas também ao saber que a violência e os abusos começam a assumir formas encapotadas e que muitas das vezes não são identificadas”, afirma. E mesmo “nas formas mais tradicionais, que são identificadas e em que é possível agir”, por exemplo no seio familiar, existe um “conjunto de resistências muito grande”, que envolve medo e vergonha e leva, muitas vezes, a não apresentar queixa ou não seguir com o processo até ao fim.
Este é um dos problemas que continua a motivar a CPI, dez anos depois, a empenhar-se em “reforçar a capacidade de decisão, a autonomia, a liberdade e a dignidade”. “Quanto mais as pessoas idosas forem empoderadas, quanto mais tiverem consciência dos seus direitos, quanto mais independência e autonomia tiverem, menor é a margem para que se exerça sobre eles violência, abusos e maus tratos.”
Fonte: Expresso
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