Venki Ramakrishnan é um biólogo indiano-americano-britânico, vencedor do prêmio Nobel de química em 2009. Especialista em síntese de proteínas, lançou recentemente “Why we die: the new science of aging and the quest of immortality” (“Por que morremos: a nova ciência do envelhecimento e a questão da imortalidade”). Aos 72 anos, é cauteloso em relação aos esforços da ciência para estender a expectativa de vida: “são iniciativas exploratórias promissoras, mas ainda incipientes”.
“Não acredito que possamos expandir indefinidamente a existência do ser humano. O limite de 120 anos não tem sido ultrapassado. Apesar de o número de centenários ter crescido, o mesmo não acontece com o de supercentenários, acima dos 105. O importante é se manter saudável, independente e produtivo. Devemos nos preocupar, sim, com a desigualdade. No Reino Unido, os 10% mais ricos vivem 15 anos a mais que os desfavorecidos. Em Nova York, pode haver uma diferença de até 35 anos dependendo da região onde se vive”, diz.
Sobre o envelhecimento, explica que se trata de um processo multifatorial e contínuo. Acrescenta que, ao contrário da expressão amplamente usada de que o corpo é uma máquina, o conjunto de células de um organismo se assemelha a uma cidade com seus diversos departamentos, que têm que interagir para dar conta de todos os serviços, da coleta de lixo ao controle de tráfego. Por isso, não compartilha a visão de que a velhice é uma doença.
“O envelhecimento não é uma condição anormal, porque ocorre com todos – é um continuum que integra o ciclo da vida. Os adeptos dessa abordagem embasam seu discurso afirmando que as principais enfermidades, como câncer, doença coronariana, acidente vascular cerebral (derrame) e demência, estão relacionadas à idade. Na verdade, seu maior interesse é realizar ensaios clínicos com novas drogas, o que só ocorre se uma determinada condição é considerada uma doença – daí o esforço para enquadrar a velhice como tal – mas esse não é o entendimento da Organização Mundial da Saúde e do FDA (o equivalente norte-americano à Anvisa). As pessoas podem envelhecer e não ter câncer ou demência”.
Destaca a relevância do sono para a longevidade, assim como comer com moderação e se exercitar: são fatores que se complementam e aumentam nossa capacidade regenerativa. Voltando aos experimentos para retardar o envelhecimento, separei algumas de suas observações durante a entrevista que deu ao programa “Longevity Book Club”:
Transfusões de sangue: estudos com roedores indicam que o animal mais velho rejuvenesce ao receber o sangue do mais jovem, mas, apesar de promissora, enfatiza que a pesquisa tem que identificar que componentes devem ser utilizados, e não apenas fazer transfusões. “Terapias muito especializadas não são escaláveis e sua implementação provavelmente se transformará num retrato das disparidades sociais”, critica.
Dieta de restrição calórica: “realmente os animais submetidos ao consumo mínimo necessário para sua sobrevivência vivem mais, mas também sentem fome o tempo todo, são mais sensíveis ao frio e perdem a libido. Não é um piquenique”, resume.
Criopreservação: Ramakrishnan não “compra” a promessa de conservar um ser humano em temperaturas incrivelmente baixas para ser reanimado no futuro. “Nunca se resgatou um mísero camundongo que tivesse sido submetido à criogenia. Somente quando conseguirem eu vou parar para ouvir”, sintetiza. Para quem quiser saber mais, escrevi uma coluna a respeito que pode ser lida nesse link.
E por que morremos? Para responder à questão que dá nome ao livro, o prêmio Nobel lembra que evoluímos muito na prevenção de doenças, mas o desgaste é inevitável: “a morte é a impossibilidade de o organismo funcionar. Quando morremos, as células ainda estão vivas, tanto que são utilizadas em transplantes, mas não funcionam mais de forma coerente. Aquela interação deixa de existir”.
Fonte: G1