Em 2019, li artigo da jornalista Adriana Dias Lopes, no qual ela escreve que, “na verdade, o que o ser humano deseja é viver mais e cada vez melhor. Atualmente existe no mundo mais gente com mais de 65 anos do que com menos de 5 anos. Isso se deve a uma série de fatores, alguns dos quais devem ser salientados: o desenvolvimento de medicamentos e de vacinas, os cuidados com a alimentação, a prática de exercícios físicos e o saneamento básico”. Eu acrescento, conforme li em artigo da Universidade Harvard, o relacionamento humano, que verdadeiramente prolonga a vida.
A busca pela vida eterna não é novidade. A história, quando bem pesquisada, revela-nos fatos interessantes. O rei Gilgamesh, da Suméria, em 2.000 anos a.C., descobriu uma planta que daria a vida eterna para quem a ingerisse. Nunca aconteceu. Titano, da mitologia grega, pediu a Zeus a eternidade, mas se esqueceu de encomendar a mocidade permanente. Juan Ponce de Leon, conquistador espanhol, navegou pelos novos mundos no século XVI em sucessivas expedições ao encontro da fonte da juventude. Dorian Grey, de Oscar Wilde, em 1890, retratado em alguns filmes, vendeu sua alma para não envelhecer.
Raymond Kurzweil (EUA), afirmou: “Em 2029, a humanidade terá os recursos da inteligência artificial necessários para que máquinas alcancem a inteligência humana, inclusive a inteligência emocional. Será possível implantar no cérebro um computador do tamanho de uma ervilha para substituir neurônios destruídos por doenças (Parkinson, por exemplo)”.
Tad Friend, jornalista do The New Yorker (EUA), dividiu um grupo que investe em imortalidade em duas grandes famílias: 1) Healthspanners – o número de anos que alguém vive ou espera viver em razoáveis condições de saúde. Sonham com o prolongamento da vida saudável, mas somente se ela for realmente saudável. 2) Immortalists – aqueles que pensam que sempre existirá um dia seguinte, interminavelmente; segurar o relógio até onde der.
Por outro lado, a Sociedade Europeia de Medicina Preventiva diz que o caminho está aberto para a prática da Medicina 4P: Prevenção, Predição, Participação e Personalização. Além de evitar que o paciente adoeça (prevenção) e prever a chance de doença (predição), os cuidados exigirão uma relação mais humana entre médicos e pacientes (participação) e o atendimento individualizado (personalização), de acordo com as necessidades e características de cada indivíduo.
Há trabalhos que evidenciam minuciosamente o peso da prática da religião e da espiritualidade na longevidade. O cirurgião Bernie Singel, de Pittsburgh, EUA, escreveu em seu livro “Amor, medicina e milagres”: “ Os pacientes me ensinaram que na medicina há mais do que drágeas e incisões. É possível mobilizar força no íntimo dos pacientes. A pesquisa científica e a experiência clínica diária me convenceram de que o estado de espírito altera o estado físico, agindo através dos sistemas nervoso central, endócrino e imunológico”.
Assim, unindo os progressos da medicina, o estilo de vida, a ciência e a fé chega-se ao aumento da expectativa de vida. Viver mais é o desejo das pessoas, mas é preciso entender que é muito melhor ter mais vida nos anos do que anos de vida. Ou seja, o que importa é a qualidade de vida. E essa referida qualidade tem reflexos no que chamo de “as três idades”: a idade cronológica expressa em anos de vida; a idade biológica expressa em boa saúde física e mental; e a idade econômica revelada por aquelas que ao longo da vida pensaram no futuro, na sua aposentadoria e foram precavidas, investindo em planos de previdência ou em outros geradores de rentabilidade, que lhes permitam ter uma vida econômico-financeira tranquila.
Como escreveu Aubrey de Grey (gerontologista britânico): “O ser humano que terá 1.000 anos já nasceu; está vivíssimo entre nós”. Nosso corpo será tratado pela medicina como a engenharia lida com uma máquina: quebrou, conserta-se”.
E, na verdade, já temos muitas oficinas especializadas para nos consertar. Que sejam procuradas só quando extremamente necessário. Boa vida.
Por Murillo Ronald Capella, Médico e Professor Universitário
Conteúdo exclusivo publicado na Revista MundoCoop edição 108
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