Depois de uma queda impulsionada pela pandemia de covid-19, a expectativa de vida global volta a crescer, mostra o Correio hoje, na página 12. Publicado na prestigiada revista The Lancet, o chamado Estudo do Fardo Global de Doenças 2021 prevê que, entre 2022 e 2050, mulheres viverão 4,2 anos a mais, enquanto homens deverão contar com um acréscimo de 4,9 anos.
Essas estimativas são construídas a partir de uma quantidade inimaginável de informações sobre saúde de 204 países, trabalhadas por 11 mil colaboradores. Nada menos que 607 bilhões de dados sobre 371 doenças e 88 fatores de risco são levados em conta pela pesquisa, coordenada pelo Instituto de Métricas em Saúde e Avaliação, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
Além da maior longevidade, uma boa notícia do estudo é que a disparidade geográfica na expectativa de vida diminuirá. Habitantes de países ricos continuarão vivendo mais do que aqueles de nações em desenvolvimento. Porém, apesar da desigualdade no acesso aos serviços de saúde, a distância se reduzirá. A estimativa é de que os maiores aumentos em anos de vida sejam na África Subsaariana, composta por 47 nações que, até hoje, tentam se recuperar de uma brutal colonização europeia.
O Estudo do Fardo Global de Doenças 2021 também traz uma informação alarmante. Por um lado, a humanidade está conseguindo reduzir a mortalidade por doenças infecciosas, graças, especialmente, às vacinas e aos programas de saneamento. Ao mesmo tempo, contudo, fatores de risco associados a hábitos nocivos roubam os anos de vida saudável. O estudo mostra que condições relacionadas ao metabolismo, como hipertensão, hiperglicemia, índice de massa corporal, alto colesterol LDL e disfunção renal devem aumentar em 49,4% os anos perdidos para doenças e mortalidade precoce.
É natural que, com o envelhecimento populacional, cresça, também, a prevalência de doenças crônicas. Porém, como afirmou Michael Brauer, professor do instituto que coordena o estudo, a maioria desses fatores de risco poderiam ser evitados com a adoção de hábitos mais saudáveis, especialmente pela população mais jovem. Contudo, o sobrepeso e a obesidade já configuram uma epidemia, conforme levantamentos recentes da Organização Mundial da Saúde que apontam justamente os mais jovens como o grupo etário em que o excesso de gordura corporal mais avança.
Até recentemente, os principais ladrões de anos de vida eram saneamento deficitário, falta de acompanhamento médico para gestantes e poluição doméstica, produzida por lenha e carvão, entre outros. Agora, refrigerantes e bebidas açucaradas; fast food e produtos alimentícios ultraprocessados, além de sedentarismo, tomaram esse lugar. Exposição ao material particulado — resíduo extremamente tóxico da queima de combustível fóssil — e ao tabaco também são citados com preocupação no Estudo do Fardo Global de Doenças 2021.
Viver mais foi sempre um objetivo perseguido pela humanidade, e a ciência tem garantido que nossa passagem pela Terra seja mais longeva. Porém, estudos como o divulgado na The Lancet deixam um questionamento: o que estamos fazendo com os anos a mais que ganhamos?
Fonte: Correio Braziliense
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