No início de maio, a Assembleia Geral da ONU divulgou que, nos últimos 30 anos, a população mundial passou de 5,6 para 8,1 bilhões de pessoas e as projeções indicam um aumento para quase 9,9 bilhões em 2054.
O relatório apresentado durante a 57ª sessão da Comissão de População e Desenvolvimento também revelou que a expectativa de vida ao nascer registrou melhorias notáveis, aumentando de 64,5 anos, em média, em 1994, para 73,7 anos este ano.
A longevidade, juntamente com a queda de nascimentos, transformaram a distribuição da população global: o número de crianças menores de 5 anos permaneceu estável, enquanto o número de pessoas com 65+ duplicou em 30 anos e deverá dobrar novamente até 2054.
Em outras palavras… o mundo está envelhecendo aceleradamente!
Não por acaso a Organização Mundial de Saúde qualificou o período de 2021 a 2031 como a “década do envelhecimento saudável” e uma das “megatendências deste século”.
Há alguns dias tive a oportunidade de conversar com uma das principais autoridades globais no tema longevidade, o gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do International Longevity Centre Brazil e ex-diretor da Organização Mundial de Saúde, sobre o que ele chama de “A revolução da Longevidade”. Ele me apresentou outros números impactantes: de 1950 a 2050, enquanto a população global crescerá 3,7 vezes, os 60+ vão aumentar 10 vezes e os 80+ 27 vezes. Por outro lado, se a taxa de fecundidade era de 5,7 filhos em 1975, em 2023 este número baixou para 1,7 e continua diminuindo…
Na França, foram necessários 145 anos (1850 a 1995) para dobrar a população de idosos de 10% para 20% da população e, no Brasil, isto ocorrerá em apenas 19 anos (2011 a 2030). E tem mais: a proporção de 60+ será 1/3 da população brasileira em 2050, sendo a única faixa etária que sofrerá crescimento populacional até lá.
No final de abril, a Organização Mundial da Saúde realizou a “Semana Intergeracional Global”, campanha que objetivou destacar os benefícios desta prática e combater o etarismo, preconceito que atinge metade da população mundial de todas as faixas etárias. Impressionante!
É inexplicável como, mesmo diante destes números e fatos, ainda estamos engatinhando nesta questão.
Trata-se de um desafio premente que deve ser priorizado
O profissional 50+, que há poucas décadas estaria prestes a se aposentar e fadado a viver mais poucos anos, hoje precisa manter a saúde e as contas equilibradas porque, quando menos esperar, poderá virar centenário. Neste sentido, além desta conscientização, precisa estar ativo física e socialmente, estruturado emocionalmente e atualizado técnica e tecnologicamente, além de se aprimorar cada vez mais em termos comportamentais. Ir à academia (nos dois entendimentos), ter hobbies, amigos e estar inserido genuinamente no ambiente corporativo são formas de exercitar várias destas questões.
O número de trabalhadores com mais de 50 anos no Brasil mais do que dobrou em 15 anos, indo de 4,4 milhões em 2006 para 9,3 milhões em 2021 – aumento de 110,6%. O estoque de emprego formal geral, nesse mesmo período, cresceu 38,6%. Isso significa que o ritmo de crescimento dos 50+ é quase três vezes maior do que o brasileiro.
Mas apenas contratar não é suficiente
É imprescindível a formação de líderes comprometidos, ambidestros, qualificados e sensíveis para lidar com as complexidades decorrentes do envelhecimento, dos novos formatos de trabalho, dos interesses e desejos específicos das variadas gerações. Quanto mais a equipe for diversa e plural, quanto mais mesclar a juventude e a experiência, quanto mais abraçar a troca e a interseccionalidade, mais o ambiente será harmônico, inovador e com potencial de ampliar o bem-estar individual e a lucratividade corporativa.
Não há fórmulas mágicas, rápidas nem padronizadas. As ações para o tão almejado respeito mútuo e a real inclusão envolvem letramentos, inclusive através de games, palestras, treinamentos, mentorias bilaterais, rodas de conversas e envolventes hackatons, apenas para citar alguns exemplos. Tudo com viés prático e engajador.
Não basta felicitar os grupos de afinidade apenas em datas comemorativas. O movimento precisa ser constante, sólido e estratégico. Inclusive reavaliando as necessidades específicas deste público em termos de produtos, serviços e linguagem publicitária.
A AlmapBBDO, sexta maior agência de publicidade do Brasil, realizou o estudo “A revolução da Longevidade” (mais um a utilizar este título!) sobre o potencial da “economia prateada” em que detectou que 73% dos consumidores das classes sociais A, B e C e 75.1% da C e D não se sentem representados pela comunicação e sentem-se invisíveis.
De acordo com o relatório, “a propaganda deixou de ser sobre projeção para trazer identificação e representatividade. Existe um novo consumidor longevo, um novo mercado de trabalho longevo, um novo empreendedorismo longevo, uma nova economia da longevidade. Este é o mercado mais dinâmico, que mais cresce no mundo e que já movimenta R$ 22 trilhões de dólares/ano”.
Estas são recomendações de profissionais de marketing! Lembro da famosa frase de Nizan Guanaes, publicitário que foi chairman da própria AlmapBBDO: “Enquanto eles choram, eu vendo lenços”.
São oportunidades de lucro sendo desperdiçadas!
E, para concluir, a agência deixa um desafio: “como a propaganda poderia pensar no velho de um jeito novo? É possível imaginarmos novas formas de falar com as pessoas mais velhas? De revermos nossos preconceitos? De trazê-las para dentro, para que se sintam pertencendo? De valorizarmos suas histórias e crenças? De convidá-las a realizar junto? De ouvi-las com atenção? De considerá-las em nossos briefings? De colocá-las em cenários dinâmicos de reinvenção? De enxergarmos o seu protagonismo?”.
Por Mauro Wainstock, jornalista, publicitário e especializado em marketing
Fonte: Exame
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