Em 2022 alcançamos a marca de 8 bilhões de habitantes no mundo e estima-se que seremos 9,7 bilhões de pessoas até 2050, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). No mesmo período, o número de brasileiros com mais de 60 anos subirá dos atuais 16% — ou 30 milhões de pessoas — para 30% da população, nos tornando o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas. De um país jovem, o Brasil se transformará em um país longevo, sem ter se preparado adequadamente para o “bem envelhecer”, em termos coletivos e individuais, como ocorreu em países europeus.
Esse cenário reforça a necessidade de repensar o futuro e promover transformações estruturais na forma como concebemos a saúde e a longevidade em cada fase da vida. Essas mudanças — inclusive culturais — dependem de um esforço dos diferentes protagonistas — pacientes, profissionais de saúde, empresas e responsáveis pelas políticas públicas — para criar as condições adequadas para um processo de envelhecimento mais saudável e sustentável.
Estamos vivendo a “Década do Envelhecimento Saudável 2021-2030”, instituída em dezembro de 2020, pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Quatro eixos devem ser colocados em prática para construirmos uma sociedade para todas as idades: mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos com relação ao envelhecimento; garantir que as comunidades promovam as capacidades das pessoas idosas; entregar serviços de cuidados integrados e de atenção primária à saúde centrados e adequados; e propiciar o acesso a cuidados de longo prazo às pessoas que necessitem.
É fundamental ressignificar o processo de amadurecimento do ser humano e pensar nas futuras gerações e em suas necessidades. A medicina investe em estudos e pesquisas para aprofundar nosso conhecimento sobre as necessidades dos “maduros”, o processo de envelhecimento, os avanços na tecnologia e a relevância das relações sociais.
Profissionais de saúde de diversas áreas querem entender como a longevidade é endereçada (ou não) na prática clínica dentro dos consultórios. Também é preciso entender o papel da nutrição para a prevenção de doenças, do exercício físico para a manutenção da mobilidade; da saúde mental, neuroplasticidade e reserva cognitiva na maturidade; a ressignificação do trabalho a partir do empreendedorismo; da sexualidade; além da importância da cultura e da inclusão nessa fase da vida.
Longevidade
É preciso um novo olhar sobre a longevidade, abordando o tema da maturidade a partir de três perspectivas: prevenção, envelhecimento saudável e qualidade de vida. Ter saúde e viver bem vai além da ausência de doenças: é estar em harmonia com o ambiente, consigo mesmo e com os outros, se sentir pertencente e útil à sociedade, ter uma vida ativa, digna e se possível, próspera. É saber lidar com as doenças e comorbidades que impactam o processo de envelhecimento saudável. Dessa forma, a longevidade faz mais sentido: quando conseguimos ter autonomia, escolha e acrescentar anos com mais vida e saúde à nossa biografia.
Envelhecer é um processo natural fisiológico, individual e que tem a genética respondendo por 25% a 30% de nossa capacidade de amadurecer com saúde. O restante é resultado das escolhas que fazemos, do ambiente em que vivemos e da estrutura de saúde e das políticas públicas que temos à nossa disposição. No entanto, para ser uma pessoa longeva é preciso primeiro ter flexibilidade no pensar, capacidade de reavaliar nossas ações e escolher caminhos com mais saudabilidade.
Somente assim conseguiremos viver a vida em intensidade, respeitando os limites e interesses individuais. O novo está dentro de cada um de nós e viver — como envelhecer — é um contínuo processo de desconstrução, construção e aprendizado.
Fonte: Exame/Stevin Zung, diretor médico-científico do Aché Laboratórios
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