Em um universo de mais de 100 cooperativas, Maura Carrara, presidente da cooperativa Sicredi Nossa Terra no Paraná, conquistou o seu espaço de forma resiliente e perseverante. Atualmente ela é conhecida e respeitada por todo o setor cooperativista. Dotada de uma personalidade inconfundível, Maura não passa despercebida. Ela alcançou a liderança por não se deixar intimidar em um ambiente corporativo predominantemente masculino.
Fez dessa situação uma força para trazer mais mulheres para a gestão. Uma de suas ideias foi criar o “Chá das Bruxas”, premiado em 2017 na Áustria, pelo Woccu – Word Council of Credit Unions (Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito). O projeto já mobilizou e formou milhares de mulheres líderes para o cooperativismo de crédito.
Os desafios de trazer as mulheres para as cooperativas e as suas lideranças hoje não são diferentes dos vistos há 10 anos atrás. A MundoCoop conversou com ela, que contou sobre os desafios das mulheres nas lideranças das cooperativas e do que tem feito para minimizar as diferenças de gêneros na cooperativa.
Confira!
Que experiência temos com mulheres nos conselhos?
A presença feminina nas organizações, principalmente cooperativas era incipiente quando iniciei minha trajetória profissional, em uma cooperativa de produção. Eu já tinha um olhar para esse tema, por sentir falta da sensibilidade feminina. A exemplo a contratação da primeira engenheira agrônoma da nossa cooperativa agroindustrial Copacol. Já no cooperativismo de crédito, a ausência de mulheres era gritante. Assumi a presidência da Sicredi Nossa Terra em 2004, à medida em que eu entendi o processo decisório fui identificando como poderia trazer mais mulheres para o mundo do mercado financeiro cooperativo. Em 2012 realizamos a primeira edição do Chá das Bruxas, um evento que visava despertar as mulheres para esse ambiente, de lá para cá impactamos mais milhares de mulheres.
Quando tivemos paridade no conselho?
O trabalho com mulheres é lento e deve ser incansável. Em 2017 quando fomos reconhecidos internacionalmente contávamos com 33% de cargos de liderança ocupados por mulheres. A paridade mesmo só veio em 2022, quando alcançamos os 50%, dez anos após o primeiro Chá das Bruxas, ano também em que iniciamos um programa de autogestão feminina já com olhar para dentro de casa, com nossas colaboradoras. Em 2023 por ocasião da eleição no Conselho de Administração e Fiscal alcançamos 47% e 50% de mulheres, respectivamente, como conselheiras, algo inédito.
O que é o dia a dia de uma conselheira?
O dia a dia de uma mulher no conselho não é diferente do de um homem. O papel é o mesmo, não há dúvidas de que cada pessoa é única e contribui com sua vivência e experiência. Neste sentido, o que enriquece as discussões e decisões mais assertivas na mesa é a diversidade.
Por que temos poucas mulheres nos conselhos e o que pode ser feito para melhorar isso?
Temos poucas mulheres nas lideranças das cooperativas, ainda, porque culturalmente colocamos as pessoas em quadrados e não questionamos a cultura que exclui. É preciso questionar a ausência de contribuições femininas, sentir falta de visões diferentes. É preciso estar aberto e preparado para novas ideias. Mas acima de tudo, vejo que é preciso resiliência, ser incansável, convidar e trazer para a mesa, ouvir e valorizar a diversidade através de implantação de iniciativas positivas, do contrário levaremos séculos para chegar à paridade.
Por que ter mulheres em conselho é melhor?
Ter mulheres no conselho é no mínimo certo. Fiz esse movimento de forma intuitiva por muitos anos, o que hoje chamam de inclusão. As pesquisas mostram os motivos e os benefícios, mas vejo que as mulheres precisam estar na gestão, ocupar um espaço que é delas sem ferir ou diminuir ninguém, mas para apoiar nas decisões, com experiências diferentes, habilidades e competências que a biologia feminina proporciona.
Quais os planos para o futuro?
O desafio de ter mulheres em cargos de gestão é permanente. Quando olhamos para a sucessão e a perenidade das organizações não há outra saída, pois culturalmente essa presença ainda não está estabelecida. Os projetos e programas de desenvolvimento feminino deverão ter continuidade sempre.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
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