As cooperativas têm enfrentado grandes desafios do mercado, como as crises econômicas, as mudanças sociais, os problemas financeiros, a adaptação às inovações tecnológicas, entre outras tantas questões.
Muitas acabam não sobrevivendo, em boa parte porque não se abrem para as novas formas de fazerem negócios, não ampliam suas visões de empreendedorismo, não investem em tecnologia ou se esquecem de suas essências.
Um caminho interessante e que tem sido aberto às cooperativas são as incubadoras.
O Sistema OCB lançou em 2021 o programa de Conexão com Startups, InovaCoop, que já teve a promoção de 11 projetos desenvolvidos em parceria com startups, especialmente para resolver problemas de cooperativas. “É um grande exemplo de como se pode aliar o modelo de negócios democrático e resiliente do cooperativismo com o DNA inovador das startups. Ainda em 2023 vamos expandir a aplicação da metodologia para as organizações estaduais do Sistema OCB, para viabilização de edições locais do programa”, Guilherme Costa, coordenador do Núcleo de inteligência e inovação do Sistema OCB.
Incubadoras abrem os horizontes
As incubadoras são formas das cooperativas se manterem abertas aos novos empreendimentos e ampliarem os seus meios de atuações. Elas oferecem suporte desde a utilização de um espaço, a promoção de serviços assistenciais e as capacitações, com o foco em impulsionar um ecossistema de inovação.
Diego Boelter, Gerente de Inovação Cotripal, de Panambi, no Rio Grande do Sul conta que a cooperativa mergulhou totalmente nos projetos das incubadoras.
Na visão dele a inovação aberta parece ser um caminho para que as cooperativas tradicionais possam desafiar o amanhã e manter seus negócios sustentáveis na era das plataformas digitais e sociedade 5.0. “Ao analisarmos os desafios mais comuns enfrentados pelas cooperativas em diferentes setores e regiões, como a dificuldade de acesso ao crédito, a necessidade de aumentar a transparência e a responsabilidade, e a necessidade de melhorar a eficiência operacional. Poderemos identificar os benefícios e desafios da adoção desse modelo de inovação e como ele pode ser integrado às operações e estratégias de negócios das cooperativas. Além disso, a análise poderia investigar como as cooperativas podem utilizar esse modelo para aumentar a participação dos membros e melhorar a comunicação e colaboração entre eles, contribuindo para a criação de uma sociedade mais justa e igualitária”, conta Boelter.
Por conta disso, a Cotripal tem participado de diversos programas de inovação aberta, destacando-se mais recentemente o programa Startup LAB do governo do estado do Rio Grande do Sul. Nele, a cooperativa participou como empresa âncora, patrocinou o evento startup weekend espaço + inovação e ainda do matchmaking tecnológico promovido pelo Sebrae na última edição da Expodireto Cotrijal.
Como se aproveitar delas
A Cotripal compreendeu que pode aproveitar os recursos das incubadoras para desenvolver novos produtos, serviços ou processos que atendam às demandas do mercado e dos seus cooperados.
Isso ocorre em especial porque uma incubadora de startups pode ajudar uma cooperativa tradicional a se adaptar às mudanças tecnológicas, sociais e ambientais que afetam o seu setor de atuação. “Uma cooperativa tradicional que participa de uma incubadora de startups pode se tornar mais competitiva, sustentável e colaborativa, gerando valor para os seus membros e para a sociedade. A Cotripal tem se utilizado bastante das incubadoras tendo vários projetos já entregues por startups incubadas além de diversos projetos, em diferentes de implementação, em andamento. Ela usa o sistema de incubadoras de Inovação Tecnológica para encontrar soluções para seus desafios na área de Tecnologia da Informação e Comunicação, Digitalização, Automação de Processos, Energias Renováveis e soluções para o Agronegócio em geral”, conta Boelter.
Além das incubadoras, existem outros ambientes que compõem os ecossistemas de inovação cooperativa, como os laboratórios, os hubs, as aceleradoras e as comunidades de prática. “Esses espaços se diferenciam pelas suas finalidades, metodologias e públicos-alvo, mas todos contribuem para a geração de soluções criativas e cooperativas para os desafios da sociedade atual. A Cotripal está inserida nestes ecossistemas de diversas formas, atuando com empresa âncora, participando de programas do poder público e inclusive é uma das mantenedoras do hub de Inovação Instituto Agregar”, diz Diego.
Outras cooperativas, como a Sicredi em Minas Gerais investir em inovações é fundamental. Eles criaram o CAS (Centro Administrativo Sicredi), que tem uma estrutura com o objetivo de buscar as inovações, produtos, serviços e as tecnologia para todo o sistema. “A nossa cooperativa tem um setor que se preocupa e muito com esse tema, temos como exemplo disso a presença de sistemas autônomos, que fazem o que é repetitivo e padronizado. Nossa busca é para que apenas 20% dos colaboradores se foquem na parte operacional, enquanto 80% da força de trabalho esteja à disposição para o relacionamento com as pessoas. Nosso desafio é nos manter atualizados, inovando e em sintonia com o mercado e o próprio Banco Central, oferecendo alternativas diferentes, mais rápidas e mais seguras”, conta Adilson Carlos Metz, da Sicredi em Minas Gerais.
Como elas são usadas
As incubadoras são utilizadas, na maioria dos casos, por startups que ainda não possuem um modelo de negócios maduro, e que necessitam de apoio com questões operacionais. “Após os estágios iniciais, existem outras modalidades que a startup pode explorar para crescer como, os programas de aceleração e os hubs de inovação. Pelo alto risco por incubar empreendimento ou ideias de negócio em estágio inicial, ou até o seu caráter educativo na formação de novos empreendedores, as incubadoras são muito populares entre universidades e entidades do poder público engajadas com o fomento à inovação. Mas também fazem parte da estratégia de empresas privadas, com a criação de um ambiente de experimentação e inovação, como é o caso do Google, que mantém um programa para desenvolvimento de startups”, lembra Guilherme Costa, coordenador do Núcleo de inteligência e inovação do Sistema OCB.
O objetivo da cooperativa é que as empresas incubadas, após o período de incubação, consigam ingressar no mercado com sucesso, gerando empregos, inovação, diversificando e fortalecendo as economias locais.
Existem vários motivos para as cooperativas investirem em incubadoras, um deles é o fato dela se manter mais atenta ao ecossistema de inovação em que estão inseridas.
Guilherme diz que essa é uma maneira prática delas explorarem novas oportunidades de negócios, promoverem uma maior eficiência de um processo ou projeto já existentes, e com isso se manterem competitivas no mercado. “É importante, que as cooperativas mantenham um relacionamento com as universidades, conheçam de perto os programas locais de apoio a novos empreendedores, e fiquem de olho nas novas tecnologias, metodologias e ferramentas de mercado”, indica Costa.
As formas de usar essas incubadoras irá depender do objetivo, recursos disponíveis e do sistema de inovação de cada cooperativa. “Para aquelas que desejam realizar um processo estruturado de fomento à inovação, a orientação é constituir um comitê ou núcleo de cooperados voltados à inovação, disponibilizar hubs, co-workings e programas de aceleração financiados pelas cooperativas, ou até mesmo buscar parcerias e financiar patrocínios ou editais de fomento. É importante ressaltar que as coops sempre podem procurar a OCB do seu estado, para apoio às demandas de inovação”, ensina Guilherme.
Para as cooperativas que desejam entrar no universo das incubadoras, Boelter aconselha, mapear internamente seus principais desafios e apresentá-los para um ecossistema de inovação com incubadoras. “Elas irão provocar suas startups a encontrarem soluções para estes desafios”, finaliza.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop Edição 112
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