Imagine poder contar com uma rede de apoio, onde diferentes mecanismos agem diariamente para trazer as melhores condições de trabalho, obtenção de recursos e capacidade de negociação. Foi a partir da necessidade de fortalecer os processos de intercooperação entre as cooperativas da agricultura familiar, que a Redecoop surgiu em 2017 e hoje, agrega 52 cooperativas da agricultura familiar em 31 municípios do estado do Rio Grande do Sul, impactando 13 mil famílias.
Com foco em aspectos operacionais de organização da gestão e logística, a Redecoop tem se consolidado como uma das maiores estratégias de intercooperação já vistas no Brasil. Durante a pandemia, a rede criada foi responsável por mobilizar agricultores familiares, entidades e consumidores para enfrentar os impactos sociais e econômicos decorrentes da pandemia de coronavírus. Na logística, hoje são mais de 1.000 pontos de entregas semanais através dos processos de intercooperação.
Construindo uma sólida ponte entre todos os cooperados presentes nas cooperativas da rede, Alcione Piasentin Claro e Bruno Engel Justin, Presidente e Coordenador da Redecoop, respectivamente, destacam que o principal foco da iniciativa sempre foi, desde a sua fundação, a criação de um vínculo maior no setor. “O objetivo é que exista um diálogo entre as cooperativas e o processo de intercooperação aconteça através da organização conjunta de mercados e compartilhamento de carga, ou seja, entregar os alimentos de diferentes regiões e cooperativas no mesmo veículo, garantindo maior viabilidade”, comentam.
Com a intercooperação sendo o principal pilar da iniciativa, o projeto não traz benefícios apenas para as cooperativas, mas principalmente para os cooperados e comunidades onde elas estão presentes. Segundo Alcione e Bruno, a singularidade criada entre as associadas tem trazido resultados imensamente positivos, e tal diálogo forte e contínuo, transparece nos resultados cada vez maiores, em melhores práticas das cooperativas e ainda, na profissionalização dos negócios admnistrados pela Rede.
Com cooperativas pequenas compondo o quadro de associadas à rede, tal integração de processos e união de forças do setor, tem impacto direto na ponta da linha, criando condições para que tais cooperativas possam explorar o seu potencial máximo. “O impacto é maior principalmente nas cooperativas que possuem uma estrutura logística mais limitada e cooperativas que estão em regiões mais distantes da capital do Estado. Também nesse sentido, são construídos processos de logística reversa, promovendo intercooperação de produtos entre as regiões e gerando complementaridade na oferta dos alimentos. Dessa forma, a Redecoop potencializa os mercados das cooperativas associadas e contribui na redução de custos na operacionalização dos mesmos”, explicam.
Ainda no escopo das atividades está o desenvolvimento de um importante papel de representante comercial dos associados, utilizando parceiros como a Emater para auxiliar as cooperativas e a própria Rede nos processos de gestão. Com tamanha organização, rapidamente os cooperados passaram a contar com processos mais refinados em seus negócios, mantendo a essência, mas ganhando a pujança necessária para conquistar novos mercados. “Através dessa organização é possível ter um portfólio potente de produtos, com diversidade e capacidade de produção, que geram confiança e garantem o atendimento dos mercados”, frisam Alcione e Bruno. Para eles, criar estratégias que fortaleçam essa conexão deve ser um dos pilares do cooperativismo como um todo, visando fomentar e consolidar o setor. “O diálogo e a troca de informações entre as cooperativas é fundamental para o fortalecimento do cooperativismo”, reafirmam.
Impacto estadual
Responsável por agregar um vasto número de cooperativas da agricultura familiar, a Redecoop representa uma fatia expressiva do cooperativismo gaúcho. Sendo um dos estados que mais se desenvolvem quando realizado o recorte do setor, o Rio Grande do Sul tem buscado reforçar suas iniciativas de apoio às cooperativas, traçando metas e planos que dão as condições necessárias para que o setor se fortaleça. Entre os planos em andamento, está o RSCOOP150, que prevê metas para que o cooperativismo gaúcho alcance os R$150 bilhões em faturamento até 2027 e que foi explicado com mais afinco pelo presidente do Sistema Ocergs, Darci Hartmann, em entrevista à MundoCoop no início deste ano.
Iniciativas como essa, apontam Alcione e Bruno, são fundamentais para viabilizar que as cooperativas continuem o seu trabalho e levem mais impacto para as comunidades. Neste contexto, não cabe apenas às cooperativas buscar os mecanismos para que haja um trabalho consistente, mas também a participação das próprias organizações representativas, que possuem um compromisso com os cooperados e com as cooperativas. “É fundamental que o Estado fortaleça o cooperativismo da agricultura familiar e seu modelo de organização. A grande maioria das cooperativas que fazem parte da Redecoop são cooperativas de porte local/regional, formada por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, existindo dessa forma um processo mais permanente de participação dos associados nas decisões e estratégias da cooperativa”, defendem Alcione e Bruno.
Somado a tal fator, é necessário que o atual reconhecimento da agricultura familiar como uma força nacional continue de forma sólida, ratificando iniciativas como a Redecoop como fundamentais para o fortalecimento do cooperativismo, mas principalmente como necessárias para garantir a segurança alimentar. “Essas cooperativas atuam diretamente na produção de alimentos e é fundamental pensar e estruturar as políticas que garantam a segurança alimentar e nutricional da população em geral. Para tal, é necessário garantir e investir em estrutura, seja administrativa, logística ou de produção, para que as cooperativas potencializem seus processos de organização e ampliem mercados,” completam.
Analisando os resultados até aqui, em quase sete anos de existência, Alcione e Bruno traçam um panorama positivo da experiência, e reforçam a importância de iniciativas para fomentar a agricultura familiar e o cooperativismo regional. “A avaliação é que o modelo tem funcionado muito bem, principalmente na promoção do diálogo e na construção de processos de cooperação que tragam impacto para as cooperativas e seus associados. O objetivo da Rede é que cada vez mais as cooperativas busquem dialogar em um espaço conjunto”, destacam.
Para eles, os resultados alcançados e a consequente representatividade na economia gaúcha, são sinais materializados de que, quando as cooperativas se unem em prol de um mesmo objetivo, é possível se igualar a grandes empresas e organizações, firmando o setor como um verdadeiro movimento de transformação social e econômica. “A Redecoop representa o resultado da potencialização do processo de organização do cooperativismo, que inicia com os agricultores, passa pelas cooperativas singulares, cooperativas centrais e por fim está articulada em Rede. Essa estrutura, através do mapeamento das potencialidades, expertises regionais, gargalos comuns e aproximação entre as cooperativas, pode impactar de forma extremamente positiva, gerando maior capacidade e viabilidade nos processos”, finalizam.
Por Leonardo César – Matéria publicada na Revista MundoCoop Edição 114
Discussão sobre post