Como qualquer negócio, uma cooperativa é uma organização que precisa seguir algumas regras para se manter saudável e, assim, alcançar o almejado crescimento. Uma delas é a realização de sua assembleia geral, que anualmente ocorre para justamente mostrar um raio-x do que aconteceu no ano anterior, além de definir o que está por vir. Gilson Flores, advogado cooperativista, assessor jurídico da OCESC (Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina) e autor do livro “Manual da Assembleia Prática nas Cooperativas – Teoria e Prática para Realização das Assembleias Gerais”, da Juruá Editora, explica que “o sistema cooperativo é uma forma de organização empresarial de pessoas. Portanto, cumpre o papel de intercooperação, socialização e cooperação mútua, enquanto a assembleia geral ordinária e extraordinária representa o órgão supremo de uma cooperativa, que tem caráter democrático. É a partir dela que surgem as decisões pelas quais a diretoria vai se guiar para fazer o planejamento e a execução de toda a sua ação, em favor do sistema cooperativo e do quadro associativo.”
Ou seja, é essencial que todas as cooperativas se foquem em suas assembleias como forma de buscar o seu crescimento, sendo planejado a cada detalhe. “As decisões tomadas nas assembleias são soberanas e não podem ser desobedecidas. A cooperativa que não se integra ao associado totalmente, que não se conecta com ele, não tem possibilidade de prosperar”, explica Gilson Flores.
No entanto, a assembleia dos tempos atuais passou por muitas mudanças. O consultor Odacir Zonta relembra que presenciou algumas, destacando o período em que foi presidente da cooperativa Copérdia, entre 1980 e 1993. “Já no primeiro ano, quando fui eleito, havia um dispositivo que pregava que o associado, além do seu voto, teria mais quatro votos de representação. Isso contrariava totalmente os dispositivos de igualdade de voto, porque cada associado representa um voto. Nos reunimos em assembleia extraordinária, depois da eleição, e decidiu-se por extrair esse direito e permitir que o voto fosse dado só com a presença física do associado”, conta.
Outra decisão tomada na mesma época, através da assembleia, foi dar o direito de voto a todas as mulheres, que também não podiam ser associadas. “Foi instituído que elas, no papel de esposas de associados, passassem a ter esse direito. A Copérdia foi a primeira cooperativa do Brasil que integrou as mulheres ao seu quadro associativo”, relembra o advogado, acrescentando que em 1981 houve, ainda, em decisão de uma assembleia geral extraordinária, a filiação da Copérdia à Cooperativa Central Aurora. “Vejam que decisão acertada. Hoje, trata-se de uma potência do sistema cooperativo, tudo isso por decisão da assembleia. E, assim, vamos delegando ao associado a palavra final”, comemora.
Depois de tanta evolução, também foram instituídas as pré-assembleias de prestação de contas, resultando num evento o qual todos os associados participam, discutem as contas, a programação, os investimentos e, então, elegem os líderes para representá-los apenas na assembleia de homologação. “Esta fórmula tem permitido que haja uma participação muito expressiva do associado, que passa a ter conhecimento e poder de decisão através da assembleia. É por isso que a assembleia geral ordinária ou extraordinária é o poder supremo de uma cooperativa. É fundamental que ele seja exercitado para a igualdade dos votos, o direito de decidir e se integrar, porque a última palavra cabe ao maior patrimônio que a cooperativa possui: o quadro associativo, seus familiares e o quadro de funcionários”, detalha o advogado.
“As decisões tomadas nas assembleias são soberanas. A cooperativa que não se integra ao associado totalmente, que não se conecta com ele, não tem possibilidade de prosperar”
-Gilson Flores, advogado cooperativista e escritor
Investimentos em tecnologia, inovação, ASG e pessoas: o que está por trás do crescimento das cooperativas
A Cooperativa Central Aurora Alimentos (Aurora Coop) obteve um crescimento notável em 2023, segundo balanço e relatório apresentados após a sua assembleia geral. Os números impressionam: foram gerados quatro mil novos postos de trabalho, uma receita operacional bruta de 21,7 bilhões, cujo mercado interno equivale a 65,5% de suas receitas (R$ 14,6 bilhões) e, no mercado externo, a 34,5% (R$ 7,5 bilhões). O maior volume da produção (63,7%) foi absorvido pelo mercado doméstico, o que corresponde a 1,045 milhão de toneladas. Sem contar no crescimento da cooperativa no mercado mundial, que nos últimos 10 anos foi superior a 700%.
O cenário positivo é fruto de muito investimento. Somente na parte de colaboradores foram aportados R$ 2,7 bilhões, enquanto na parte de aquisições a Aurora Coop assumiu as operações da unidade industrial de carnes da marca Alegra, que pertencia às cooperativas Frísia, Capal e Castrolanda, aumentando em 12% sua capacidade industrial de abate. Houve também investimento na industrialização de lácteos e a conquista da habilitação para o mercado do Reino Unido na unidade avícola de Xaxim (SC). No último triênio, foram investidos R$ 2,7 bilhões para a modernização e ampliação das unidades fabris e a aquisição de novas plantas industriais. “Com isso, a cooperativa busca a diversificação de seu portfólio, acompanhando as tendências de consumo, consolidando-se como player global, adotando a filosofia da inovação contínua e gerando valor para cooperados, colaboradores, clientes e consumidores em uma gestão sustentável da cadeia produtiva”, afirma o presidente da Aurora Coop, Neivor Canton.
Com a Viacredi não foi diferente. Em 2023, a cooperativa de crédito alcançou R$ 12,8 bilhões em ativos, um crescimento de 14,18% em relação a 2022. Na carteira de crédito, foram alcançados R$ 8,1 bilhões, um aumento de 11,42% e R$ 9,2 bilhões foram registrados em depósitos totais, apontando um crescimento de 12,53%. Os números positivos, segundo Vanildo Leoni, diretor executivo da Viacredi, estão ligados a um planejamento que prioriza, acima de tudo, a sustentabilidade. “Este resultado é um reflexo do nosso compromisso, como cooperativa, com o desenvolvimento econômico e social dos cooperados e comunidades. Ao longo de 2023, seguimos focados nos princípios cooperativistas, mantivemos nosso foco em práticas ASG (Ambiental, Social e Governança), assim como nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU”, afirma ele, que até o ano de 2025 segue o Planejamento Estratégico dedicado ao cumprimento de suas três grandes diretrizes: Colaborador Feliz, Cooperado Realizado e Cooperativa Sustentável. “Realizamos uma série de iniciativas econômicas, sociais e ambientais que contribuíram diretamente para este crescimento sustentável”, acrescenta.
Outro ponto relatado para conquistar esse crescimento foi justamente apostar na proximidade com o seu cooperado, através do fornecimento de suporte por meio de soluções financeiras, ofertas de crédito adequadas e renegociações de dívidas. “Fechamos o ano com 933 mil cooperados, um reflexo de uma atuação que tem como princípio colocar o cooperado no centro de todas as nossas ações. Com isso, posso afirmar que os nossos mais de 2.100 colaboradores demonstraram na prática isso, diariamente atuando como protagonistas, prestando um atendimento consultivo e próximo no relacionamento com os cooperados, atentos ao nosso propósito de incluir as pessoas”, afirma Leoni.
A Viacredi também apostou em incentivar a poupança com apoio e orientação financeira, além de implementar melhorias nos produtos e serviços, com destaque para as linhas de crédito emergenciais para famílias afetadas por condições climáticas adversas, além de outras ações. “Consolidamos o crédito imobiliário, realizando o sonho da casa própria de mais de 1,5 mil pessoas, sem contar que seguimos aprimorando nossa atuação por meio do atendimento digital e presencial, com a abertura de cinco novos postos de atendimento em Santa Catarina e no Paraná. Foram implementadas melhorias estruturais em 24 postos de atendimento”, observa o diretor-executivo da Viacredi.
Outras ações foram tomadas pela cooperativa, como o investimento de R$ 20,7 milhões, por meio do recurso do Fundo de Assistência Técnica Educacional e Social (FATES), com o objetivo de promover o desenvolvimento social dos mais de 930 mil cooperados e das comunidades em que a Viacredi atua; estabelecimento de parcerias sociais com entidades, beneficiando mais de 103 mil pessoas, com R$ 1,2 milhão destinados; investimentos em tecnologia e inovação, por meio do Movimento de Transformação Digital, em parceria com o Sistema Ailos. “Em 2023, o investimento em tecnologia foi de R$120 milhões e para 2024 a previsão é de R$144 milhões. Este recurso é focado no aprimoramento da acessibilidade e funcionalidade dos sistemas com novas ferramentas e infraestrutura para avanços significativos e sustentáveis a médio e longo prazo”, analisa Vanildo Leoni.
Fechamos o ano com 933 mil cooperados e acredito que este seja um reflexo de uma atuação que tem como princípio colocar o cooperado no centro de todas as nossas ações”
– Vanildo Leoni, Diretor Executivo da Viacredi
Segundo o Sistema OCB, em seu Anuário 2023 do Cooperativismo no Brasil, um dos destaques do documento ficou por conta do número de cooperados no país, que alcançou os 20,5 milhões. Neste cenário, a cooperativa Sisprime do Brasil se destaca. Ela expandiu seu quadro social em 10% em relação ao ano anterior e seus ativos cresceram 23%, atingindo a expressiva cifra de R$ 7,6 bilhões. O resultado, de acordo com Alvaro Jabur, presidente do Conselho de Administração da Sisprime do Brasil, é o esforço feito para continuar expandindo seu quadro social e seus ativos, o que tem acontecido de uma forma geral com todo o sistema cooperativo no Brasil. “A busca por uma maior eficiência, menores custos e uma expansão da base de cooperados visa poder oferecer os serviços do cooperativismo para um número cada vez maior de pessoas, divulgando a bandeira cooperativista e seus benefícios aos indivíduos e à sociedade. Desde o início, o nosso propósito tem sido de melhorar a vida financeira de seus cooperados, oferecendo maiores sobras e, com isso, uma melhora na sua movimentação financeira e na rentabilidade dos seus investimentos. Aos poucos, a mensagem do cooperativismo tem oferecido às pessoas uma opção muito interessante para a gestão de seus recursos, e essa mensagem tem sido entendida e bem recebida pelo público em geral”, opina.
Ele continua: “ao longo de 2023, foram abertas cinco novas agências nas cidades de Santos, São José dos Campos, São Carlos, Limeira e Toledo, onde tivemos o ingresso de cerca de 4.500 novos cooperados e uma expansão da nossa base de ativos bastante expressiva. Para fazer o suporte de todo esse crescimento, investimos pesado no treinamento de nossos colaboradores, tanto com cursos presenciais quanto oferecendo a todos o acesso a maior base de treinamentos on-line do mundo, o LinkedIn Learning.”
Tal investimento reflete o pensamento da cooperativa de crédito. Jabur reforça: o colaborador que conhece de forma clara e transparente a sua cooperativa recebe dela uma série de benefícios diretos e indiretos. “Com isso, ele tem uma melhora em sua vida pessoal, buscando o seu desenvolvimento, se motivando e acaba por oferecer um melhor atendimento ao nosso cooperado”, observa o executivo.
O que está por vir: as principais tendências para as cooperativas em 2024
Focar no atendimento humanizado com os cooperados é o principal objetivo da Viacredi. Para isso, a cooperativa pretende ampliar o acesso a produtos e serviços de qualidade, que promovam a cidadania financeira das comunidades em que está presente. “O crescimento do cooperativismo de crédito está atrelado a um dos nossos principais atributos, a proximidade das pessoas. Por isso que as transformações trazidas pela tecnologia e atuação pelos meios digitais fizeram com que tivéssemos que nos adaptar, a fim de mantermos a nossa essência e, ainda assim, permanecermos próximos dos cooperados e das comunidades”, afirma Vanildo Leoni, diretor executivo da Viacredi.
Com o objetivo de alcançar a marca de 1 milhão de cooperados, a Viacredi pretende expandir sua presença física na área de ação da cooperativa e nos canais digitais, atingindo mais de R$14,7 bilhões em ativos totais – um crescimento previsto de 14,2%. “Enquanto as instituições financeiras tradicionais seguem um movimento de reduzir o número de unidades físicas, as cooperativas permanecem com suas atuações locais. Equilibrando a presença física com a digital, essa estratégia permitirá a expansão das cooperativas de crédito para outras regiões do país”, opina Leoni.
Para ele, nem mesmo o mundo digital vai dar fim à experiência física. “Esse movimento seguirá forte pelos próximos anos, afinal, temos como premissa manter a proximidade, o relacionamento humanizado e um atendimento consultivo, em que o presencial e o digital se complementem para atendermos as necessidades de cada cooperado”, diz.
Além disso, o executivo da Viacredi diz ter percebido uma tendência crescente das cooperativas em direção aos grandes centros urbanos, reconhecendo que essa expansão é essencial para atender a população e possibilitar um acesso mais amplo, e inclusivo, das pessoas ao Sistema Financeiro Nacional. “Esta estratégia não apenas reforça nosso compromisso com a inclusão financeira, mas também abre novas oportunidades para o crescimento e desenvolvimento do cooperativismo em áreas antes não exploradas”, atesta.
A Sisprime também vai investir na expansão de sua base de cooperados, abrindo novas agências e, desta forma, aumentar o total de ativos. “Porém entendemos que o setor produtivo brasileiro passa por um momento difícil, e isso pode se refletir nos negócios e nos índices de inadimplência. Nossa cautela vai aumentar ainda mais, em respeito às aplicações de nossos cooperados. Queremos crescer sem abrir mão da segurança, uma marca da Sisprime em seus 26 anos de história”, complementa Alvaro Jabur, presidente do Conselho de Administração da Sisprime do Brasil. Ele acrescenta que os investidores, em momento de instabilidade como esse, poderão encontrar opções seguras de aplicação com uma rentabilidade acima do mercado. “Em 2023, quem aplicou a 105% do CDI, recebeu um valor adicional de 8%, chegando a 113%. Esse é um grande diferencial do cooperativismo.”
Aurora Coop: objetivo é investir para continuar na lista das principais cooperativas nacionais
Com o intuito de manter a posição de terceiro maior grupo agroindustrial brasileiro do segmento da proteína animal, a Aurora Coop investiu R$ 2,7 bilhões no último triênio para a modernização e ampliação das unidades fabris, além de aquisição de novas plantas industriais. O plano de investimentos da Aurora Coop permitiu inversões de R$ 1,021 bilhão em 2021, R$ 793,6 milhões em 2022 e de R$ 939,1 milhões em 2023 com a criação de cerca de cinco mil novos postos de trabalho. “Com investimentos desse porte, a cooperativa busca a diversificação de seu portfólio, acompanhando as tendências de consumo, consolidando-se como player global, adotando a filosofia da inovação contínua e gerando valor para cooperados, colaboradores, clientes e consumidores em uma gestão sustentável da cadeia produtiva”, adianta o presidente da Aurora Coop, Neivor Canton.
Para 2024, os planos são muitos. Uma ampla gama de ações será desenvolvida, entre elas, a ampliação do Frigorífico Aurora São Gabriel do Oeste (MS), o atendimento à rampa de crescimento de abate do Frigorífico Aurora Guatambu (SC) cuja ampliação foi concluída, a reavaliação do mix produzido em cada planta industrial com foco em otimização e maximização de resultados, além da otimização das linhas do recém-adquirido Frigorífico Aurora Castro (PR). Simultaneamente, entrará em produção a Unidade Industrial Aurora Chapecó II para a produção de empanados, peito cozido e peito desfiado.
Vale destacar que as cadeias produtivas da suinocultura industrial, da avicultura industrial e da pecuária leiteira ancoradas no Sistema Aurora Coop injetaram volumosos recursos, fortalecendo o movimento econômico de uma forma geral – e, por extensão, a arrecadação tributária – de centenas de municípios brasileiros. Em 2023, a geração de ICMS chegou a R$ 2,3 bilhões, o valor adicionado na atividade agropecuária (indireto) foi de R$ 11,6 bilhões e o valor adicionado na atividade industrial e comercial somou R$ 5,3 bilhões.
Sisprime: além do crescimento, reconhecimento faz diferença
Não é só o crescimento que a Sisprime Brasil tem vivido em sua trajetória no setor. No fim do ano passado, a Fitch Ratings, agência classificadora de risco de crédito, elevou o Rating Nacional de Longo Prazo da cooperativa para ‘A+(bra)’, de ‘A(bra)’, afirmando seu Rating Nacional de Curto Prazo ‘F1(bra). Para Alvaro Jabur, presidente do Conselho de Administração da Sisprime do Brasil, o reconhecimento é fundamental para dar mais credibilidade à cooperativa. “Prezamos pela transparência e um dos fatores que ajuda a tornar claro como é a saúde financeira da entidade é a avaliação de agências classificadoras de risco de crédito, como a Fitch Ratings, uma das maiores do mundo. Ela acompanha a nossa cooperativa desde 2015, emitindo relatórios anuais com vistas às operações de curto e de longo prazo”, comemora.
Ele acrescenta que a baixa expectativa de inadimplência e a forte capacidade de pagamento de compromissos financeiros refletem uma política bastante conservadora na gestão dos ativos da cooperativa, tanto no aspecto das aplicações financeiras quanto no das operações de crédito. “Somos extremamente cautelosos na gestão dos recursos de nossos cooperados, essa política tem se mostrado eficiente e eficaz ao longo dos anos”, destaca.
Por Leticia Rio Branco – Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop Edição 117
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