Como as cooperativas podem contribuir para um futuro mais sustentável? Realizada entre os dias 6 e 18 de novembro em Sharm El-Sheik, no Egito, a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – ou COP 27 – buscou mais uma vez refletir sobre a relação entre o homem e o meio ambiente. Reunindo representantes de diversas nações de todo o mundo, o evento promoveu longos debates sobre as mudanças climáticas, além de destacar projetos e iniciativas que têm, já nos dias de hoje, trazido impacto positivo.
Sendo grandes exemplos de união entre o social e ambiental, as cooperativas mais uma vez ocuparam lugar de destaque na COP 27. Durante o evento, apresentações mostraram mais uma vez como o setor é um grande aliado da agenda sustentável global, funcionando como celeiros de ideias voltados ao bem-estar da comunidade, ao mesmo tempo em que preserva e recupera o meio ambiente.
Um dos grandes protagonistas da agenda global, o Brasil chegou à COP 27 com perspectivas de mudança para o futuro, defendendo maiores ações de preservação e comprometimento dos países participantes. Para que este objetivo seja alcançado, as cooperativas surgiram como grandes vias para o desenvolvimento de projetos voltados a essa agenda, e o setor foi – novamente – apresentado ao mundo através de discussões especiais, conectando representantes do cooperativismo brasileiro no Egito e no Brasil.
Durante os primeiros dias de evento, foram ao menos 24 discussões temáticas comandadas pelo Brasil, que trouxe para a COP27 temas como o agro sustentável, a economia de carbono, mobilidade urbana e o futuro verde. “A primeira semana demonstrou que o Brasil é um país que dispõe de recursos naturais em abundância e que tem um potencial enorme e cada vez maior de ser uma grande potência agroambiental. Temos que seguir fortes na produção de alimentos, diminuindo a pegada, diminuindo a necessidade de terras com as práticas da moderna agricultura, e também como fornecedor de energia limpa para o mundo”, resumiu Marcus Paranaguá, secretário do Clima e de Relações Internacionais do Ministério do Meio Ambiente.
Visibilidade
Apresentando alguns projetos pioneiros e que já trazem inúmeros benefícios para comunidades em todo o Brasil, o painel ‘Energia, Indústria, Agro e Investimentos Verdes’, organizado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) no Pavilhão Brasil, reuniu grandes cases do cooperativismo brasileiro. Márcio Lopes de Freitas, Presidente do Sistema OCB, integrou o painel especial, destacando o papel das cooperativas na agenda defendida durante a COP 27. “Faz parte da natureza do cooperativismo a busca e a implementação de soluções que conciliem o desenvolvimento econômico com o combate ao aquecimento global e a preservação do meio ambiente. Somos, definitivamente, parte da solução no que diz respeito às questões climáticas, tanto que já somos referência mundial na produção sustentável. O agronegócio cooperativo é pautado em sustentabilidade e no desafio de alcançar uma economia neutra em carbono, com destaque para a redução das emissões de metano”, afirmou.
Com a presença de dirigentes de cooperativas agropecuárias brasileiras, o painel ‘A importância das cooperativas para o agro sustentável’ trouxe no dia 16, cases de sucesso para o setor. Entre eles, o projeto CooperSemear, que auxilia cooperados a restaurarem áreas de conservação de vegetação nativa, e o CooperNascentes, focado na restauração de minas d’água no campo. Realizados pela Coopercitrus, ambos os projetos fazem parte do braço ambiental da Fundação Coopercitrus Credicitrus, localizada em Bebedouro (SP). Para completar, a Cocamar destacou o sistema lavoura-pecuária-floresta (iLPF), que busca unir produção com sustentabilidade em áreas específicas, promovendo o uso do solo de forma extensa e sustentável; e a CCPR fechou as discussões apresentando seus projetos voltados para a implementação de projetos de energia solar, assim como iniciativas voltadas ao tratamento de efluentes e a reciclagem de resíduos.
Economia de carbono
Sendo um dos temas mais falados durante a COP27, a economia de carbono mais uma vez tomou o palco; e o Brasil se apresentou como grande player nesse novo mercado que se expande mais e mais a cada ano. Mostrando na prática as ações desenvolvidas em comunidades brasileiras, a Coplana destacou o seu trabalho junto à agricultura de baixo carbono, defendendo o modelo como o sistema ideal para a produção sustentável.
Em manifesto divulgado no dia 7, o cooperativismo brasileiro reafirmou seu comprometimento com uma transição econômica para um sistema mais verde, destacando o potencial de impacto do setor. Neste aspecto, o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, defendeu a regulamentação para um maior aproveitamento desse mercado. “A maneira mais inteligente de se fazer isso é regulamentando o mercado internacional de carbono, assim vamos valorizar os modelos de baixa emissão e sequestro de carbono com investimentos e esforços em defesa da preservação, conservação e recuperação ambiental. Com um ambiente regulatório favorável, os projetos localizados em Áreas de Preservação Permanente (APP), Reservas Legais (RL) e Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) podem ser potencializados em suas iniciativas de proteção”, declarou. O manifesto completo pode ser lido aqui.
Projetos ESG
Representando um dos grandes players do mercado de crédito sustentável, o Sicredi trouxe para a COP27 seus cases de concessão de crédito para projetos ESG, como energia renovável e diversidade. Na palestra, comandada por João Pedro Segabinazzi Stephanou, gerente de Operações Estruturadas e Finanças Sustentáveis do Sicredi, foram mostrados projetos como o Mulheres Micro e Pequenas Empreendedoras (MMPE), solução que já concedeu mais de R$ 5 bilhões em financiamentos para empreendimentos femininos em mais de 251 mil operações ao redor do Brasil, impactando mais de 50 mil mulheres.
Já nos projetos voltados à energia renovável, o Sicredi tem papel de destaque na concessão para iniciativas de energia solar, com mais de 3 bilhões em crédito apenas em 2021. Os recursos são voltados à aquisição ou instalação de qualquer tecnologia que se beneficie dessa energia para fins de eletricidade ou energia térmica, e beneficiam pessoas física, jurídico e principalmente, o agronegócio.
“Estamos focados em aprimorar e ampliar cada vez mais as concessões de crédito para projetos ESG. No caso do MMPE, por exemplo, em janeiro de 2021, concedemos R$ 260 milhões e em dezembro do mesmo ano, saltamos para R$ 508 milhões, um aumento de quase 100% em menos de um ano. E os resultados dos projetos de energia renovável também são destaque, já temos uma carteira de R$ 5,5 bilhões e 119 mil operações, sendo que mais de metade (66 mil) são para pessoas físicas”, comentou Stephanou.
Segurança alimentar
Sendo um dos grandes produtores de alimentos do mundo, o Brasil ressaltou o seu papel na manutenção de uma segurança alimentar para todos, de forma duradoura. Em painel especial, representantes do MAPA mais uma vez destacaram o desempenho do país na produção agropecuária, que preenche apenas 30% do território nacional, garantindo a preservação da floresta nativa. Para o secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável e Irrigação, Cleber Soares, tal movimento mostra o potencial do país como exemplo de produção sustentável, integrando sistemas que garantam a demanda de alimentos, ao mesmo tempo que renovam o solo e garantem a próxima Safra. “Hoje, a agricultura brasileira conjuga produtividade e conservação, e é um exemplo de como a produção de alimentos pode andar de mãos dadas com geração de renda, inclusão social e gestão ambiental. Além disso, o Brasil é um dos únicos países do mundo capaz de aumentar sua produção agrícola sem incorporar novas terras às atividades produtivas, simplesmente restaurando seus mais de 70 milhões de hectares de pastagens degradadas”, disse o secretário.
Recuperação
Com uma parte de seu solo sendo utilizado para produção há muitas décadas, o Brasil ainda aposta em programas de recuperação para garantir a manutenção da produção nacional. De olho neste cenário, foi apresentado durante a COP27 o Projeto Vertentes, que tem entre seus objetivos o combate à desertificação e a promoção do manejo sustentável das cadeias da soja e da pecuária de corte, além da recuperação das áreas degradadas, diminuição da emissão de gases de efeito estufa e proteção da biodiversidade.
“Ao todo, serão mais de R$ 130 milhões (US$ 25 milhões) financiados pelo Programa de Impacto de Sistemas Alimentares, Uso da Terra e Restauração (Folur, na sigla em inglês). O Projeto Vertentes alcançará mais de 47 milhões de hectares do Cerrado nos estados da Bahia, de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal”, destacou, em nota, o Ministério da Agricultura.
COP27
Sendo um dos maiores eventos voltados à agenda sustentável no mundo, a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima reforçou a importância de repensar práticas atuais, em prol de um amanhã mais sustentável, com dignidade para todos. Durante os painéis, debates e apresentações, não apenas foi reforçado o papel das nações no combate às mudanças climáticas e outros problemas mundiais, mas também o papel de cada cidadão na busca por uma harmonia maior. Nesta missão, as cooperativas têm a capacidade de serem grande protagonistas, e projetos como os que foram apresentados são o estopim e exemplo de uma mudança maior que precisa acontecer. Para isso, colocar em prática compromissos no papel será fundamental e necessário. E a sua cooperativa, pode fazer a diferença.
Para maiores detalhes e coberturas sobre a COP27, confira o site da MundoCoop!
Por Redação MundoCoop
Matéria publicada na Revista MundoCoop edição 109
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