O que o cooperativismo brasileiro pode fazer pelo mundo? É fato que hoje, o Brasil representa uma potência mundial quando falamos do mercado aberto pelas cooperativas. Com quase 20 milhões de cooperados, o país é referência em ações de impacto social, corporativo e ambiental, sendo um grande exemplo do poder de transformação que as cooperativas representam. Porém, é preciso – e necessário – fazer mais.
Se algo foi ressaltado no período turbulento que se passou, é que as cooperativas possuem resiliência. E mais do que nunca, a união de diferentes ramos e mercados se mostrou o movimento necessário para o alcance de objetivos comuns, que tragam resultados para todos. O Brasil tem muito a aprender com o cooperativismo mundial. E o mundo, tem muito a aprender com o Brasil.
Reforçando mais uma vez o papel que o cooperativismo brasileiro ocupa na agenda global, em outubro – durante a VI Cúpula Cooperativa das Américas – José Alves de Souza Neto, atual presidente da Uniodonto do Brasil, foi escolhido para ocupar a vice-presidência da Aliança Cooperativa Internacional das Américas (ACI-Américas), um dos principais órgãos que representam as cooperativas no mundo.
Para entender um pouco mais sobre o significado dessa nomeação e as perspectivas para o futuro, a MundoCoop conversou com exclusividade com o recém-eleito Vice-Presidente. Na conversa, que você confere na íntegra a seguir, José Alves compartilha um pouco sobre as suas expectativas em relação ao novo cargo e o que podemos esperar da representação brasileira no setor global, daqui em diante.
Confira!
O que a sua eleição para vice-presidente da Aliança Cooperativa Internacional das Américas (ACI-Américas) representa para o Sr? Como pretende atuar à frente da vice-liderança da entidade?
A eleição representa para mim uma grande responsabilidade e um imenso desafio, e os dois estão interligados. A responsabilidade de dividir com os membros do Comitê Executivo e com o Conselho de Administração da ACI-Américas a missão de auxiliar as cooperativas do Continente Americano a se desenvolverem cada vez mais, mantendo sua sustentabilidade, ao mesmo tempo que geram justiça social aos seus cooperados e às comunidades onde estão inseridas.
Com muito orgulho e determinação, passo a fazer parte do Comitê Executivo da ACI-Américas. Este é um grupo formado pela Presidente, Graciela Fernandez, do Uruguai; pelo Primeiro Vice-presidente;, pela Segunda Vice-presidência, ocupada por Carla Decker (Estados Unidos), pela Secretaria ocupada por Lopes (Argentina), pelos suplentes, Carlos Acero (Colômbia), Fernando Faith (Costa Rica) e Miguel Castedo (Bolívia).
Em nossa primeira reunião definimos que trabalharemos com foco no alinhamento legal dos países envolvidos, diminuindo a burocracia nas relações internacionais e na criação de um bloco comercial que seja capaz de ampliar mercados e alavancar o crescimento das cooperativas de nossa região.
A ACI-Américas é um dos principais órgãos do cooperativismo no mundo. Como essa representação pode ajudar no desenvolvimento das cooperativas brasileiras?
A Aliança Cooperativa Internacional é o principal órgão de representação do cooperativismo no mundo. A ACI foi fundada em 1895, no Reino Unido, como descendente do movimento de Rochdale. São subordinados à Aliança Cooperativa Internacional, quatro escritórios regionais: África, Américas, Ásia/Oceania e Europa, Estes escritórios regionais têm o objetivo de implementar regionalmente os projetos desenvolvidos pela ACI e seus parceiros locais e internacionais.
Nossa participação na tomada de decisões da ACI-Américas terá o objetivo de impactar o fortalecimento do movimento cooperativista brasileiro. Isso poderá se dar através da prospecção de oportunidades de negócios, intercooperação, cooperação técnica, transferência de conhecimento e formação de parcerias estratégicas internacionais.
Encaramos esse mandato de quatro anos de olho nos grandes direcionamentos nacionais liderados pelo Sistema OCB: alcançar 1 trilhão de reais em faturamento do cooperativismo em 2027, mobilizar o posicionamento das cooperativas em prol do conceito ESG e promover o acesso a novos mercados às nossas cooperativas.
O cooperativismo brasileiro tem ganhado espaço no cenário internacional. Quais fatores levaram o país a ganhar essa notoriedade?
O Cooperativismo Brasileiro é reconhecido por sua força e organização. Somos um sistema único, capitaneado pelo Sistema OCB, que representa o cooperativismo nacionalmente e tem presença local em todas as Unidades da Federação.
Este olhar amplo e sinérgico, dá ao cooperativismo brasileiro a força necessária para que ele floresça de maneira única, temos sob ele olhar grandes e pequenas cooperativas de todos os ramos que têm a possibilidade de participar juntas das discussões, propostas e projetos que serão colocados em prática e isso facilita a criação de cadeias de valores e intercooperações. Em resumo, creio que somos fortes porque investimos em educação para resultados, temos grandes metas e contamos com grandes e inspiradoras lideranças nacionais, que têm sido reconhecidas também mundialmente.
Recentemente, diversos debates têm promovido a intercooperação entre as cooperativas do mundo todo. De que forma é possível criar uma comunidade global, mais conectada e unida em prol de um único propósito?
Como diria Roberto Rodrigues: “a intercooperação só é sustentável se trouxer a todas as cooperativas participantes resultados melhores do que elas obteriam sozinhas ou com outras parcerias de mercado”. Ou seja: intercooperação não pode ser apenas discurso, não pode ser filosofia ou ação voluntária. Intercooperação deve ser alavancagem de negócios. Neste ponto, um diferencial apresentado pelo cooperativismo brasileiro é a possibilidade que o Sistema OCB gera quando reúne dirigentes de todos os ramos nas Diretorias, Conselhos e em eventos por todo o Brasil. Isso, ao longo do tempo tem aproximado demandas e ofertas e muitos exemplos de intercooperação tem sido gerado. Acredito que ao longo do tempo estas iniciativas irão crescer exponencialmente o que gerará muitos frutos ao nosso movimento.
Uma das formas de intercooperação que mais me chama a atenção é a construção de cadeias produtivas, onde pequenas cooperativas se juntam a outras maiores que agregam valor aos produtos ofertados por elas e distribuem riqueza ao longo da cadeia. Temos vários exemplos no Brasil deste modelo, cooperativas industrializadas que recebem de pequenas cooperativas os insumos para a sua produção e que devolvem a elas uma segurança e uma valorização que normalmente não teriam se operarem no mercado normal.
Quais os maiores desafios do cooperativismo atualmente? Como o Sr. enxerga o futuro do setor cooperativista brasileiro nos próximos anos?
O Cooperativismo Brasileiro tem se desenvolvido muito nos últimos tempos. Os nossos números não param de crescer. Hoje somos mais de 18 milhões de cooperados que trabalham e contribuem diuturnamente para este crescimento.
Em um evento há alguns meses em Brasília o Presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, apresentou um desafio ao cooperativismo brasileiro, que em 2027 sejamos 30 milhões de cooperados e que geremos um 1 trilhão de prosperidade! O desafio está aceito e para isso todos nós cooperados estamos prontos, de mãos dadas para juntos construirmos um futuro melhor para todos.
Por Redação MundoCoop
Entrevista exclusiva publicada na Revista MundoCoop edição 109
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