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Da Ideação à Execução: Como a Era da IA Redefine o Verdadeiro Diferencial Competitivo
Se você ainda não leu o livro “Execução”, de Larry Bossidy e Ram Charam, deveria. É um dos meus favoritos e referência constante em minhas palestras. A tese principal da obra é clara: o que distingue empresas de sucesso não é apenas a criatividade, mas sim a capacidade de executar. Ter boas ideias é importante, mas o verdadeiro diferencial reside em transformar essas ideias em resultados tangíveis. A lacuna entre aspirações e resultados, segundo os autores, está diretamente relacionada à falta de processos eficazes de execução.
Até aqui, tudo fazia sentido. No entanto, uma provocação recente de Allie K. Miller nos convida a questionar se a execução, assim como a criatividade, também estaria se tornando uma commodity. E o que mudou desde o lançamento do livro, em 2016? O amadurecimento da Inteligência Artificial.
Vamos analisar essa transformação em três fases para entender essa mudança de paradigma.
1. A Era da Ideação: O Poder das Boas Ideias
Antes do acesso ilimitado à informação, a criatividade era a principal vantagem competitiva. Durante o Renascimento, entre os séculos XIV e XVII, inventores como Leonardo da Vinci se destacavam porque possuíam conhecimentos e habilidades cognitivas superiores à maioria. Três fatores justificavam esse diferencial:
- Escassez de informação: O conhecimento não era facilmente acessível, tornando ideias originais extremamente valiosas.
- Comunicação limitada: A disseminação de ideias era lenta, permitindo que inventores mantivessem sua vantagem por mais tempo.
- Avanços tecnológicos raros: Invenções como a prensa de Gutenberg revolucionaram a disseminação de informações, mas esses avanços eram esporádicos.
Nesse contexto, inventores eram os protagonistas do progresso, trazendo inovações como o helicóptero, a máquina voadora e o carro blindado de Da Vinci. Em um mundo de escassez de informação, ter boas ideias era, de fato, uma vantagem competitiva.
2. A Era da Informação: O Domínio da Execução
No século XX, com o advento das tecnologias de comunicação em massa, dos computadores e da internet, muitas barreiras à informação foram derrubadas. Esse novo contexto proporcionou:
- Troca rápida de informações: O compartilhamento de dados tornou-se instantâneo.
- Democratização do conhecimento: O acesso à informação se tornou mais disseminado.
- Armazenamento digital: Informações se tornaram facilmente acessíveis e pesquisáveis.
Foi nesse contexto que a tese de Execução se consolidou. Ideias começaram a se tornar commodities, acessíveis a todos, mas a capacidade de implementá-las com rapidez, eficiência e qualidade diferenciava os líderes do mercado. Frases como “Estratégia sem execução é alucinação” (Thomas Edison), “Ideias são commodities. A execução delas, não” (Michael Dell), e “Temos um plano estratégico: ele se chama fazer as coisas” (Herb Kelleher), ilustram essa mentalidade.
Executar não era simples: exigia tempo, recursos financeiros, pessoas qualificadas e, principalmente, tolerância ao risco do erro. Por isso, as empresas de maior sucesso eram aquelas que conseguiam executar mais rápido, com menos falhas e custos reduzidos.
3. A Era da IA: O Novo Diferencial é a Experiência
E hoje? Na era da IA, a ideação tornou-se ainda mais acessível. Ferramentas como ChatGPT, Google Gemini e outras plataformas de IA generativa podem gerar e combinar ideias em velocidades sem precedentes. O que antes exigia dias de pesquisa e brainstorming agora acontece em segundos. Mas, além da ideação, será que a execução também está se tornando uma commodity?
A resposta pode não ser tão simples, mas é inegável que a IA vem reduzindo significativamente as barreiras da execução em três aspectos principais:
- Custo: Ferramentas de IA tornaram a implementação mais acessível, reduzindo custos financeiros.
- Tempo: Processos automatizados aceleram a análise de dados e a tomada de decisões.
- Conhecimento: Interfaces intuitivas e plataformas low-code democratizaram o acesso à tecnologia.
Além disso, a execução tem se tornado mais padronizada, com processos automatizados e escaláveis, garantindo eficiência e uniformidade em larga escala. Imagine um futuro próximo em que o design, a programação e até a manufatura sejam executados em tempo recorde, com produtos sendo lançados quase instantaneamente. O ritmo do progresso tecnológico atingiria níveis inimagináveis.
No entanto, essa abundância de produtos e serviços trará novos desafios. A concorrência será mais acirrada, as expectativas dos clientes aumentarão, e a qualidade da experiência se tornará o verdadeiro diferencial. Se antes a vantagem competitiva estava em o que fazemos, agora o foco será em como fazemos nosso cooperado se sentir.
A experiência do cooperado não se resume ao produto ou serviço oferecido, mas à forma como ele é entregue, ao suporte recebido e à personalização do atendimento. Em um mundo onde produtos são lançados em massa e a execução é automatizada, a conexão emocional e a confiança estabelecida com o cooperado serão o verdadeiro fator de diferenciação.
O Futuro é Sobre Como Fazemos as Pessoas Sentirem
A era da IA não elimina a importância da execução, mas a transforma. Com a automação facilitando tarefas repetitivas, o diferencial competitivo migra para a experiência proporcionada ao cooperado. A questão central deixa de ser “O que fazemos” e passa a ser “Como fazemos nosso cooperado se sentir”.
Empresas que dominarem a personalização, a agilidade na adaptação e a capacidade de aprender com os erros terão uma vantagem incomparável. A IA cuidará do previsível, mas o humano continuará essencial para criar conexões genuínas. E é nesse espaço da não familiaridade — onde erramos, aprendemos e inovamos — que residirá o verdadeiro diferencial do futuro.
*Por Andrea Iorio, palestrante, escritor best-seller e especialista em Transformação Digital e Inovação

Coluna exclusiva publicada na edição 122 da Revista MundoCoop