È fato: estamos definitivamente vivendo uma bolha da Inteligência Artificial.
Em uma entrevista recente ao The Verge, Sam Altman, CEO da OpenAI, resumiu bem o paradoxo atual:
“Estamos em uma fase em que os investidores, de forma geral, estão exageradamente empolgados com a IA? Na minha opinião, sim. A IA é a coisa mais importante que aconteceu em muito tempo? Na minha opinião, também sim.”
Os números confirmam esse entusiasmo:
- 1 em cada 2 dólares de investimento de risco hoje vai para startups de IA.
- Só no primeiro semestre de 2025, o financiamento em IA já superou todo o recorde de 2024.
- Startups chegam a captar com valuations que ultrapassam múltiplos de 100x, como no caso de empresas como Decagon e Chainguard.
No entanto, o outro lado da moeda é claro: o MIT divulgou que 95% dos projetos-piloto corporativos em IA fracassam em gerar retorno real.
Ou seja: há excesso de expectativas no curto prazo, mas isso não significa que a IA seja passageira. Pelo contrário. Assim como na bolha da internet, a bolha da IA é necessária — primeiro para separar quem cria valor de quem apenas surfa no hype, e segundo para pavimentar o terreno para uma adoção sustentável.
O que isso significa para as Cooperativas?
Para as cooperativas, que historicamente têm no capital humano e na confiança mútua os seus maiores ativos, a lição é clara: não basta correr atrás da IA apenas porque o mercado está empolgado. É preciso garantir uma adoção responsável, inclusiva e estratégica.
Isso passa por três movimentos fundamentais:
- Capacitar as pessoas
A tecnologia por si só não resolve problemas. Se 95% dos pilotos fracassam, é porque faltam competências humanas para interpretar dados, fazer as perguntas certas e tomar decisões. Cooperativas precisam investir em programas de requalificação que preparem associados e colaboradores para trabalhar lado a lado com IA.
- Manter o engajamento humano
A IA tende a reduzir o esforço cognitivo. Isso pode ser bom em algumas tarefas, mas perigoso quando leva à passividade. Cooperativas devem estimular o uso consciente da IA como copiloto, incentivando membros a manterem a reflexão crítica, a empatia e a criatividade que nenhuma máquina substitui.
- Definir a diferenciação humana
Se todos terão acesso às mesmas ferramentas de IA, a vantagem competitiva estará em como os valores, a cultura e a colaboração humana se combinam com a tecnologia. E nesse ponto, cooperativas têm uma vantagem natural: sabem que o valor está no coletivo, não apenas na eficiência.
Para não repetir os erros das redes sociais
As redes sociais foram adotadas durante um hype semelhante, mas só depois sentimos os efeitos negativos: polarização, vício, desinformação. As cooperativas, por sua natureza de buscar impacto social e equilíbrio entre resultado e comunidade, têm a chance de não repetir os mesmos erros.
Dessa vez, com a IA, precisamos garantir que a corrida por adoção não faça esquecer o essencial: usar mais o cérebro, mais o senso crítico e mais o nosso diferencial humano.
*Andrea Iorio, palestrante, escritor best-seller e especialista em Transformação Digital e Inovação

Coluna exclusiva publicada na edição 125 da Revista MundoCoop