Estimular a cultura empresarial ou organizacional das cooperativas é um dos primeiros passos para o sucesso dos negócios das cooperativas, pois influencia diretamente o engajamento dos cooperados e a capacidade de inovação da organização. Ela é o conjunto de crenças, normas, diretrizes, hábitos, que fortalece a prática e a vivência na tomada de decisões e resoluções de problemas.
Algumas de suas principais funções são o estímulo da criatividade e da comunicação ao fomentar um ambiente, que incentiva a participação de todos por meio de brainstorming, reuniões regulares e feedbacks constantes. Além disso, promove a diversidade, abraçando diferentes perspectivas e reconhecendo novas ideias e soluções.
“Uma cultura organizacional bem trabalhada e com constância, impacta diretamente a qualidade do ambiente de trabalho e produtividade nas cooperativas. Ela funciona como um guia de orientação dos comportamentos de todos os setores”, explica Anielly Sanches, especialista em comunicação corporativa, diretora de atendimento na Dora Press Comunicação.
Esse tipo de cultura tem como principais requisitos promover ambientes onde os colaboradores se sintam seguros para experimentarem novas abordagens, aprender com os erros, exercitar o respeito mútuo e a exposições a opiniões diferentes.
Existem várias pesquisas que apontam a importância de se investir em uma cultura empresarial, afinal ela é um fator determinante na maneira com que a organização é vista externamente.
Uma delas foi feita pela Gallup com várias empresas e apontou na prioridade da cultura um aumento significativo de 33% em suas receitas.
“Ela vai além dos muros da empresa, impacta diretamente o clima interno da cooperativa, no engajamento e nos resultados, cria multiplicadores de mensagens e se propaga de forma orgânica, melhorando a percepção do negócio junto aos clientes, fornecedores, parceiros e sociedade”, exemplifica Sanches.
A PwC entrevistou 3.200 lideranças e profissionais em todo o mundo na Pesquisa Global de Cultura Organizacional 2021 e constatou que 72% dos participantes relataram na cultura o auxílio em iniciativas de mudanças bem-sucedidas. Já 69% das organizações disseram que ela oferece vantagens competitivas. A maioria, 67% consideram a cultura mais importante do que a estratégia e as operações.
Bhushan Sethi, Líder Global Adjunto de Pessoas e Organização na PwC, lembrou que a cultura empresarial é um fator de diferenciação dentro das empresas e cooperativas, por manter o senso de comunidade, responder às necessidades dos clientes e entregar melhores resultados.
“A cultura empresarial transforma a cooperativa em uma comunidade ativa e engajada, onde todos trabalham alinhados em prol de objetivos comuns, contribuindo para o seu crescimento e a sustentabilidade”, conta Luiz Henrique Alves, especialista em gestão de cultura organizacional.
Luiz, que tem experiência no desenvolvimento de ambientes de trabalho mais colaborativos e inovadores, conta que considera fundamental a implementação de uma cultura empresarial para o progresso das organizações.
“Nas cooperativas, a cultura empresarial é crucial porque promove um senso de pertencimento e compromisso entre os cooperados. Ela ajuda a destacar a organização no mercado, atraindo cooperados, associados e clientes que se identificam com os seus valores e propósito, além de despertar um ambiente saudável, produtivo e inovador”, exemplifica Alves.
Os tipos de culturas
Existem vários tipos de culturas empresariais, como a Cultura de Poder, que foca na autoridade centralizada e no controle, estruturada em torno de funções específicas e burocrática. Já a Cultura de Tarefas está centrada em projetos e tarefas específicas, valorizando habilidades e por fim, a Cultura de Pessoas, que prioriza os indivíduos e suas contribuições pessoais.
O especialista em comportamento e gestão organizacional, Charles Handy explica, que esse último tipo de cultura tem como centro os relacionamentos interpessoais e a cooperação. Por isso são mais direcionadas às organizações que desejam dar espaço às posturas inventivas e criativas. Esse modelo desenvolve ambientes de trabalho mais flexíveis, descontraídos, com comunicação interna aberta, estímulo à expressão individual, apoio ao trabalho em equipe e constantes aprendizados.
“Para as cooperativas, a cultura mais indicada é a de Pessoas, já que o modelo coloca em primeiro plano a colaboração, a participação e a comunicação. Uma boa Cultura de Pessoas precisa ter transparência e respeito a valorização das diferenças”, indica Luiz Henrique.
As organizações que desejam transformar as suas culturas organizacionais devem fazer um diagnóstico geral, avaliando a atual e identificando as áreas de melhoria.
Outros pontos importantes nesse processo são o engajamento das lideranças na condução das mudanças, desenvolvimento da educação, a confecção de treinos frequentes e a divulgação de seus benefícios a todos os envolvidos.
Cultura organizacional contra a liderança tóxica
Um dos aspectos mais interessantes de uma cultura empresarial bem estruturada é o seu poder de combate às lideranças tóxicas, que prejudicam a produtividade nas cooperativas.
A pesquisa “Liderança Tóxica e os Impactos na Cultura Organizacional, Clima e Carreira Profissional”, conduzida pelo Telenses Group com 560 profissionais de diferentes níveis hierárquicos, apontou que 87% dos participantes admitiram ter enfrentado uma liderança tóxica em algum momento de suas carreiras, e 62% já pediram demissão por causa dela.
Patrícia Ansarah, psicóloga organizacional e CEO do instituto Internacional de Segurança Psicológica (IISP), explica que esses números são apenas uma amostra de um cenário mais amplo, onde esse tipo de liderança dissemina medo entre os colaboradores e sufoca o espírito de colaboração essencial ao trabalho em conjunto.
“Trata-se de uma violência silenciosa que, se não enfrentada, normatiza comportamentos abusivos e os incorpora à cultura organizacional”, diz Ansarah.
Para promover a segurança psicológica, Patrícia destaca como fundamental colocar algumas ações práticas, que podem transformar a cultura organizacional, como por exemplo aceitar a própria vulnerabilidade, ter autoconsciência de suas limitações e estar disposto a aprender com os erros.
“É importante promover a cultura de aprendizado e de melhoria dentro da organização, encorajando a experimentação; valorizando a autenticidade e acreditar em uma abordagem de liderança mais humana e imperfeita. Isso garantirá o sucesso e a sustentabilidade do negócio e das pessoas”, destaca a CEO do Instituto Internacional de Segurança Psicológica (IISP).
O papel do RH e os desafios
Toda organização que deseja investir em sua cultura empresarial precisa contar com o apoio do RH, ele é uma peça-chave dentro desse trabalho. Seu envolvimento é uma das formas de garantir a presença das lideranças no processo, ampliando a percepção positiva dos colaboradores.
“A base e os pilares da cultura organizacional devem estar já no descritivo da vaga, afinal, esse alinhamento atingirá candidatos que tenham mais sinergia com o perfil da cooperativa”, indica a psicóloga.
Os desafios da manutenção da cultura empresarial envolvem várias ações, que vão desde o investimento em ações, ajustes de indicadores para lidar com as divergências entre a proposta e a prática e as revisões anuais.
“Investir em comunicação interna, planejamento estratégico anual, e fazer o alinhado com o propósito do negócio é fundamental. É a comunicação interna que vai criar e ampliar diálogos entre os líderes e os liderados. Ela também estabelecerá ferramentas que serão utilizadas na disseminação da cultura organizacional, facilitando sua compreensão”, ensina Anielly.
Cooperativas investem em culturas
Muitas cooperativas têm investido em suas culturas empresariais, não só para marcar as suas identidades, mas moldar, por meio de ritos e normas, os seus ambientes de trabalho. Uma delas, a Coop acredita que a cultura empresarial estimula a criatividade, a comunicação, oferece espaços de trocas, exposições de ideias e amplia a visão de negócio das pessoas.
“Uma boa cultura precisa oferecer aos cooperados e clientes valores claros, transparência na comunicação, um ambiente acolhedor, inclusivo, diverso, espaços para feedbacks entre os colaboradores, além de oportunidade de crescimento para as pessoas e as comunidades”, diz Tatiane Silva Fonseca, analista de Pessoas e Cultura da Coop.
Para estimular a construção de uma cultura de sucesso, a cooperativa tem promovido reuniões e programas que valorizam essas conexões, como é o caso da “Bora Vender” e a “Jornada Vem e Vive”. Os eventos levam os times de apoio para vivenciarem as operações, os Cafés das Áreas e as práticas de feedbacks.
Tatiane, conta que para os cooperados e os colaboradores são oferecidos canais de escuta presenciais e online, em que se aprimora a criatividade, a comunicação e um ambiente mais colaborativo.
Embora a competitividade faça parte da sua rotina da Coop, uma organização varejista, a filosofia da cooperativa é manter o cliente no centro da atenção, priorizando a sua jornada de experiências.
“Temos uma cultura inclusiva e acolhedora, que cria uma atração aos novos cooperados, além de fortalecer a construção de relacionamentos mais sólidos, baseados em valores e princípios em comuns”, exemplifica Fonseca.
A analista explica que a cultura organizacional determina o que é importante de fato, é inegociável para a empresa, estabelece o tom e a direção das mensagens diretas e indiretas. Por esses motivos, ela precisa estar presente em toda a jornada do colaborador, desde o fit cultural no processo de atração, no onboarding, no seu desenvolvimento e performance dentro da organização.
Silva acredita que para se desenvolver uma cultura forte e saudável é fundamental ter uma direção clara, compartilhada incansavelmente e monitorada com ações efetivas e constantes. Outro ponto essencial nesse processo é concentrar esforços nas lideranças para que sejam os embaixadores desta cultura, engajar as pessoas e se tornar exemplos dela.
“Quando temos cooperados mais engajados, aumentamos nossa atratividade e competitividade, promovendo um negócio muito mais sustentável. O cooperado é o “dono” é também o nosso cliente. Valorizamos a colaboração e a confiança em nossos colaboradores, pois são eles que promovem a conexão entre a marca, os cooperados e clientes”, finaliza Fonseca.
3 passos para implantar a criatividade e melhorar a comunicação nas cooperativas
- Criar Espaços para a Inovação, como laboratórios de ideias ou encontros de inovação.
- Desenvolver Programas de Incentivo para novas ideias e soluções.
- Implementar Ferramentas de Comunicação, que facilitem a troca de informações e a colaboração.
Fonte: Luiz Henrique Alves, especialista em gestão de cultura organizacional
4 dicas para não prejudicar a cultura empresarial
Para não prejudicar a cultura empresarial, Luiz Henrique Alves, especialista em gestão de cultura organizacional dá quatro dicas essenciais:
- Evitar a autocracia, favorecendo decisões centralizadas pode minar a colaboração.
- Manter a coerência nas ações e comportamentos, eles devem estar alinhados com os valores e missão da cooperativa.
- Investir em Comunicação para evitar as falhas na comunicação que possam gerar mal-entendidos ou falta de alinhamento.
- Priorizar a inclusão para garantir que todas as vozes sejam ouvidas e valorizadas.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop