Apesar de possuir alguns desafios econômicos, o Brasil despontou na última década como uma potência no empreendedorismo. Mesmo com a pandemia afetando diretamente os pequenos e médios negócios, o país manteve-se como um dos cinco maiores empreendedores do mundo, com números que impressionam.
Segundo dados da pesquisa Monitor Global de Empreendedorismo 2023 (Global Entrepreneurship Monitor – GEM), realizada pelo Sebrae em parceria com a Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe), o país hoje possui um total de 90 milhões de empreendedores ou candidatos a empreendedores no país.
Dentre esses, 48 milhões na faixa dos 18 aos 64 anos, já possuíam um negócio; e outros 48 milhões gostariam de abrir o próprio empreendimento nos próximos três anos. Além disso, o recente relatório da GEM indica que Brasil ocupa a 2ª maior estimativa de empreendedores em potencial, perdendo apenas para a Índia, que possui 106 milhões de empreendedores potenciais, em universo de 1,4 bilhão de habitantes.
“Os pequenos negócios são fundamentais para a economia de qualquer país, independente da perspectiva em análise, pois além de contribuírem para a geração de emprego e renda de forma geral, possuem um forte vínculo com as comunidades onde atuam”, destaca Marcelo Bueno de Morais, Superintendente de Produtos e Serviços da Central Ailos. Segundo ele, hoje 70% dos cooperados PJ são de pequenos negócios.
Protagonistas de uma revolução no modo de se relacionar com as finanças, as cooperativas têm se firmado como grandes parceiras e impulsionadoras desse potencial empreendedor que o país possui. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a atuação dos pequenos negócios representa cerca de 95% de todas as empresas e respondem por 30% da formação do PIB; e essa realidade está no radar das cooperativas.
Tal interesse vai além da criação de linhas de crédito e condições especiais para cada tipo de empreendedor. Como Morais destaca, a essência do empreendedorismo vai de encontro com a do cooperativismo. “Como os pequenos negócios, as cooperativas também possuem uma forte relação com as comunidades onde atuam, o que estabelece uma base firme para uma relação de parceria. Assim, as cooperativas de crédito atuam junto aos pequenos negócios, não apenas como provedoras de produtos e serviços financeiros em condições competitivas, mas também como promotoras de educação financeira para o desenvolvimento dos empreendedores, de modo a contribuir significativamente com o fortalecimento desses negócios”, acrescenta.
Através dos pequenos negócios, as cooperativas impactam comunidades inteiras. Desta forma, com a assistência aos micros e pequenos negócios, o setor tem a capacidade de abranger fornecedores e clientes desses negócios, além do público de pessoas físicas que com eles se relacionam, o que também contribui para o crescimento das cooperativas.
Linhas de crédito personalizadas
Ultrapassando a linha de uma essência que se encontra e resulta em um propósito compartilhado, as cooperativas de crédito nos últimos anos tem se voltado para o público empreendedor com um olhar especial. Foi a partir disso, que nasceram linhas de crédito personalizadas, que consideram a realidade de cada empreendedor, para entregar taxas mais competitivas e que se encaixam ao momento de cada negócio.
Para Morais, a multiplicação de linhas de crédito voltadas a essa parcela da população é mais um movimento que atesta o interesse das cooperativas em ver os brasileiros prosperarem. “Temos um compromisso inabalável em apoiar a saúde financeira e a sustentabilidade das empresas, oferecendo condições diferenciadas em nossos produtos e serviços para atender às necessidades específicas de cada negócio. Entendemos a importância de fornecer soluções financeiras flexíveis que possam impulsionar o desenvolvimento dos nossos cooperados, garantindo-lhes estabilidade e crescimento mesmo diante dos desafios econômicos atuais”, complementa.
Em 2024, o Sistema Ailos, em parceria com o BNDES Procapcred, passou a oferecer uma linha de crédito especial aos cooperados empreendedores e para pessoa física. Com um fundo de R$ 2 bilhões disponível para os sistemas cooperativos a partir de março, a novidade ampliou o alcance do programa, proporcionando mais possibilidades também para o público pessoa física.
No ano passado, a Cresol registrou um volume de R$ 1,9 bilhão de liberações em capital de giro. Tal categoria de crédito ajudou milhares de negócios a reorganizar o fluxo de caixa e a evitar a falta de recursos para a manutenção do negócio. Já o Sicredi, projetou aumentar sua base de associados pessoas jurídicas (PJ) em 17% no ano passado. Dos mais de 1 milhão de associados PJ, 74% eram de micro e pequenas empresas; 22% microempreendedores individuais (MEI) e 4% médias e grandes.
“Fortalecer os pequenos negócios implica em fortalecer as comunidades onde atuam, pois os frutos desse desenvolvimento são colhidos primeiramente dentro da própria comunidade” – Marcelo Bueno de Morais, Superintendente de Produtos e Serviços da Central Ailos
Os pequenos negócios carregam consigo as características da região onde estão localizados. Através das linhas de crédito, as cooperativas atuam diretamente conectadas com seus princípios, sendo verdadeiras catalisadoras do desenvolvimento destas comunidades.
“Os pequenos negócios não são apenas engrenagens na economia local, como também pilares do desenvolvimento das comunidades. Muitas vezes, são frutos do empenho e da paixão de pessoas locais, carregando consigo as histórias, tradições e costumes da comunidade. São lugares que guardam histórias e lembranças, contribuindo para o sentimento de pertencimento e de orgulho pela comunidade”, comenta Morais, destacando que entender esse contexto é de suma importância para que as cooperativas saibam preparar seus colaboradores para que estes apoiem o empreendedor que busca a cooperativa como fonte para viabilizar um sonho. “Fortalecer os pequenos negócios implica em fortalecer as comunidades onde atuam, pois os frutos desse desenvolvimento são colhidos primeiramente dentro da própria comunidade, principalmente por meio da geração de emprego e renda”, conclui.
Certamente, as contribuições das cooperativas para com os micros, pequenos e médios empreendedores são peça fundamental de uma roda que vem girando a plenos pulmões há pelo menos uma década. Em um momento em que o mercado tenta compreender dilemas gerados pela inteligência artificial, novos sistemas e outras tendências que rapidamente foram adotadas de forma massiva, ter as cooperativas como apoiadoras de um pequeno negócio é a certeza de um legado sendo construído a partir de muita identidade e paixão pelo ato de empreender. Mesmo com desafios, garantir que o empreendedor tenha sempre a cooperativa ao seu lado, deve ser uma prioridade na busca por cooperados e comunidades mais fortes.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop
Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop, edição 117
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