Após quase dois anos de pandemia, não restam dúvidas sobre o desafiador cenário que as cooperativas enfrentaram neste período. Com uma mudança repentina, foi preciso repensar processos, práticas e ainda, criar soluções para que o cooperado não saísse prejudicado diante da crise que se alastrou pelo Brasil e pelo mundo.
Agora, caminhando para 2022, temos a certeza de que as cooperativas foram grandes exemplos de resiliência, continuando seus trabalhos mesmo quando a incerteza tomou conta de todos. Tal força, está evidenciada em recentes rankings e estudos, que identificaram um aumento de participação das cooperativas no último ano.
O segredo do sucesso
Muitos fatores podem ter sido os motivos para que o cooperativismo continuasse a crescer em 2021. Afinal, o que motivou um setor dessa magnitude a continuar forte, enquanto grandes empresas fechavam as portas? Para Lúcio Faria, especialista em cooperativismo, o segredo está nos valores do movimento.
“Não podemos jamais nos esquecer das características intrínsecas: os princípios cooperativistas e a especificidade da reciclagem da poupança local: aplicação, na própria localidade, via operações de crédito, dos recursos ali captados, contribuindo para o desenvolvimento regional. Em relação ao perfil operacional, podemos destacar a presença em todo o território nacional, o aumento de cooperados e de unidades de atendimento. O cooperativismo manteve-se presente ou instalou-se em municípios onde os bancos fecharam agências”, destaca – ressaltando em especial, o movimento visto nas cooperativas de crédito.
Apoio externo
Além de suas características únicas, o cooperativismo em 2021 contou com um forte apoio do mercado e da mídia, ajudando a disseminar as práticas do movimento, e colocando-o como uma solução em meio à crise. Não apenas as cooperativas estiveram presentes em veículos digitais, impressos e audiovisuais, como também foram constantemente lembradas em rankings, estudos e outros, como nos recentemente divulgados, Valor 1000, do jornal Valor Econômico; Melhores e Maiores 2021, da Exame e Anuário Época Negócios 360º, da revista Época.
“Várias publicações, inclusive da grande mídia, tem dado destaque ao crescimento do cooperativismo financeiro e o Banco Central tem dado ênfase ao crescimento do cooperativismo em suas publicações. Porém, é muito difícil que esse reconhecimento, por si só, alcance número significativo de pessoas não conectadas ao cooperativismo”, afirma Lucio.
Crescimento em evidência
A força das cooperativas diante da crise não foi vista apenas pelos próprios cooperados, e ficou marcada pela presença massiva do movimento em rankings que mediram o desempenho do mercado em 2020/2021.
Cada vez mais presentes no mercado, as cooperativas figuraram entre grandes empresas, ocupando posições de destaque nos já mencionados, rankings do Valor Econômico, Exame e Época. No primeiro, 41 cooperativas encontraram espaço entre as 1000 maiores empresas do ano, com destaque para as cooperativas agro, que ocuparam três lugares no Top 10: Coamo (5ª posição), Lar (7ª posição) e C.Vale (9ª posição.
Para Emanuel Malta, economista e sócio fundador da Vértice Consultores, tais estudos são importantes ferramentas para o desenvolvimento das cooperativas, uma vez que ajudam na definição de estratégias e traçam um panorama analítico do mercado. “Os rankings são excelentes “velocímetros”, que nos auxiliam na comparação de desempenhos de diferentes organizações, governos, países, etc., tudo de acordo com a mesma “escala”. Dessa forma, auxiliam os líderes na identificação dos aspectos nos quais estão indo bem e em quais precisam acelerar”, afirma.
Benefícios para o sistema
Mais do que um reconhecimento, os resultados identificados nos recentes estudos do mercado, funcionam como uma grande prova da força do cooperativismo. Desconhecido por muitos e até visto com desconfiança por alguns, ao evidenciar os resultados do setor, a capacidade de captar cooperados apenas cresce, criando no fim um resultado extremamente positivo.
“Além da melhoria da imagem do Sistema, esses resultados demonstram inequivocamente que o cooperativismo tem avançado na adoção das melhores práticas de gestão, governança, inovação e outros aspectos voltados à melhoria do desempenho das organizações, independentemente do regime societário, sem perder de vista os princípios e valores que são a sua marca”, ressalta Malta.
Ligado às tendências
Para que haja uma análise fidedigna do que acontece no mercado, atentar-se aos temas da atualidade tem sido de vital importância para medir o impacto e a expansão das cooperativas. E dentro os temas que mais estiveram em evidência no último ano, está o ESG.
Mesmo antes da pandemia, a sustentabilidade já vinha numa crescente dentro de empresas, corporações e cooperativas. Hoje, o tema é indispensável nas organizações, junto com as práticas sociais e de governança, que foram fundamentais para a blindagem do setor diante da pandemia.
A importância do ESG também está em evidência em estudos recentes, sendo um tema usado como parâmetro para medir as melhores empresas do mercado. Este é o caso do ranking Melhores e Maiores 2021, da revista Exame; que coloca entre seus medidores, o uso das práticas ESG. Neste quesito, o cooperativismo se destacou com a Cooperativa Cooxupé, que recebeu a nota 10 nas métricas relacionadas a práticas ambientais, sociais e de governança.
Em entrevista divulgada na época do anúncio, o presidente da cooperativa, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, destacou a missão diante da agenda sustentável, e salientou a importância de inserir a sigla nas cooperativas. “Entendemos a relevância do ESG e reforçamos aos nossos cooperados de que este tripé já vem sendo cumprido na Cooxupé, analisando parâmetros e ações da cooperativa, de modo que a Cooxupé permaneça cada vez mais saudável e competitiva frente aos desafios e dinamismo do mercado. Isto nos traz solidez, com credibilidade reconhecida, pois somos uma cooperativa que cumpre seriamente os fatores de sustentabilidade ambiental, social e econômica”, afirmou.
Números do progresso – e o que vem a seguir
Apesar de o principal dado evidenciado nos rankings se tratar de resultados operacionais, lucros e receitas; para o cooperativismo, há números tão importantes quanto. Afinal, a missão principal do movimento é impactar pessoas, mudar vidas e transformar a sociedade, da cidade grande ao pequeno bairro no interior.
Segundo o Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2021, divulgado pelo Sistema OCB, em 2020 já eram mais de 17,2 milhões de cooperados ao redor do Brasil, um crescimento de 11% em relação ao ano anterior. São mais de 455 mil postos de trabalho somados pelo setor, com destaque para o estado do Paraná, com seus mais de 118 mil empregados.
Tais números, estão diretamente conectados com os resultados vistos nos rankings mencionados anteriormente. O cooperativismo cresce, à medida que as pessoas que fazem parte dele crescem e se desenvolvem. Foram elas que “colocaram a mão na massa” e fizeram a força que levou o movimento adiante, mesmo em um período de tantas perdas humanas.
O que vem a seguir? Podemos afirmar – com o máximo de certeza – que dias melhores. Iniciamos em 2022 uma nova fase, com novas perspectivas e novos sonhos. E esse novo momento será feito por cada cooperado que ajuda o seu próximo, sua comunidade, sua cidade e seu país.
Rankings mostram números que chamam a atenção e saltam aos olhos. Mas devemos lembrar que por trás deles, estão quase 18 milhões de cooperados que representam a resiliência que precisamos para a próxima década. É desta forma, que cooperativismo seguirá crescendo. Muito além dos números.
Por Leonardo César – Matéria publicada na Revista MundoCoop, edição 103
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