Quando se pensa em dinâmica e evolução do cooperativismo brasileiro, um dos exemplos mais promissores desse processo é o de Rondônia, um estado que se destaca por ter a maior presença de cooperativas de crédito.
A região se desenvolveu em termos de rendas, sustentabilidade e criação de empregos graças à presença dessas organizações, atualmente representadas por 74 cooperativas registradas no Sistema OCB/RO e os seus mais de 400 mil cooperados.
O cooperativismo em Rondônia está em franca expansão, e as perspectivas são de um crescimento significativo em seus números e capacidade de mudanças. Com o avanço tecnológico e a digitalização, elas têm potencial para inovar ainda mais nos seus modelos de gestão e ampliar seus alcances. Nos próximos anos, a tendência é que o estado aumente a adoção de práticas sustentáveis, e conquiste novos mercados, tanto no Brasil quanto no exterior. Esse movimento já vem causando impactos significativos na economia estadual, gerando 5 mil empregos diretos e outros 15 mil indiretos, se tornando uma força transformadora para milhares de famílias e comunidades.
As cooperativas não apenas oferecem soluções econômicas inovadoras, mas também fortalecem a cidadania e promovem o desenvolvimento sustentável. Elas são modelos econômicos que unem eficiência com impacto social, oferecendo soluções para os desafios da modernidade. Portanto, o estado pode aproveitar ainda mais esse potencial ao incentivar a criação de novas unidades, investir na educação cooperativista e facilitar o acesso a linhas de crédito e mercados.
Salatiel Rodrigues, presidente do Sistema OCB/RO, que ao longo dos anos adquiriu conhecimento sobre o movimento é testemunha de como ele pode transformar vidas, comunidades e a economia local. Ele conta que ao longo dessas quatro décadas, o Sistema OCB/RO modernizou processos, implementou tecnologias e reforçou a capacitação de seus associados, contribuindo para que o movimento se tornasse o pilar da economia de Rondônia.
Ele explica que a filosofia do cooperativismo tem oferecido um empoderamento ao estado, com mais autonomia financeira, sustentabilidade e inclusão social. O sistema é um modelo que não visa apenas o lucro, mas também o fortalecimento de comunidades e o bem-estar coletivo.
“As cooperativas de Rondônia têm ajudado no setor agropecuário, fortalecendo pequenos produtores, oferecendo suporte técnico e comercialização conjunta. No crédito, elas tornam o acesso aos financiamentos mais inclusivos, ajudando empreendedores locais. Tudo isso cria um impacto positivo, que vai muito além da economia, transformando realidades e o tecido social do estado”, conta Rodrigues.
Apesar das expectativas positivas, o movimento enfrenta desafios como a necessidade de modernização constante, a qualificação de gestores e cooperados, e a busca por uma maior diversificação de mercados. Além disso, as barreiras regulatórias têm dificultado o crescimento das organizações. Por esse motivo, a OCB/RO tem apoiado as organizações, em projetos como o RondoCoop Agro, que tem gerado frutos.
“Para aumentar as oportunidades, precisamos de políticas públicas que incentivem o setor, capacitando os gestores, cooperados, e ampliando programas que conectem as cooperativas a mercados nacionais e internacionais”, indica Salatiel.
Primeira cooperativa rural de Rondônia
A Sicoob Credip é a primeira cooperativa de crédito rural a ser fundada em Rondônia, em 1996. Ela atua em 20 municípios na região centro-sul de Rondônia, dois no sul do Amazonas e 14 em área contígua no noroeste do Mato Grosso. A organização possui 150 mil cooperados e nasceu da necessidade de atendimento bancário e da preocupação com os preços e tarifas.
“No início a grande contribuição da cooperativa em Rondônia era levar o acesso, a inclusão financeira, a oportunidade para pequenas comunidades se desenvolverem. Com o passar do tempo, ela se tornou uma importante balizadora de preços e de concorrência”, lembra Oberdan Pandolfi Ermita, economista e Presidente do Conselho Administração Sicoob Credip.
Atualmente a organização é a maior do estado de Rondônia em número de associados, atendendo 56% dos produtores rurais e 33% dos micros e pequenos empreendedores. Ao todo 20% da população está ligada ao Sicoob Credip, que tem uma participação de mercado em torno de ⅓ do crédito e dos depósitos.
“O cooperativismo está comprometido com a cidadania financeira, que deve ser entendida em um sentido amplo, não apenas o de acesso a condições justas e adequadas, mas também orientando os cooperados a fazerem o bom uso do sistema financeiro”, exemplifica Oberdan.
Em 2024 a organização atendeu mais de 20 mil pessoas em programas de educação financeira, beneficiou 63 entidades com quase R$3 milhões e realizou investimentos adicionais de mais de R$2 milhões em desenvolvimento de ações nas comunidades. Segundo a metodologia da FIPE estima-se que a sua presença contribui com 15,6% no incremento de empresas, 15,1% de geração de empregos e 10% do PIB.
“A presença da cooperativa no estado faz um contraponto, quebra o ciclo vicioso de concentração de riqueza. Primeiro transfere recursos e eficiência econômica para a sociedade. Segundo ao administrar a riqueza local, direcionando valores ao empreendedorismo regional. Isso gera um ciclo positivo de geração de negócios, mais emprego, arrecadação e a capacidade do governo investir nos serviços públicos”, conta Ermita.
A organização tem apoiado inúmeras iniciativas dessa cadeia, amplificando as iniciativas do estado nos seus concursos de qualidade, na extensão rural, destinando recursos para os produtores organizados, na divulgação da cafeicultura, bem como atuando diretamente na oferta de crédito para o seu crescimento e atualização.
“Isso colabora com nosso entendimento de cidadania financeira, quando o acesso aos serviços financeiros se dá de forma qualificada, permitindo gerar prosperidade. Outra frente de oportunidades e ao mesmo tempo compromisso do ramo crédito tem relação com a intercooperação. Ramos como saúde, produção e educação precisam avançar para que o estado encontre pilares sólidos para o seu desenvolvimento”, lembra o Presidente do Conselho Administração Sicoob Credip.
Impactos na saúde
A presença das cooperativas em Rondônia repercutiu diariamente em setor essenciais, como o da saúde. Uma das organizações que contribuíram com essa mudança foi a Unimed Centro Rondônia, que nasceu em 1995, inicialmente com o nome Unimed Ji-Paraná. Ela surgiu com a participação de 52 médicos, que apostaram no modelo cooperativista como uma forma de oferecer saúde de qualidade e acessível à população.
“O cooperativismo é uma ferramenta transformadora, que conecta as pessoas, potencializa o impacto econômico e social e promove um crescimento equilibrado e sustentável”, lembra Alcilio José de Souza Filho, Diretor Presidente da Unimed Centro Rondônia.
Hoje, a cooperativa conta com mais de 260 cooperados, atuando em 41 municípios da região central do estado, empregando diretamente centenas de pessoas e contribuindo para o fortalecimento da área.
“Nosso impacto na economia local é significativo, tanto pela geração de empregos quanto pelo acesso a serviços médicos de excelência. O cooperativismo, em Rondônia, é um pilar fundamental para o avanço sustentável, especialmente na saúde, agronegócio e crédito”, diz Souza Filho.
Ele ressalta que o cooperativismo em Rondônia enfrenta desafios importantes, como a capacitação contínua de seus membros, a necessidade de maior integração entre as cooperativas e a superação de barreiras burocráticas. Além disso, a conscientização da sociedade sobre o papel e os benefícios do cooperativismo ainda é algo a ser trabalhado.
“O cooperativismo tem como base a união de forças e o trabalho coletivo, características muito alinhadas com o perfil de Rondônia, um estado com grande diversidade cultural e econômica. Em saúde, a organização oferece aos médicos a possibilidade de trabalhar com mais autonomia, enquanto proporciona à comunidade acesso aos serviços. No agronegócio, ele permite que pequenos produtores tenham força para competir em mercados maiores”, exemplifica Alcilio.
Para o futuro, as expectativas são boas, a ideia é continuar fortalecendo esse modelo econômico, mostrando para a sociedade que ele é uma solução eficiente, e o mais adequado aos desafios enfrentados pelo estado. Um dos projetos é o planejamento estratégico da construção de um hospital de alta complexidade em Ji-Paraná.
“Rondônia tem um potencial enorme para aproveitar os benefícios do cooperativismo, seja na saúde, no agronegócio ou no crédito. O estado pode investir mais no desenvolvimento de políticas de incentivo, fomentar parcerias público-privadas e criar ambientes favoráveis para o crescimento das organizações”, finaliza Alcilio.
Por Priscila de Paula – Redação MundoCoop